Festival Meo Kalorama 2024
01 setembro 2024 às 01h16
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Simples e bom. Os dEUS têm gozo naquilo que fazem

No terceiro e último dia de festival Meo Kalorama, os belgas dEUS voltaram a tocar em Portugal. Uma hora de concerto que soube a pouco.

Uma das melhores sensações que uma banda pode proporcionar ao público numa atuação ao vivo - para além da inerência de músicas bem tocadas - é mostrar do gozo que têm naquilo que fazem. Faz toda a diferença uma banda que tenha esse prazer do que outras que embora extramente profissionais passam pelos palcos sem mostrar qualquer prazer no que fazem. Os dEUS fazem parte das bandas que se divertem em palco quase tanto como o público que os vê. Ora foi isso que aconteceu no concerto desta noite de sábado no Meo Kalorama. Um regresso aos palcos nacionais depois de terem estado no Coliseu de Lisboa em abril do ano passado. 

No terceiro e último dia do festival Meo Kalorama de 2024 o cartaz foi, em géneros musicais, distinto dos dois primeiros dias. “Um dia diferente dos outros para experimentar novos públicos”, já havia confirmado Diogo Marques, diretor da Last Tour, a organizadora do festival, em entrevista ao DN no início do agosto.

Neste dia o palco Meo, o principal do festival,  recebeu Cláudia Pascoal, Ana Moura, Raye e Burna Boy. Já o palco San Miguel, entre outros a brasileira Luiza Lian, e pela madrugada os Soulwax. E onde, entre este mix de estilos, os dEUS tocaram às  20:55. 

Naturais de Antuérpia, os dEUS são velhos conhecidos dos portugueses e, pode-se escrever, têm uma relação especial com o país. Aliás, o vocalista Tom Barman divide o seu tempo entre a cidade-natal e a sua casa em Portugal. 

O teclista e violinista Klaas Janzoons, um dos membros fundadores dos dEUS.
Carlos Pimentel

Logo no início do concerto, os dEUS mostraram para o que vieram: rock alternativo puro. Bem tocado e cantado com alma. Em palco os cinco músico apenas com o nome da banda escrito sobre um fundo negro e um bom jogo de luzes. Sem mais adereços ou pirotécnias que distraíssem o público daquilo que a banda foi fazer ao Kalorama.

E ao invés de terem mimetizado o que fizeram na visita a Lisboa no ano passado, em que, com mais tempo de duração de concerto, apresentaram mais temas do mais recente trabalho, How to Replace It, no Kalorama  preferiram "viajar" por alguns dos seus sucessos.  E assim evisitar músicas dos diferentes trabalhos já publicados - oito álbuns no total. 

Contudo, foi mesmo com a primeira música deste novo álbum, também intitulada How To Replace It que iniciaram o concerto. Recorde-se que entre o novo trabalho e o anterior, os dEUS estiveram 10 anos sem gravar originais. 

O guitarrista dos dEUS, Mauro Pawlowski, que também canta em algumas músicas,
Carlos Pimentel

A segunda música, Quatre Mains, em francês, do álbum Following Sea, começou logo depois de Tom Barman ter dito em português perfeito: "Boa noite!"

De referir que dos elementos em palco, apenas Tom Barman e o teclista/violinista Klaas Janzoons estão desde a fundação da banda, em 1991. E sem pausas supérfluas tocaram The Architect, uma das canções que mais agradou a quem estava a assistir.

Vestido com uma calças laranja bem berrantes, Barman introduziu a música W.C.S. First Draft , do primeiro álbum  Worst Case Scenario relembrando que no próximo ano comemora-se o jubileu de lançamento desse trabalho.

De poucas palavras, mas quase sempre em português, Tom indicou que só tinham uma hora para tocar e por isso não havia tempo a perder. E não perderam. Seguiram-se mais temas para a "slot" daquela hora de rock no Kalorama. Destacando-se Fell off the floor, man, com as guitarradas sem conceções e Sun Ra, com Tom Barman a avisar, resignado, o final do concerto: “Vamos ter de terminar, pronto! Obrigado Portugal!” 

Tom Barman, vocalista, guitarrista e percussionista dos dEUS.
Foto: Carlos Pimentel

Ainda houve tempo para Hotellounge ( Be the Death of Me), do primeiro álbum, com Tom a puxar pelo guitarrista  Mauro Pawlowski. E despediram-se com Bad Timing do quarto álbum  de originais, Pocket Revolution , de 2005. No final os cinco elementos despediram-se do público com Tom a dizer, mais uma vez em português quase perfeito:  “Muito obrigado Lisboa, até logo! 

Algum público ficou à espera de mais música, de um encore pelo menos, mas Tom Barman já tinha avisado o tempo que tinham e não houve mais música dos dEUS.

Eventualmente com o jubileu de Worst Case Scenario poderá ser possível voltar assistir a um concerto dos dEUS em Portugal em breve. O gozo perceptível com tocam o seu rock alternativo ao vivo faz-nos ter fé.