Parlamento europeu
18 julho 2024 às 08h41
Atualizado em 18 julho 2024 às 11h38
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Von der Leyen promete não aceitar "polarização extrema" e destruição da UE por "extremistas"

Perante os eurodeputados, Ursula von der Leyen apresenta o seu programa e propostas para uma eventual reeleição, visando um novo mandato de cinco anos à frente da Comissão Europeia.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que tenta esta quinta-feira ser reeleita pelo Parlamento Europeu, prometeu aos eurodeputados não aceitar a "polarização extrema das sociedades" europeias e que "demagogos e extremistas destruam" a União Europeia (UE).

"Estou convencida de que a versão da Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com todas as suas imperfeições e desigualdades, continua a ser a melhor versão da história. Nunca ficarei a assistir ao seu desmembramento por dentro ou por fora, nunca permitirei que a polarização extrema das nossas sociedades seja aceite, nunca aceitarei que os demagogos e os extremistas destruam o nosso modo de vida europeu e, estou aqui hoje, pronta para liderar a luta com todas as forças democráticas desta casa [assembleia europeia]", afirmou Ursula von der Leyen.

Intervindo perante os eurodeputados na sessão plenária, na cidade francesa de Estrasburgo, a líder do executivo comunitário, que tenta hoje ser reconduzida no cargo por mais cinco anos, indicou estar "profundamente preocupada" com a "clara tentativa de dividir e polarizar as sociedades", que causam "ansiedade e incerteza" aos cidadãos. 

"Europa não pode controlar os ditadores e os demagogos de todo o mundo, mas pode optar por proteger a sua própria democracia"

"Estou convencida de que a Europa, uma Europa forte, pode estar à altura do desafio, e é por isso que vos peço hoje a vossa confiança", considerou.

Neste discurso, Ursula von der Leyen falou numa altura de escolhas na UE, indicando que, "num mundo cheio de adversidades, o destino da Europa depende do que for feito a seguir".

"A escolha resume-se a saber se nos deixaremos moldar pelos acontecimentos e pelo mundo que nos rodeia ou se nos uniremos e construiremos o nosso futuro por nós próprios e essa escolha é nossa", vincou.

E elencou: "A Europa não pode controlar os ditadores e os demagogos de todo o mundo, mas pode optar por proteger a sua própria democracia. A Europa não pode determinar eleições em todo o mundo, mas pode optar por investir na segurança e na defesa deste continente. A Europa não pode travar a mudança, mas pode optar por abraçá-la e investir numa nova era de prosperidade e de melhoria da nossa qualidade de vida".

Irá nomear 'vice' para competividade e prosperidade com base 'verde'

Ursula Von der Leyen anunciou que se for eleita, nomeará um vice-presidente para coordenar a competitividade e prosperidade, assente em menos burocracia e num novo pacto industrial e 'verde'.

A alemã defendeu uma Europa que apoie as empresas, mas também as pessoas, acrescentando a necessidade de "aprofundar o mercado" e "reduzir a burocracia" para que haja "mais confiança, melhor execução". 

Destacando a aposta que deve ser feita nas empresas, Von der Leyen também sublinhou a importância da aposta já feita em tecnologia e energias limpas, como no hidrogénio limpo, com a Europa a investir mais do que "os EUA e a China em conjunto".

"Nos últimos anos, concluímos com parceiros mundiais 35 novos acordos sobre tecnologia limpa, hidrogénio e matérias-primas críticas", acrescentou a alemão, referindo que será para continuar o Pacto Ecológico Europeu e assim alcançar os objetivos traçados para 2030 e 2050.

"Apresentarei um novo pacto industrial limpo nos primeiros 100 dias do próximo mandato", anunciou ainda, notando que a Europa está a "descarbonizar e a industrializar-se ao mesmo tempo".

Assim, os investimentos terão sempre uma base verde porque a economia próspera que defende é também uma questão de "justiça intergeracional" dados os objetivos para mitigar as alterações climáticas.

Von der Leyen recordou que no primeiro semestre deste ano metade da produção de eletricidade teve origem em energias renováveis e os "investimentos em tecnologias limpas na Europa mais do que triplicaram neste mandato". 

O novo acordo industrial limpo também ajudará a reduzir as faturas de energia, indicou a responsável, recordando a "chantagem" do presidente russo, Vladimir Putin, ao cortar o "acesso aos combustíveis fósseis". "Mas resistimos juntos. Investimos maciçamente em energias renováveis baratas produzidas internamente. E isso permitiu-nos libertarmo-nos dos sujos combustíveis fósseis russos", concluiu.

Von der Leyen estabelece alargamento como "prioridade fundamental" para futura Comissão

A presidente da Comissão Europeia estabeleceu o alargamento da União Europeia (UE) como uma "prioridade fundamental" do seu mandato, caso consiga ser reeleita, vincando que "a História está novamente à porta".

"O alargamento da nossa União é do nosso interesse fundamental e será uma das principais prioridades da minha Comissão", declarou Ursula von der Leyen.

Neste discurso sobre as suas prioridades políticas do próximo mandato, antes do voto em plenário sobre a sua reeleição, Ursula von der Leyen apontou que "a História está novamente à porta".

"Os Balcãs Ocidentais, a Ucrânia, a Moldova e a Geórgia fizeram a sua escolha livre, escolheram a liberdade em vez da opressão, escolheram a democracia em vez da dependência, e alguns deles estão a pagar um preço elevado por essa escolha, por isso temos de fazer a nossa escolha e mostrar um compromisso firme [pois] o seu futuro será livre e próspero, dentro da nossa União", acrescentou.

O alargamento é o processo pelo qual os Estados aderem à UE, após preencherem requisitos ao nível político e económico.

Atualmente, são países candidatos à UE a Albânia, Bósnia-Herzegovina, Geórgia, Moldova, Montenegro, Macedónia do Norte, Sérvia, Turquia e a Ucrânia, sendo o Kosovo um potencial candidato.

A Ucrânia tem estatuto de país candidato à UE desde meados de 2022, meses depois do início da invasão russa.

"A nossa vizinhança é o lar do nosso futuro. Convidar países para a nossa União é uma responsabilidade moral, histórica e política e é uma enorme responsabilidade geoestratégica para a Europa porque, no mundo de hoje, uma União mais alargada será uma União mais forte, reforçará a nossa voz no mundo, ajudará a reduzir as nossas dependências e assegurará a disseminação da democracia, da prosperidade e da estabilidade em toda a Europa", elencou Ursula von der Leyen.

A responsável prometeu ainda "apoiar os candidatos, trabalhando no investimento e nas reformas e integrando-os, sempre que possível, nos nossos quadros jurídicos", garantindo que ainda assim "a adesão será sempre um processo baseado no mérito".

No seu discurso em relação ao setor da Defesa no espaço dos 27, a alemã garantiu que a "proteção da Europa é um dever da Europa", pelo que é altura de se "construir uma verdadeira União Europeia da Defesa".

"Sim, sei que há quem talvez se sinta desconfortável com a ideia. Mas o que nos deve incomodar são as ameaças à nossa segurança", assumiu Úrsula von der Leyen.

Perante despesas com a defesa "demasiado baixas e ineficazes" e "despesas externas demasiado elevadas", deve ser criado um mercado único da defesa, com maior investimento ou seja dar seguir o inscrito na Declaração de Versalhes.

"Temos de investir mais. Temos de investir em conjunto. E temos de criar projetos europeus comuns. Por exemplo, um sistema de defesa aérea abrangente - um Escudo Aéreo Europeu, não só para proteger o nosso espaço aéreo, mas também como um símbolo forte da unidade europeia em matéria de defesa", defendeu.

Após a candidata do Partido Popular Europeu se ter vindo a reunir nos últimos dias com as bancadas parlamentares (como Socialistas, Liberais, Verdes e Conservadores) para apelar ao aval destes parlamentares, Ursula von der Leyen apresenta hoje o seu programa e as suas propostas para uma eventual reeleição, visando um novo mandato de cinco anos.

Cabe ao Parlamento Europeu aprovar, após a proposta do Conselho Europeu feita no final de junho, o novo presidente da Comissão por maioria absoluta (metade de todos os eurodeputados mais um), com Ursula von der Leyen a ter de obter 'luz verde' de pelo menos 361 parlamentares (entre 720).

Enquanto primeira mulher na presidência da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen foi aprovada pelo Parlamento Europeu em julho de 2019 com 383 votos a favor, 327 contra e 22 abstenções, numa votação renhida.

Ursula von der Leyen é presidente da Comissão desde dezembro de 2019 e foi a candidata cabeça de lista do Partido Popular Europeu nas eleições europeias de 6 a 9 de junho.

Dadas as eleições europeias e as recentes alterações partidárias no Parlamento Europeu, o Partido Popular Europeu dispõe de mais lugares (188), seguido pelos Socialistas (136), pelo novo partido de extrema-direita Patriotas pela Europa (84), Conservadores e Reformistas (78) e Liberais (77), Verdes (53) e Esquerda (46), de acordo com a mais recente distribuição.