Europeias
22 maio 2024 às 22h29
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Escândalo da AfD pode mudar desenho europeu da extrema-direita

Maximilian Krah, cabeça-de-lista da AfD, saiu da campanha e demitiu-se do seu cargo no partido após dizer que os membros das SS não são “automaticamente criminosos”.

O cabeça-de-lista da Alternativa para a Alemanha (AfD) anunciou o seu afastamento da campanha para as europeias, mas também a demissão da comissão executiva federal do partido de extrema-direita, na sequência da polémica que causou ao afirmar que os membros do grupo paramilitar nazi SS não são “automaticamente criminosos”. “É preciso avaliar a culpa caso a caso. No final da guerra, havia quase um milhão de SS. Até Günter Grass foi membro das Waffen-SS”, afirmou Maximilian Krah aos media italianos no fim de semana. Marine Le Pen e outros líderes da extrema-direita europeia mostraram o seu repúdio a estas declarações e defenderam um corte com a AfD.

“Reconheço que as minhas declarações factuais e matizadas estão a ser mal utilizadas como pretexto para prejudicar o nosso partido”, escreveu ontem Krah na rede social X. “A última coisa de que precisamos neste momento é de um debate sobre mim. A AfD deve manter a sua unidade. Por esta razão, vou abster-me de mais aparições na campanha com efeito imediato e demitir-me como membro da Comissão Executiva Federal”, acrescentou.

Apesar de Krah se ter tornado num risco, a AfD não tem outra opção senão mantê-lo como cabeça de lista para as europeias, já que as regras proíbem quaisquer modificações após 18 de março - a única exceção seria uma condenação criminal com pena de prisão de pelo menos cinco anos. Krah pode, no entanto, decidir ele próprio não assumir o mandato após a eleição.

Eurodeputado desde 2019, Maximilian Krah não é um estreante no que diz respeito a polémicas. Ele e Petr Bystron, outro candidato da AfD às europeias, vieram recentemente a púbico negar as alegações de que aceitaram dinheiro para divulgar posições pró-Rússia num site de notícias financiado por Moscovo. Paralelamente, a justiça alemã lançou uma investigação preliminar contra Krah devido a relatos de pagamentos suspeitos recebidos da China e da Rússia.

Esta sucessão de escândalos tem causado danos nas intenções de voto da AfD - em dezembro, as sondagens davam ao partido de extrema-direita alemão 25%, altura em que estava a capitalizar o descontentamento com o aumento da imigração e uma economia fraca, mas desde então tem vindo a cair na sequência das polémicas, tendo atingindo os 15% numa sondagem feita na semana passada. 

Aproximação entre grupos

As más notícias para a AfD ganharam contornos europeus esta quarta-feira quando o Reagrupamento Nacional de Marine Le Pen anunciou que “terá novos aliados no final das eleições europeias, mas não se sentará mais ao lado da AfD”. “A AfD está a passar de provocação em provocação”, disse Le Pen à rádio Europe 1. “É hora de romper totalmente com este movimento, que não é administrado e que obviamente está sob a influência de grupos radicais internos”, acrescentou a francesa. Até agora, a AfD e o RN eram as duas principais forças do grupo Identidade e Democracia no Parlamento Europeu, atualmente com 58 eleitos. 

Outros representantes do ID  anunciaram também que iriam pôr fim à sua aliança com o partido alemão por causa dos comentários, como o Liga de Matteo Salvini ou o Partido Popular Dinamarquês. “Se a AfD não aproveitar a situação e se livrar de Krah, a posição do DF é que a AfD deve deixar o ID”, referiu Anders Vistisen, cabeça-de-lista dos dinamarqueses, antevendo a expulsão dos alemães.  

Mas, no que diz respeito ao Reagrupamento Nacional, o futuro poderá passar por uma mudança para o outro grupo parlamentar de extrema-direita, o Reformistas e Conservadores Europeus (ECR), onde, entre os seus 69 deputados se encontram eleitos do Irmãos de Itália, de Giorgia Meloni. 

Não só os franceses falaram ontem ter “novos aliados no final das eleições europeias”, como Meloni e Le Pen têm dado pistas sobre a possibilidade de unirem forças em Estrasburgo. Num comício de extrema-direita em Madrid no domingo, a francesa declarou: “Estamos todos juntos na reta final para fazer de 9 de junho um dia de libertação e esperança”. Um dia depois, a italiana disse que queria replicar o sucesso doméstico do seu partido e “fazer a mesma coisa na Europa: aliar partidos que sejam compatíveis entre si em termos de visão, mesmo com nuances completamente diferentes”.

ana.meireles@dn.pt