Eleições
06 julho 2024 às 23h17
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Reformista favorável a abertura ao Ocidente eleito presidente do Irão

Pezeshkian teve 54% dos votos na segunda volta e derrotou adversário ultraconservador. Líder supremo exortou-o a “continuar no caminho” de Raisi.

O reformista Masoud Pezeshkian, que defende uma abertura ao Ocidente e é contra a “polícia da moralidade” iraniana, venceu a segunda volta das pesidenciais do Irão. Teve 54% e mais três milhões de votos que o adversário, o ultraconservador Saeed Jalili. A participação foi de 49,8% - acima dos cerca de 40% da primeira volta.

Num discurso no mausoléu do fundador da República do Irão e antigo líder supremo, o ayatollah Khomeini, Pezesh- kian agradeceu aos apoiantes, dizendo que os seus votos “dão esperança a uma sociedade mergulhada numa atmosfera de insegurança”. E deixou claro: “Não fiz falsas promessas nestas eleições. Não disse nada que não poderei fazer amanhã.”

Entre as promessas estão reduzir a inflação, que ronda os 40%, além do levantar das restrições à internet e opor-se “totalmente” às patrulhas da “polícia da moralidade” que vigiam o correto uso do véu islâmico por parte das mulheres. Em 2022, a morte da jovem curda Mahsa Amini, após ter sido detida por alegadamente violar o código de vestuário, desencadeou protestos em todo o país.

Mas os poderes do presidente são limitados, com o líder supremo Ali Khamenei a ter a palavra final sobre as questões políticas. Este exortou o antigo cirurgião de 69 anos, único candidato reformista que foi autorizado a participar nas eleições, a “continuar o caminho do mártir Raisi e usar as muitas capacidades do país, especialmente a juventude revolucionária e fiel, para o conforto do povo e o progresso do país”.

Pezeshkian vai suceder ao ultraconservador Ebrahim Raisi, que morreu na queda de um helicóptero em maio. As eleições, um ano antes do previsto, surgem numa altura de tensão reforçada na região por causa da guerra em Gaza, quando ainda existe um choque com o Ocidente por causa do programa nuclear iraniano e quando há contestação interna por causa do estado da economia, afetada pelas sanções internacionais.

O antigo cirurgião de 69 anos, que foi ministro da Saúde há duas décadas, tem defendido “relações construtivas” com os países ocidentais para “tirar o Irão do seu isolamento”. E apoia o regresso ao acordo nuclear de 2015, que foi rasgado unilateralmente pelos EUA em 2018 durante a presidência de Donald Trump - que é o favorito para vencer as eleições de novembro e voltar à Casa Branca.

Na segunda-feira os EUA tinham dito que não faria diferença se vencesse Pezeshkian ou Jalili, acreditando que não havia expectativas de “mudança fundamental na direção do Irão” ou uma melhoria nos Direitos Humanos. Já Rússia e China, países com quem Raisi tinha procurado reforçar as relações, expressaram o seu desejo de continuar esse caminho. “Espero que o seu trabalho como presidente contribua para o reforço de uma cooperação bilateral construtiva e global em benefício dos nossos povos amigos”, sublinhou o russo Vladimir Putin numa mensagem ao vencedor. 

Com AFP