Alexandre de Moraes e os demais juízes do Supremo Tribunal Federal do Brasil (STF) eram o alvo - ou o principal alvo - do terrorista que fez explodir duas bombas na Praça dos Três Poderes, em Brasília, e acabou por morrer nas explosões, na noite de quarta-feira, segundo a polícia federal (PF). Depoimento da ex-mulher de Francisco Wanderley Luiz, um chaveiro de 59 anos e ex-candidato a vereador pelo partido de Jair Bolsonaro, e mensagens do próprio ajudaram a corroborar a tese.
“O caso, que culminou nesse lamentável episódio do suicídio, mostra a tentativa de matar ministros [juízes] do STF”, disse Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF, ao citar uma mensagem nesse sentido escrita no espelho da casa que o homem-bomba alugou por meses em Ceilândia, nos arredores de Brasília. “Ele falava que queria matar o Alexandre de Moraes e quem estivesse por perto”, disse a ex-mulher.
Moraes é o juiz que tem em mãos o processo dos ataques à mesma praça, a 8 de janeiro de 2023, por apoiantes de Jair Bolsonaro inconformados com a derrota do ex-presidente para Lula da Silva nas presidenciais, e o das “milícias digitais”, isto é, bolsonaristas que alimentam as redes de fake news e ameaças.
“Momentos antes de se explodir, ele tentou entrar no STF”, acrescentou Celina Leão, vice-governadora do Distrito Federal. “Deixaram a raposa entrar no galinheiro”, escrevera o próprio terrorista nas redes sociais como legenda a uma fotografia tirada no plenário do STF.
Seguranças na Praça dos Três Poderes aperceberam-se instantes antes das explosões que Wanderley carregava na mão o que poderia ser um relógio e transeuntes contaram que ele fez sinal de ‘tudo bem?’ ao passar por eles antes do ato.
Depois da explosão, a polícia rastreou o local através de robôs para detetar bombas - no total, quatro, algumas no cinto que o terrorista usava, foram desativadas. Entretanto, quase em simultâneo àquelas explosões, ocorreu outra, num carro estacionado no parque da Câmara dos Deputados. Foi através de documentos na viatura que a polícia chegou à identificação do terrorista.
Francisco Wanderley, que disputou, pelo PL, as municipais de 2020, sob nome de urna Tiü França, em Rio do Sul, no estado de Santa Catarina, publicou uma série de mensagens sobre o ataque, misturando declarações de cunho político e religioso.
“Vocês poderão comemorar a verdadeira Proclamação da República”, diz uma das mensagens, a propósito desta sexta-feira, quando se comemora aquela data no Brasil. “Vamos jogar??? Polícia Federal vocês têm 72 horas para desarmar a bomba que está na casa dos comunistas de merda: William Bonner, José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin… Vocês quatro são velhos cebosos [sic] nojentos”, escreveu ele noutra, referindo-se a um apresentador da TV Globo, a dois antigos presidentes e ao atual vice de Lula. Noutra mensagem diz ainda que escolheu o dia 13 para lançar a bomba por não gostar do número - “13” é o número que o PT, de Lula, usa nas urnas eletrónicas.
O diretor-geral da PF não gosta da expressão “lobo solitário” porque “por experiência, este tipo de ação terrorista sempre implica mais pessoas direta ou indiretamente”. Neste momento, a polícia já colheu indícios da casa que Wanderley alugou - “houve explosões lá, o objetivo dele era matar os polícias, por sorte entraram robôs antibombas na casa”. Além da casa e do carro, a polícia apreendeu um reboque onde encontrou o telemóvel do criminoso.
Jorge Guetten, um deputado de Santa Catarina do Republicanos, partido com ligações à IURD, disse conhecer Wanderley, que chamou de “boa gente” mas “muito abalado”, e admitiu tê-lo recebido em agosto no Congresso.
Oficialmente, deputados bolsonaristas minimizam a relação entre o terrorista e o ex-presidente. Bolsonaro escreveu no X um texto “pela pacificação” e chamou o ato de “isolado”. Porém, há um tom de desalento entre parlamentares de extrema-direita, segundo a imprensa, porque o ato ocorre numa altura em que buscavam votar amnistias para os presos do 8 de Janeiro e para Bolsonaro, inelegível por oito anos.
“Não existe possibilidade de pacificação com uma amnistia a criminosos”, defendeu Alexandre de Moraes, o suposto principal alvo de Wanderley, num evento.