Quanto ao tema da saída dos trabalhadores da AIMA, não temos confirmação dos números noticiados, mas temos reporte de insatisfação e de preocupação. Queria deixar aqui uma palavra forte de solidariedade e compreensão para os trabalhadores da AIMA e, já agora, para o Conselho Diretivo foi.
Foram sujeitos a um fardo administrativo, a um peso de erros e, já agora, a 350.000 pendências. Logo para começar. Mas a crescer por causa das regras existentes. Muito duro. Portanto, precisamos de uma nova motivação. Faço-lhes um apelo para serem participantes de um novo futuro.
Vão reforçar a AIMA?
Temos de lhe dar condições diferentes. A responsabilidade do que temos não pode ser imputada aos trabalhadores da AIMA.
E ao Conselho Diretivo, na pessoa do Presidente Luís Goes Pinheiro?
Todas as pessoas, incluindo o Conselho Diretivo da AIMA, receberam uma herança pesadíssima. A responsabilidade essencial da paralisação e da incapacidade de resposta está no governo anterior.
Na última visita que fez a Bruxelas terá ouvido coisas de que não terá gostado sobre o funcionamento deste modelo. Continuamos no risco de ser suspensos do espaço Schengen?
Felizmente eu não preciso de fazer mais do que reportar a resposta do do Sistema de Segurança Interna (SSI) que fez um comunicado quando suscitaram dúvidas sobre as minhas declarações e as da Comissão Europeia.
Houve uma interpretação apressada e muito ligeira. Jamais diria que havia uma situação de risco se ela não tivesse sido partilhada, até por escrito, pelas autoridades de segurança nacionais e depois de viva voz por dirigentes de agências europeias.
Reportando-me ao SSI, nós estivemos no princípio do ano no vermelho. Relativamente as regras de Schengen estivemos perante a perspetiva de chegarmos a Julho, no momento da validação do novo sistema de segurança de fronteiras, chamado Smart Boarders e, principalmente, a Outubro, quando todos os países do espaço Schengen devem estar com o sistema operacional, e falhar. Porquê? Porque a adoção deste novo sistema de controlo implica novos equipamentos informáticos, novos servidores, novos serviços e formação.
Os países pela Europa fora tiveram 18 meses para fazer isto. Com o compromisso de isto estar pronto no primeiro semestre de 2024. Quando eu entrei em funções só Portugal e Malta não tinham feito o trabalho.
Neste caso, até perdemos financiamento europeu e o anterior governo autorizou um ajuste direto à última da hora de 25 milhões de euros...
Sim, como disse, quando começámos a governar Portugal estava no vermelho. O que fizemos foi juntar todos os serviços do Estado que tipicamente demoram a interagir entre si, porque é preciso, de um lado, a aprovação orçamental, por outro lado, o tratamento da burocracia documental, falar com os fornecedores. Fazemos reuniões regulares, tenho reports todas as semanas sobre cada um dos contratos.
Pusemos mãos à obra. Hoje a avaliação do SSI é de que as coisas, depois da intervenção do Governo e do trabalho muito apurado do SSI, da secretaria-geral da Presidência do Conselho de Ministros e do Ministério das Finanças, estão a avançar à partida. Temos mais tranquilidade, mas não podemos desarmar.
Mas estará pronto no final do primeiro semestre?
Nós vamos ter de conseguir cumprir os prazos. Estamos a trabalhar. Por isso é que a Comissão Europeia diz hoje não está em cima da mesa a suspensão, porque nós estamos a trabalhar em calendários, a agilizar. Temos que conseguir no dia 6 de outubro, que é o dia em que o sistema europeu deve arrancar, ter o sistema a funcionar e validado pela EU-LISA e as várias instituições europeias.
O que é que acontece se formos suspensos do sistema Schengen?
Somos tratados como um Estado não Schengen. Estando em Schengen temos outras possibilidades de acesso a todo o espaço dos países que dele fazem parte. Ou seja, há uma série de países europeus que hoje têm uma entrada aberta por causa da liberdade de circulação e que, enquanto vigorasse essa suspensão, teriam que ser tratados como os países não Schengen. Com todos os controlos de passaportes, por exemplo.
Quando tivemos o problema de controlo nos aeroportos, de que vos falei, tivemos convencer a EU-LISA de que estávamos a controlar e a corrigir os problemas. Podia levar mesmo a uma suspensão temporária também. Felizmente conseguimos mitigar.
Queria só clarificar uma questão que ficou para trás, pois são matérias muito importantes para as nossas comunidades imigrantes. Sobre a renovação dos títulos CPLP, já sabem como é que vão fazer? Vão prolongar outra vez a validade destes vistos ?
Sim, sabemos como vamos fazer. Queria dar uma palavra tranquilidade a estas pessoas que cujos vistos, na maior parte dos casos, expiram, no final do mês, que foi quando foi feita a última prorrogação Até essa data, teremos uma solução que lhes dará a tranquilidade.
E o reagrupamento familiar como vai ser? Neste momento estamos a incumprir as regras europeias nessa matéria...
Estamos cá para resolver as situações. É muito a parte da missão que este Governo recebeu. E não é só nesta matéria. A saúde, as dificuldades com todos os grupos de funcionários públicos, depois se refletem no colapso de muitos serviços ou pré-colapso de muitos serviços públicos. A guerra nas escolas, as dificuldades de acesso à saúde, as dificuldades na habitação, uma soma de problemas. E este governo só está comprometido com uma coisa, que é resolvê-los.
O reagrupamento familiar é um conceito e é um instituto importante, porque não é apenas uma questão de dignidade, é uma questão de qualidade da integração. Um imigrante com a sua família tem possibilidades de sucesso no seu processo de integração, com uma qualidade de vida muito melhorada. Houve e há hoje uma dificuldade grande também nessa medida, na capacidade de resposta aos pedidos. E essa é uma situação que obviamente merece resolução.
Quando estiver em execução o vosso Plano de Ação para as Migrações, o Governo tem alguma estimativa de quantos emigrantes regularizados podemos ter no nosso país para o ano, por exemplo? Neste momento temos mais de 1 milhão...
Não temos quotas quantitativas. Já agora, também não fazemos e não vamos fazer em Portugal aquilo que alguns governos socialistas europeus estão a fazer, como levantar e levantar redes e barreiras, como o Governo socialista aqui ao lado. Limitar bairros com mais de uma certa proporção de imigrantes, que é uma solução do governo socialista da Dinamarca.
Nem vamos ter a obrigação de separação temporária dos filhos, como outros países governados por governos socialistas no norte da Europa. São as suas idiossincrasias. Não quero criticar, mas não é esse tipo de opção do política deste governo.
Mas tem estimativa sobre o número de imigrantes que podem ficar regularizados?
Não podemos ter essa estimativa nesse plano, porque isso era perguntar se íamos ter uma meta quantitativa ou essa quota. Não há quotas. Em segundo lugar, esse é um movimento natural, não é? O que podemos fazer é ajustar as regras de entrada. E isso acontecerá também para regular a imigração. E nós vamos ter uma imigração regulada. A abordagem de fixar uma meta quantitativa seria outra abordagem. A abordagem é regular a imigração.
Com prioridade para os países CPLP...
Com tratamento diferenciado e prioritário relativamente aos imigrantes dos países da CPLP.
Sendo certo que cada vez que isso foi feito em qualquer país, nomeadamente na Europa, cada vez que se tentou regular limitar a entrada de pessoas, houve depois uma transferência para a área dos pedidos de asilo. É um risco o que está ponderado?
Queria usar alguma prudência a comentar o tema é a situação dos do processo de asilo hoje, porque é o grupo de pessoas onde a vulnerabilidade é maior. E é muito apto a uma exploração populista.
Neste momento, a capacidade de resposta, a capacidade de análise, de acolhimento - o esgotamento dos locais de acolhimento - é também preocupante. Também precisa de resposta. Parte do nosso programa passa por melhorar e reforçar a capacidade de tratamento dos processos de asilo.
Para quê? Para que as respostas sejam dadas às situações merecedoras da proteção internacional e do estatuto de refugiado e as situações que o não são serem tratadas nos termos que devem ser. Hoje há dificuldades que assim seja, mas é algo que tem que avançar a par e passo, com a mudança nas regras para que a imigração seja efetivamente regulada. Regulada e humanista. As duas coisas.
Imigrantes a dormir na rua, em tendas, como está a acontecer em vários pontos da cidade, vão deixar de suceder de acordo com esse plano?
Temos de ter soluções e temos também soluções para a situação que temos hoje. Podemos comprometermo-nos com a adoção de medidas e meios para mitigar a esses problemas, que são uma indignidade para as pessoas que vivem naquelas condições, para os que vivem nos bairros onde essas situações ocorrem e que obviamente ficam preocupadas em verem aquela situação e precisam de resposta.
E nós queremos também respostas em parceria. E esse é um tema em que, obviamente, a principal resposta para a situação nas ruas é uma resposta dos municípios e, portanto, das áreas metropolitanas, muito em particular, as quais quero invocar e com as quais também dialogamos.
Há municípios com os quais dialogamos, não apenas o de Lisboa, mas vários outros onde a pressão é maior e encontrámos respostas. Portugal precisa de imigrantes, precisa de regras e de uma imigração regulada. Precisa de atrair mais qualificados e precisa de acolher com humanismo. É melhor do que está a fazer hoje.
O plano que o Governo vai anunciar na próxima segunda-feira é na última semana da campanha eleitoral. Acha que vão contribuir para algum alívio ou para algum alguma saída de cena do tema da imigração, do debate político ou não?
Não podemos gerar expectativas erradas. Este problema não se resolve com uma decisão legislativa sequer. Nem com uma varinha mágica. A regularização de mais de 400.000 pendências vai demorar tempo. O que é que eu tenho a certeza? Uma convicção forte, pelo menos. Que se nada fizermos, se esta situação de grande complexidade nas migrações e na imigração se mantiver, estamos a criar um combustível para a polarização e a radicalização do discurso.
E às tantas já nem estamos a falar de factos. Estamos a falar de perceções. E algumas podem ser factualmente desajustadas. E perdemos a capacidade, enquanto sociedade moderada, para encontrar respostas. É esta a herança pesadíssima que recebemos.
É urgente haver medidas para que este este tema, esta complexidade , seja lidado e que o fenómeno esteja sobre sob controlo político e administrativo. Isso demora tempo. Vão continuar naturalmente a existir queixas e problemas que, até serem resolvidos, não estão resolvidos e as queixas são legítimas. É um bocadinho como na Saúde, não é? Nós lançámos um plano de emergência e transformação na Saúde, com medidas estruturais, medidas urgentes e prioritárias.
Elas demoram a implementar se. Embora dos 9000 doentes oncológicos em lista de espera para além dos tempos, já conseguimos nestes 60 dias, depois da adoção das nossas medidas, que 1000 tivessem a sua cirurgia. E aqui vai acontecer à medida que o tempo passa. Esperemos que a situação vá estabilizando. O fenómeno das migrações é um bocadinho como conduzir ou navegar um petroleiro, para conseguir que ele vire.
Começamos a tomar medidas e ele só vai virar um bom bocado à frente. Há fluxos migratórios que já estão em curso, de pessoas que têm informação sobre as circunstâncias que nós vamos ter de lidar e, portanto, é um plano urgente. Mas é um plano que precisa de tempo.