O Ramadão começou ontem sem o desejado cessar-fogo entre Israel e o Hamas - o presidente dos Estados Unidos, por exemplo, defendeu várias vezes esta necessidade -, tendo o primeiro dia do mês sagrado dos muçulmanos sido marcado por novos bombardeamentos israelitas, nomeadamente na Cidade de Gaza, no norte do enclave, e em Khan Yunis e Rafah, no sul. A par disso, o Governo de Telavive afirmou ontem que as autoridades “respeitam a liberdade de culto” na Mesquita de al-Aqsa, na Esplanada das Mesquitas, mas advertiu os que “pensam pôr Israel à prova” para não “cometerem erros”.
“Digo a todos aqueles que estão a pensar pôr-nos à prova este mês: estamos prontos. Não cometam erros”, afirmou o ministro da Defesa israelita, Yoad Gallant numa mensagem publicada na sua rede social X, em que felicitava os muçulmanos pelo Ramadão. “É um mês importante para melhorar as relações de vizinhança e reforçar os laços familiares”, prosseguiu Gallant, sublinhando que Israel “está consciente de que pode ser um mês de jihad”, tendo em conta o aumento das tensões e a ausência de um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza.
Estas declarações surgiram depois de, no domingo à noite, as forças de segurança israelitas terem impedido centenas de fiéis muçulmanos de entrarem na Mesquita de al-Aqsa para as primeiras orações após o início do Ramadão. As autoridades também instalaram arame farpado na vedação adjacente ao complexo, perto da Porta do Leão, segundo a Administração palestiniana em Jerusalém, que falou de “um precedente perigoso”.
Tanto o Governo palestiniano como o Hamas avisaram Israel para não impor restrições ao acesso e permitir a liberdade de culto na Esplanada das Mesquitas - conhecida pelos judeus como Monte do Templo - para evitar uma nova escalada de tensões e violência.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, já tinha declarado que não haveria restrições à liberdade de culto durante o mês sagrado do Ramadão, contrariando as afirmações do ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, de extrema-direita.
Na semana passada, Ben Gvir, um defensor dos colonatos e do sionismo religioso, afirmou que se o acesso dos muçulmanos à Esplanada da Mesquita não fosse controlado, haveria “celebrações do Hamas no Monte do Templo”.
Tradicionalmente, no Ramadão, que começou ontem, Israel concede milhares de autorizações especiais aos palestinianos, tanto da Cisjordânia ocupada como da Faixa de Gaza, para se deslocarem à Mesquita de al-Aqsa para rezar. No ano passado, o mês sagrado muçulmano mobilizou mais de quatro milhões de fiéis em Jerusalém Oriental, a maioria palestinianos, reunindo cerca de 250 mil pessoas às sextas-feiras, o dia de oração mais importante segundo o Islão.