Guerra
12 março 2024 às 00h30
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Ramadão começa sem trégua e com Israel a deixar aviso ao Hamas

Estados Unidos voltaram a lançar ajuda humanitária sobre a Faixa de Gaza. António Guterres apelou a um cessar-fogo e à libertação de reféns durante o mês sagrado muçulmano.

O Ramadão começou ontem sem o desejado cessar-fogo entre Israel e o Hamas - o presidente dos Estados Unidos, por exemplo, defendeu várias vezes esta necessidade -, tendo o primeiro dia do mês sagrado dos muçulmanos sido marcado por novos bombardeamentos israelitas, nomeadamente na Cidade de Gaza, no norte do enclave, e em Khan Yunis e Rafah, no sul. A par disso, o Governo de Telavive afirmou ontem que as autoridades “respeitam a liberdade de culto” na Mesquita de al-Aqsa, na Esplanada das Mesquitas, mas advertiu os que “pensam pôr Israel à prova” para não “cometerem erros”.

“Digo a todos aqueles que estão a pensar pôr-nos à prova este mês: estamos prontos. Não cometam erros”, afirmou o ministro da Defesa israelita, Yoad Gallant numa mensagem publicada na sua rede social X, em que felicitava os muçulmanos pelo Ramadão. “É um mês importante para melhorar as relações de vizinhança e reforçar os laços familiares”, prosseguiu Gallant, sublinhando que Israel “está consciente de que pode ser um mês de jihad”, tendo em conta o aumento das tensões e a ausência de um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza.

Estas declarações surgiram depois de, no domingo à noite, as forças de segurança israelitas terem impedido centenas de fiéis muçulmanos de entrarem na Mesquita de al-Aqsa para as primeiras orações após o início do Ramadão. As autoridades também instalaram arame farpado na vedação adjacente ao complexo, perto da Porta do Leão, segundo a Administração palestiniana em Jerusalém, que falou de “um precedente perigoso”.

Tanto o Governo palestiniano como o Hamas avisaram Israel para não impor restrições ao acesso e permitir a liberdade de culto na Esplanada das Mesquitas - conhecida pelos judeus como Monte do Templo - para evitar uma nova escalada de tensões e violência.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, já tinha declarado que não haveria restrições à liberdade de culto durante o mês sagrado do Ramadão, contrariando as afirmações do ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, de extrema-direita.

Na semana passada, Ben Gvir, um defensor dos colonatos e do sionismo religioso, afirmou que se o acesso dos muçulmanos à Esplanada da Mesquita não fosse controlado, haveria “celebrações do Hamas no Monte do Templo”.

Tradicionalmente, no Ramadão, que começou ontem, Israel concede milhares de autorizações especiais aos palestinianos, tanto da Cisjordânia ocupada como da Faixa de Gaza, para se deslocarem à Mesquita de al-Aqsa para rezar. No ano passado, o mês sagrado muçulmano mobilizou mais de quatro milhões de fiéis em Jerusalém Oriental, a maioria palestinianos, reunindo cerca de 250 mil pessoas às sextas-feiras, o dia de oração mais importante segundo o Islão.

Navio parado em Chipre

Numa altura em que está a decorrer uma mobilização internacional para enviar ajuda humanitária e apoiar a população palestiniana à beira da fome, o secretário-geral da ONU pediu para “silenciar as armas” em Gaza e libertar os reféns “para honrar o espírito do Ramadão”. “Isto é doloroso e totalmente inaceitável”, declarou ontem António Guterres. “Estou consternado e indignado pelo facto de o conflito continuar em Gaza durante este mês sagrado”, prosseguiu o português, acrescentando que “todos os obstáculos” à entrega de ajuda devem ser removidos.

A Força Aérea norte-americana realizou ontem um novo lançamento de ajuda humanitária sobre o norte de Gaza, nomeadamente 27 600 caixotes de alimentos e 25 900 garrafas de água. Segundo o Comando Central dos Estados Unidos estas entregas de ajuda para “aliviar o sofrimento” da população de Gaza vão continuar. Na semana passada, uma destas entregas revelou-se fatal para cinco pessoas, que morreram depois de terem sido atingidas pelos caixotes devido a falhas nos paraquedas.

Já um navio carregado com 200 toneladas de ajuda - como farinha, arroz e latas de atum - destinadas à população de Gaza, que tinha partida prevista para domingo, permanecia ontem ancorado no Porto de Larnaca (Chipre) à espera de autorização para partir, devido a “problemas técnicos”. Em Gaza, a ajuda será recebida pela World Central Kitchen, uma ONG fundada pelo chef  espanhol José Andrés.

ana.meireles@dn.pt