Para as investigadoras do Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA), os dados dos casos de femicídio em Portugal não deixam dúvidas: “Há um Estado negligente”, que está a “custar a vida a muitas mulheres”. Seis dos 20 casos de mulheres mortas por violência de género registados este ano - ou seja, quase um terço - ocorreram em contextos em que existiam já queixas efetuadas às autoridades policiais, sublinham as promotoras deste Observatório, que ontem apresentaram, no Porto, o relatório preliminar de 2024, com dados recolhidos entre 1 de janeiro e 15 de novembro.
“Há um Estado negligente, tendo em conta que em seis dos casos as autoridades tinham sido notificadas. A partir desse momento, o Estado tem obrigação de proteger a vítima e essa proteção tem de ser prioridade absoluta”, aponta Maria José Magalhães, uma das investigadoras do OMA, iniciativa promovida há 20 anos pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR).
“Apesar do que tem sido feito em termos de política pública, há que reconhecer que é preciso fazer mais. Como foi aqui identificado, continuamos a ter muitas situações com denúncias prévias já existentes. É algo que tem de ser trabalhado. Queremos muito empoderar as vítimas para denunciarem estas situações, mas, para isso, as vítimas têm de acreditar que a denúncia é algo que vai mudar de uma forma positiva as suas vidas. E termos a indicação de que há denúncias que não se traduzem, efetivamente, numa maior proteção daquelas vítimas é algo que nos deve preocupar”, concordou Sandra Ribeiro, presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, o organismo do Estado responsável pela promoção e defesa da igualdade entre géneros, presente na apresentação do relatório.