Num depoimento ao DN por ocasião dos 50 anos do 25 de Abril, Celeste recordou a sua história. "O soldado pediu-me um cigarro. Eu não fumava, nunca fumei. Por segundos, fiquei a pensar como poderia compensar aquele rapaz, ali, em cima daquele carro, a lutar por nós. Estava ali a dar-me uma coisa boa e eu sem nada para lhe dar. Sem pensar, tirei um cravo do ramo que levava e ofereci-lho. Nunca me passou pela cabeça que por causa disso o 25 de Abril viesse a ser conhecido mundialmente como a Revolução dos Cravos", revelou.
"Nunca se conseguiu encontrar aquele rapaz. Sempre que penso naquele dia choro. Tinha 40 anos, cuidava da minha mãe e da minha filha. Morava no Chiado e adorava a cidade onde nasci. E ainda adoro" acrescentou.
Os cravos têm também uma história. Celeste trabalhava numa cafetaria que completava nesse dia 25 de abril de 1974 um ano. E por isso o patrão tinha comprado as flores para oferecer aos clientes. Mas devido ao rumo dos acontecimentos, o estabelecimento foi fechado e o patrão pediu aos funcionários que os levassem para não se estragarem.
Na mesma peça, Carolina, neta de Celeste, confidenciou que a avó, filha de uma espanhola de Badajoz e de pai desconhecido, com dois irmãos mais velhos e que cresceu na Casa Pia, gostava que uma placa assinalasse o local: "Algo a dizer que foi ali que nasceu o nome Revolução dos Cravos. Ou até ter ali uma pequena estátua."
A 28 de julho de 2024, na rubrica Prova de Vida, de António Araújo, publicada no DN, Celeste voltou a recordar a história. “As pessoas julgam que fui eu que pus os cravos nas espingardas, mas não, estava muito alto.”
"De resto, nem eram muitas as flores que ofereceu, uma meia-dúzia, no máximo, ainda assim o suficiente para fazer dela a influencer do dia, responsável pelo lançamento de uma moda que ainda hoje perdura – e que à época fez manchetes nos jornais do mundo inteiro", escreveu António Araújo.
Em 1988, perdeu tudo no incêndio do Chiado, ficou sem casa, sem fotografias e sem as recordações de uma vida. Em abril deste ano tinha sido já noticiado que sofria de graves problemas de visão, audição e locomoção. Viva em casa da filha e da neta em Alcobaça.
A história de Celeste Caeiro, entrelaçada com aspetos políticos e sociais da época, foi contada num documentário da Comissão dos 50 anos do 25 de Abril, com argumento original de Vilma Reis e Roberto Faustino e produção de Tino Navarro e MGN Filmes Lisboa.
Na sessão solene das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, o deputado do Livre e historiador Rui Tavares pediu que o parlamento homenageie as mulheres do país através da estátua de Celeste, que saiu com uma braçada de cravos no dia 25.
Por proposta do PCP, a Câmara de Lisboa aprovou por unanimidade, no dia 7 de maio, homenagear-se Celeste Caeiro com a atribuição da medalha de honra da cidade de Lisboa e a realização de uma "intervenção evocativa, a ser implantada num espaço público", o que ainda não aconteceu.