Óbito
15 novembro 2024 às 14h57
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Morreu Celeste Caeiro, a mulher que deu o cravo ao 25 de Abril

Fonte familiar confirmou ao DN a morte de um dos rostos mais conhecidos da Revolução. Tinha 91 anos.

Morreu Celeste Caeiro, a mulher que distribuiu cravos pelos militares na manhã do dia 25 de abril de 1974. Tinha 91 anos.

A notícia da morte foi confirmada pelo DN junto de fonte familiar.

A neta de Celeste Caeiro, Carolina, publicou também uma mensagem na rede social X, partilhando uma fotografia da avó.

Num depoimento ao DN por ocasião dos 50 anos do 25 de Abril, Celeste recordou a sua história. "O soldado pediu-me um cigarro. Eu não fumava, nunca fumei. Por segundos, fiquei a pensar como poderia compensar aquele rapaz, ali, em cima daquele carro, a lutar por nós. Estava ali a dar-me uma coisa boa e eu sem nada para lhe dar. Sem pensar, tirei um cravo do ramo que levava e ofereci-lho. Nunca me passou pela cabeça que por causa disso o 25 de Abril viesse a ser conhecido mundialmente como a Revolução dos Cravos", revelou.

"Nunca se conseguiu encontrar aquele rapaz. Sempre que penso naquele dia choro. Tinha 40 anos, cuidava da minha mãe e da minha filha. Morava no Chiado e adorava a cidade onde nasci. E ainda adoro" acrescentou. 

Os cravos têm também uma história. Celeste trabalhava numa cafetaria que completava nesse dia 25 de abril de 1974 um ano. E por isso o patrão tinha comprado as flores para oferecer aos clientes. Mas devido ao rumo dos acontecimentos, o estabelecimento foi fechado e o patrão pediu aos funcionários que os levassem para não se estragarem.

Na mesma peça, Carolina, neta de Celeste, confidenciou que a avó, filha de uma espanhola de Badajoz e de pai desconhecido, com dois irmãos mais velhos e que cresceu na Casa Pia, gostava que uma placa assinalasse o local: "Algo a dizer que foi ali que nasceu o nome Revolução dos Cravos. Ou até ter ali uma pequena estátua." 

A 28 de julho de 2024, na rubrica Prova de Vida, de António Araújo, publicada no DN, Celeste voltou a recordar a história. “As pessoas julgam que fui eu que pus os cravos nas espingardas, mas não, estava muito alto.”

"De resto, nem eram muitas as flores que ofereceu, uma meia-dúzia, no máximo, ainda assim o suficiente para fazer dela a influencer do dia, responsável pelo lançamento de uma moda que ainda hoje perdura – e que à época fez manchetes nos jornais do mundo inteiro", escreveu António Araújo. 

Em 1988, perdeu tudo no incêndio do Chiado, ficou sem casa, sem fotografias e sem as recordações de uma vida. Em abril deste ano tinha sido já noticiado que sofria de graves problemas de visão, audição e locomoção. Viva em casa da filha e da neta em Alcobaça. 

A história de Celeste Caeiro, entrelaçada com aspetos políticos e sociais da época, foi contada num documentário da Comissão dos 50 anos do 25 de Abril, com argumento original de Vilma Reis e Roberto Faustino e produção de Tino Navarro e MGN Filmes Lisboa.

Na sessão solene das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, o deputado do Livre e historiador Rui Tavares pediu que o parlamento homenageie as mulheres do país através da estátua de Celeste, que saiu com uma braçada de cravos no dia 25.

Por proposta do PCP, a Câmara de Lisboa aprovou por unanimidade, no dia 7 de maio, homenagear-se Celeste Caeiro com a atribuição da medalha de honra da cidade de Lisboa e a realização de uma "intervenção evocativa, a ser implantada num espaço público", o que ainda não aconteceu.