Unidade Local de Saúde Santa Maria
22 julho 2024 às 06h50
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Recorde de cirurgias dos últimos 15 anos e oncologia sem lista de espera

Os hospitais Santa Maria e Pulido Valente realizaram nos primeiros seis meses do ano 19 mil cirurgias, mas aumentaram também o número de consultas, de exames e até as receitas face às despesas. O presidente do conselho de administração elogia os profissionais e diz que é o “resultado de um trabalho de equipa”.

Os números do balanço dos primeiros seis meses da Unidade Local de Saúde Santa Maria (ULS), uma das maiores do país, reunindo entre cuidados hospitalares e primários, 7324 profissionais, não enganam: 19 193 cirurgias, mais 12% do que em igual período de 2023, 425 mil consultas, no total mais 5%, mais 3% de exames de imagiologia, mais 3% de análises clínicas, ao todo foram realizadas 3,7 milhões de análises, mais 13% de doentes atendidos na farmácia e mais 25% de receitas face a um crescimento de 20% das despesas.


Os dados foram disponibilizados ao DN pelo presidente do conselho de administração da ULS, Carlos Martins - no cargo desde o início de janeiro, e pela segunda vez, pois já tinha anteriormente administrado Santa Maria durante seis anos - e revelam que este foi o maior registo de atividade cirúrgica dos últimos 15 anos e desde a junção dos dois hospitais.


Carlos Martins explica que o feito “não é acidental”, resulta, sim, “de um trabalho de equipa”, acompanhado “de uma visão e estratégia, que está a dar bons resultados”. Uma estratégia que “tem sabido utilizar os incentivos que têm sido dados pelo Governo, nomeadamente para o programa para a Oncologia (OncoStop), que já fez com que, neste momento, não tenhamos doentes a ser operados fora do tempo máximo de resposta garantida”, assegura, especificando: “Em boa verdade não tínhamos uma lista de espera preocupante em Oncologia, mas este programa permitiu-nos utilizar cirurgicamente as verbas disponibilizadas para criarmos estímulos adicionais e, duas semanas depois de aplicarmos o programa, deixámos de ter listas de espera.”


Mas o fim desta lista de espera significa também que todas as outras áreas corresponderam, porque só é possível a marcação de uma cirurgia se houver “consultas e, desde logo, exames na área da imagiologia e da anatomia patológica que confirmem o diagnóstico, e nesta área temos crescido imenso. E tudo isto faz com que seja possível agendar o doente oncológico no tempo adequado para a cirurgia e para o tratamento”.


O programa OncoStop integra o Programa de Emergência e Transformação da Saúde (PETS), apresentado pelo Governo no final de maio, tendo como objetivo acabar com as listas de doentes oncológicos que aguardavam cirurgia fora do tempo máximo garantido, e veio permitir o pagamento da atividade cirúrgica fora do tempo de trabalho a 90% do valor normal para toda a equipa.


Quando questionado se afinal esta produção não é à custa da produção adicional e dos incentivos, Carlos Martins não nega que “os incentivos têm ajudado”, mas sublinha que a produção programada no hospital está em primeiro lugar e que a produção adicional registada é da ordem dos 25%. 

“O nosso crescimento tem a ver com um conjunto de fatores. Em primeiro lugar, com a crescente procura da nossa ULS e dos nossos hospitais em particular e em termos globais. Depois, com o facto de estarmos a apostar numa estratégia de crescimento sustentado, porque só conseguimos aumentar a atividade cirúrgica se tivermos mais consultas, mais diagnósticos e mais internamento”, sublinha.


“A atividade cirúrgica não funciona per si. É o motor da atividade da casa, do desenvolvimento e crescimento, e esta é uma visão e estratégia nova, mas para isso precisávamos de aumentar todos os outros indicadores”, remata.


425 mil consultas e 3,7 milhões de análises


Os números da instituição indicam ainda que, das mais de 19 mil cirurgias, 12 000 foram realizadas em regime de ambulatório, mais 18% do que no ano anterior, sendo 71% do total das cirurgias programadas e mais 48% do que em 2022. Mais. Cerca de 4800 cirurgias foram em regime de internamento, um aumento de 9% face a 2023, somando-se a estas 2500 cirurgias urgentes. Em relação às consultas, das 425 mil realizadas, 123 mil foram primeiras consultas, mais 4% face ao mesmo período do ano anterior.


Para Carlos Martins, estes resultados são “históricos e espelham um extenso trabalho multidisciplinar e o empenho dos mais de sete mil profissionais”, no sentido de “garantir o acesso dos doentes aos cuidados de saúde de que necessitam”. Por isso mesmo destaca outros resultados: “Nas consultas de enfermagem aumentámos 21% em relação a 2023, na hospitalização domiciliária, que é também um dos indicadores a jusante, crescemos 28%, na farmácia aumentámos 13% e até nas refeições servidas aos nosso doentes 305 mil ao ano, aumentámos 8%.”


Sobre o desempenho económico-financeiro, Carlos Martins diz: “Crescemos 25% em termos de receitas neste semestre contra um aumento de 20% nas despesas. O que significa que, neste momento, estamos a ter mais de receita do que despesa, o que permitiu melhorar o nosso resultado líquido em 9%.”


Para isto contribui “a monitorização de um conjunto de indicadores que costumamos avaliar todos os meses para ver se estamos a crescer de forma sustentada ou se estamos a ter um crescimento, apenas porque fomos mais procurados por hospitais que fecharam à nossa volta e uma poupança de sete milhões em medicamentos, devido ao uso de biossimilares.”

O que o faz dizer que “o nosso crescimento é perfeitamente sustentado”. Por outro lado, menciona também que neste 1.º semestre aumentou o indicador da formação, com o hospital a ser certificado para a formação da nova carreira de técnicos auxiliares de saúde, e diminui o absentismo. “Este semestre em relação ao de 2023 teve menos 43 834 de absentismo, ou seja no ano passado houve mais ao menos 700 profissionais a faltar por semana por razões legais e este ano foram mais ao menos 640.”


Quanto às saídas de profissionais, Carlos Martins assume que continuam a existir, mas que em relação a 2023 houve apenas um acréscimo de 0,7%. No ano passado saíram 6598 profissionais, este ano foram 6645. Mas também tem grandes preocupações e uma delas é a taxa de rotação na enfermagem. “Temos enfermeiros a sair semanalmente e estamos a ter dificuldade em recrutar nalgumas áreas, como saúde mental, mas estamos abertos à contratação e ainda há pouco tempos assinámos 27 contratos na área médica.”


A ULS Santa Maria quer afirmar-se ainda mais “como unidade de referenciação a nível nacional e internacional”, com apostas no “capital humano”, “em mais formação” e em “nova tecnologia. “Não será fácil, mas está provado que é possível”, diz Carlos Martins.