Vamos começar no dia 6 de janeiro um conjunto de revisões e é um ponto que pode estar e estará, com certeza, em cima da mesa. Neste momento não vou dizer se sim ou se não, porque vai ter de ser submetido a um estudo”. Foram estas as palavras da ministra da Administração Interna, quando questionada pelos jornalistas sobre o direito à greve nas forças de segurança, no final do congresso da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP), o maior sindicato da PSP, que decorreu no passado domingo. Apesar de a declaração não ter nada de afirmativo, foi rapidamente interpretada e difundida como se fosse uma luz verde para o direito à greve nas polícias que ainda não o têm (PJ e Guarda Prisional têm-no consagrado nos seus estatutos), facto que contrariava a posição do próprio primeiro-ministro. Num debate com o líder do Chega, Luís Montenegro classificara essa possibilidade como uma ideia “errada” e nem sequer está no programa do Governo.
Fonte governamental garante, porém, ao DN, que Margarida Blasco “pretendia apenas, tendo em conta a boa relação que estabeleceu com os maiores sindicatos da PSP e associações da GNR que assinaram o acordo para o aumento do suplemento de risco, entre as quais a ASPP, manter o clima de confiança que se tinha gerado até ao início nas negociações para a revisão dos estatutos”, previstas para janeiro próximo. Além disso, completa, “a reivindicação da greve é antiga e é normalmente usada em negociações como moeda de troca para os polícias conseguirem outras compensações”. Foi, por isso, com “muita surpresa”, sublinha a mesma fonte, “que se viu obrigada superiormente a fazer um esclarecimento”.
Indagada sobre se “superiormente” quer dizer o gabinete do primeiro-ministro, este interlocutor não quis especificar. O DN sabe, no entanto, que o comunicado do ministério da Administração Interna foi coordenado com o gabinete do ministro da Presidência, António Leitão Amaro.
“A Ministra da Administração Interna falou da abertura do diálogo, que a tem caracterizado, e onde tudo se discute. Mas a posição do Governo é clara: nesse diálogo pode ser discutida a representação laboral e os direitos sindicais. Mas não o direito à greve”, foi escrito, num registo que desagradou a Blasco.
Além disso, o “esclarecimento” foi logo interpretado pela oposição como uma “desautorização” e foi um trunfo contra o Governo que deixou fragilizada (ainda mais) uma Ministra independente de uma área de soberania, cujo lugar pode estar a ser cobiçado pelo aparelho do PSD, em vésperas de autárquicas.