Fugitivos continuam a monte
07 setembro 2024 às 22h56
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Uma escada e cordas: a porta de saída de cinco reclusos da prisão de Vale de Judeus

É uma das cadeias de alta segurança do país, com muros a chegar aos sete metros de altura. Mas criminosos conseguiram escapar. Autoridades já lançaram uma caça ao homem e a Interpol já foi informada. Sindicato culpa a tutela e diz que este caso deve ser visto como um “sinal de alerta” para a falta de recursos humanos.

Nem “os muros mais altos” de todas as prisões portuguesas, com cerca de seis/sete metros de altura, impediram cinco reclusos de sair da prisão de Vale de Judeus, em Alcoentre, no distrito de Lisboa. A fuga terá acontecido pelas 10.00 horas (durante o período de visitas), segundo a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), mas a guarda prisional só terá dado conta pelas 12.00, aquando da chamada para o almoço, segundo o Expresso. A PSP e a GNR já lançaram uma caça ao homem. Fonte policial confirmou ao DN que foram emitidos alertas para Espanha e França e inseridos na Interpol. 

A Polícia Judiciária (PJ), juntamente com guardas prisionais, realizou sábado à noite buscas no Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, de onde fugiram os cinco reclusos, disse à agência Lusa fonte policial, informação confirmada pelo DN. "A PJ está a investigar o caso e estão a decorrer buscas", disse a mesma fonte sem adiantar mais detalhes.

Os fugitivos têm idades entre os 61 e os 33 anos, são considerados perigosos e quatro deles tinham “medidas especiais de segurança”. Carlos Sousa, dirigente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (SNCGP) explica que tal “não afeta o dia a dia”, mas sim atividades que envolvessem deslocações fora da cadeia, que “eram acompanhadas por elementos das brigadas de intervenção”, por exemplo. A fuga teve ajuda do exterior, com três suspeitos envolvidos, que recorreram a uma escada e a uma corda. Houve ainda dois carros envolvidos na operação.

Entre os cinco homens está Rodolfo Lohrmann, um criminoso argentino que chegou a ser um dos dez homens mais procurados da América Latina. El Ruso (como é conhecido) foi detido em Portugal em 2016 e era procurado na Argentina desde 2003. Juntamente com Horacio Maidana, Lohrmann sequestrou um jovem, Christian Schaerer (na altura com 21 anos), filho de um político argentino, e recebeu um resgate de 277 mil dólares (cerca de 249 mil euros). A família pagou o resgate, mas o jovem nunca apareceu. Os dois acabariam por ser detidos em Aveiro, onde estariam a preparar assaltos a carrinhas de transporte de valores, e eram suspeitos de serem os autores de vários assaltos a bancos na zona de Lisboa e Odivelas. Ambos aguardaram julgamento na prisão de alta segurança do Monsanto, em Lisboa.

Facebook do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional.

“Espero que seja um sinal de alerta”

Ouvido pelo DN, Carlos Sousa diz esperar que este caso seja “um sinal de alerta” para a “segurança inexistente” nas prisões portuguesas. “Todos, incluindo o Governo, e a DGRSP devem ter consciência da grave situação” das guardas prisionais, diz o dirigente sindical.

A prisão de Vale de Judeus “é uma prisão de alta segurança, tem os muros mais altos do que qualquer outra” e mesmo assim prisioneiros conseguiram fugir. Como? Devido à “falta de meios humanos [haverá 20 guardas para cerca de 500 reclusos]. As sucessivas tutelas têm desvalorizado esta questão. Numa das últimas obras que fizeram na prisão, as torres de vigia foram retiradas e substituídas por câmaras de vigilância. Se houvesse guardas humanos isto não acontecia.”

Os prisoneiros que fugiram tiveram ajuda do exterior, com três pessoas a utilizarem cordas e escadas para os auxiliar. Houve ainda dois carros envolvidos na fuga. (Facebook do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional)

Carlos Sousa reitera por isso que é “preciso reforçar e reformar o corpo da guarda prisional”, cujo efetivo chegará, diz, aos 3700 elementos.

O Presidente da República disse estar “a acompanhar a situação, desde o primeiro minuto” e que espera que “seja resolvida o mais rápido possível”.

O DN contactou ainda a DGRSP, que não quis dar quaisquer informações, porque o caso ainda decorre, reservando esclarecimentos “para outra altura”. 

O Sistema de Segurança Interna, entretanto, dá este domingo, a partir das 11.00, uma conferência de imprensa relativa às diligências efetuadas na sequência da evasão de cinco reclusos do Estabelecimento Prisional de Vale dos Judeus. Estarão presentes responsáveis da Guarda Nacional Republicana, Polícia de Segurança Pública, Polícia Judiciária, Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais e do SSI.

Cadeia para penas de longa duração

A prisão de Vale de Judeus é “essencialmente constituída por reclusos condenados em penas de longa duração”, segundo a DGRSP. É um estabelecimento com quatro pavilhões de três pisos, dois edifícios oficinais e um edifício administrativo. É num destes edifícios de oficinas que funciona um dos postos de formação profissional para reclusos. Além das penas elevadas, a população prisional tem um “número muito significativo” de reclusos estrangeiros.

Quem são os prisoneiros fugitivos?

Fernando Pereira
Pena: 6+24 anos (no entanto, o cúmulo jurídico não passa dos 25, que é a pena máxima que Fernando cumpria)
Foi condenado com duas penas, uma de seis anos e outra de 24 por crimes como tráfico de droga e assaltos à mão armada. Mas, segundo a lei, a pena não passará dos 25 anos - pena máxima em Portugal.

Rodolfo Lohrmann
Pena: 18 anos
O argentino chegou a ser o homem mais procurado na Argentina. É acusado de associação criminosa, furto e falsificação.

Mark Roscaleer
Pena: 9 anos
Inglês, com 39 anos, já tinha fugido da prisão no seu país de origem. Está acusado por roubo e sequestro.

Shergili Farjani
Pena: 5 anos
Aos 40 anos, o georgiano está a cumprir pena de cinco anos de prisão pelo crime de ofensa à integridade física.

Fábio Loureiro
Pena: 25 anos
É quem tem a pena mais pesada, juntamente com Fernando. Está condenado por vários crimes, incluindo sequestro e associação criminosa.