Festival de cinema
25 maio 2024 às 18h57
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Cannes. O dia de sorte de Miguel Gomes

É um dos mais importantes prémio de sempre do cinema português. Miguel Gomes venceu em Cannes melhor realização. O júri foi na valsa do real e da fábula e premiou Grand Tour. Agora, ninguém pára Miguel Gomes... Nas curtas, Daniel Soares ficou com a menção do júri por Bad for a Moment.

No discurso da vitória Miguel Gomes falou em sorte. Mas o júri presidido por Greta Gerwig não deu o prémio de melhor realização por um capricho. Esta história de amor no sudeste da Ásia que se teatraliza por entre as camadas do real que as paisagens orientais dão deve ter tocado Gerwig e companhia.

O prémio de melhor realização em Cannes vai dar uma visibilidade estratosférica a Grand Tour, cinema destemidamente de ensaio sem perder o pé no grande romanesco. Mas Miguel Gomes quis mise-en-scène, ser realizador na cerimónia. Desafiou o protocolo e disse que era ele a dirigir aquela “sequência”, que se estava a sentir sozinho no palco. Pois bem, chamou a equipa ao palco e disse que o cinema não se faz sozinho. Depois, puxou as brasas ao cinema português: “obrigado ao cinema português e aos seus grandes cineastas que me inspiraram como Manoel de Oliveira”.

Agora, infelizmente, se não houver mudanças, o filme poderá ser visto comercialmente entre nós depois do verão. É pena não capitalizar já este prémio e o alarido cannois - em França os filmes que estreiam em cima do festival têm tido resultados comerciais notáveis, em particular Le Deuxième Acte, de Quentin Dupieux. Espera-se uma carreira internacional fulgurante para um filme que teve uma receção crítica muito favorável, mesmo havendo alguns detratores.

Na noite anterior, a produtora do filme, Filipa Reis, não parecia muito otimista quanto aos rumores de palmarés. Ao DN chegou mesmo a dizer que não tinha recebido nenhum sinal da organização do festival para não apanhar o avião de volta...

Gomes “feliz e orgulhoso”

Miguel Gomes, num encontro com a imprensa após a vitória falava em honra e dizia-se feliz: “a primeira pessoa em quem pensei mal ouvi o meu nome a ser chamado ao palco foi alguém da minha equipa que, por acaso, está casada comigo e estava, felizmente, ao meu lado”. O filme é precisamente dedicado a Maureen Fazendeiro, cineasta também.

O filme nasce de uma inspiração de uma parte de um romance de Somerst Maugham e trata-se de uma história que é divida em dois momentos e pontuada com imagens reais na Ásia contemporânea, recolhidas em vários formatos, misturadas com o esplendor do estúdio, neste caso um estúdio em Roma onde se recriam florestas, hotéis e outras ambiências asiáticas.
Prémio importante nas curtas-metragens

Também nas curtas-metragens houve boas notícias: Daniel Soares, cineasta aveirense, foi agraciado com a menção do júri por Bad For a Moment - Mau por um Momento, observação bem curiosa de um impasse moral de um arquiteto que pode estar a contribuir para a gentrificação num bairro “problemático” na Margem Social.

A invasão de Cannes não podia ter corrido melhor. Não é por acaso que Payal Kapadia no discurso ao agradecer o Grand Prix tenha referido que Miguel Gomes é uma referência...

Em Cannes

Tópicos: Cinema, MIguel Gomes