No discurso da vitória Miguel Gomes falou em sorte. Mas o júri presidido por Greta Gerwig não deu o prémio de melhor realização por um capricho. Esta história de amor no sudeste da Ásia que se teatraliza por entre as camadas do real que as paisagens orientais dão deve ter tocado Gerwig e companhia.
O prémio de melhor realização em Cannes vai dar uma visibilidade estratosférica a Grand Tour, cinema destemidamente de ensaio sem perder o pé no grande romanesco. Mas Miguel Gomes quis mise-en-scène, ser realizador na cerimónia. Desafiou o protocolo e disse que era ele a dirigir aquela “sequência”, que se estava a sentir sozinho no palco. Pois bem, chamou a equipa ao palco e disse que o cinema não se faz sozinho. Depois, puxou as brasas ao cinema português: “obrigado ao cinema português e aos seus grandes cineastas que me inspiraram como Manoel de Oliveira”.