Para Isabel Moreira, André Ventura proferiu “palavras difamatórias” quando acusou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de ter cometido uma traição à pátria. A deputada socialista vai mais longe e acusa o Chega de fazer um “número político”.
“É absurdo querer convencer alguém de que acredita que está preenchido o tipo de traição à pátria”, disse ao DN, acrescentando que “quando se fala de traição, quanto muito ele [André Ventura] é que está a cometer um crime. Não é mais ninguém.”
“Não sei se está em causa o Presidente ter oferecido a nossa soberania da mãe pátria ou ter posto em causa a independência nacional, para atos violentos, para não violentos”, afirma a deputada, com ironia, recordando o que está escrito na lei e que tem sido alegado pelo Chega para acusar Marcelo de traição por ter defendido, durante um jantar com jornalistas estrangeiros radicados em Portugal, a reparação histórica face às antigas colónias.
A lei diz que “o titular de cargo político que, com flagrante desvio ou abuso das suas funções ou com grave violação dos inerentes deveres, ainda que por meio não violento nem de ameaça de violência, tentar separar da Mãe-Pátria, ou entregar a país estrangeiro, ou submeter a soberania estrangeira, o todo ou uma parte do território português, ofender ou puser em perigo a independência do país será punido com prisão de dez a quinze anos”.
No entanto, para Isabel Moreira “é evidente que é patético. E André Ventura é jurista e sabe que está, ele sim, eventualmente a cometer um crime”. Para além disto, lembra a deputada, “não cabe à Assembleia da República estar a condenar o Presidente da República” e é absurdo [André Ventura] querer convencer alguém de que acredita que está preenchido o tipo de traição à Pátria. Não está.”
Isabel Moreira tinha apresentado esta quarta-feira esta posição durante a sua intervenção na Comissão de Assuntos Constitucionais, quando afirmou que “o Chega age conscientemente contra a honorabilidade do Presidente da República”, o que é “altamente difamatório”.
Ao DN, Isabel Moreira esclareceu que em nenhum momento disse que este processo levantado pelo Chega é “crime de difamação agravada”. “Eu não sou Ministério Público, não me cabe a mim qualificar”, sublinhou, enquanto recuperou as palavras do deputado do PCP António Filipe, que lembrou que o crime de insulto ao Presidente da República “está previsto e é punido no Código Penal”.
“Não estamos aqui para brincar com o dinheiro do povo, os deputados são pagos para fazer coisas sérias e não para gozar com quem trabalha”, considerou António Filipe.
Sendo público o crime de “ofensa à honra do Presidente da República”, tal como está previsto na lei, o DN contactou a Procuradoria-Geral da República para saber se o Ministério Público iria avançar com algum processo neste sentido. No entanto, até à hora de fecho desta edição não obteve resposta.