Diogo Costa
03 julho 2024 às 07h41
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“O menino de ouro” da avó Fernanda que sonhava ser o melhor guarda-redes do Mundo

A mãe, Armanda Meireles, falou ao DN sobre o suporte familiar ao novo herói nacional, o primeiro a defender três penáltis na história dos Europeus e assim apurar Portugal para os quartos de final do Euro2024.

Diogo Costa é um “menino de ouro”, que enche de orgulho a família, que prefere resguardar o novo herói nacional mantendo as memórias no seio familiar. Apesar do Mundo do futebol lhe elogiar a técnica, agilidade e o instinto com que se agigantou para defender três grandes penalidades frente à Eslovénia e apurar Portugal para os quartos de final do Euro2024, a mãe, Armanda Meireles, realçou ao DN o lado humano, o caráter, o trabalho e os sacrifícios que o guardião e a família fizeram para que o agora dono da baliza nacional cumprisse o sonho. 

“É mesmo como o Diogo disse, é fruto de muito trabalho, desde criança que é muito disciplinado e cumpridor das suas obrigações, fosse em casa ou no treino, e também muito educado, por isso a avó Fernanda chamava-lhe ‘o meu menino de ouro’. É um orgulho enorme vê-lo a cumprir os sonhos dele”, contou a mãe, que por estes dias não é a única com orgulho no filho.

O sonho de Diogo começou no Pinheirinhos Ringe, clube do bairro comunitário antes conhecido como o bairro do Iraque, em Vila das Aves, de onde não se esperava que saísse nada de bom. Ele e Vitinha, que o acompanhou no FC Porto e está com ele na seleção, são a prova do contrário. Diogo, filho de emigrantes portugueses, nascido em Rothrist, na Suíça, a 19 de setembro de 1999, só lá esteve uns meses, o suficiente para passar a ser guarda-redes. 

Um dia o treinador Adílio Pinheiro (daí o clube ser o Pinheirinhos de Ringe) disse-lhe que todos tinham de ir pelo menos uma vez à baliza, mas ele era bom de pés e queria era marcar golos. Chegou a casa e queixou-se ao avô Joaquim  [Meireles, que chegou a ser reserva no Desp. Aves nos anos 70/80], mas dias depois voltou aos treinos todo equipado, de luvas e disposto a deitar-se para o chão. 

“Até hoje não tive uma queixa de nenhum treinador ou professor. O Diogo sempre foi muito respeitador e focado no que tinha de fazer. Entregou-se a todos os projetos com muita dedicação, mesmo sacrificando momentos em família. Muitos almoços de Páscoa atrasados à espera que ele viesse de um torneio”, disse a mãe, recordando: “Ele não teve férias como os outros miúdos, as férias dele eram em torneios com o clube ou na seleção, e ele era feliz assim. Eu sei que esta é a realidade de muitos miúdos que querem jogar futebol, mas ele levava a missão a sério.”

Por isso, Armanda fica sensibilizada quando o filho diz que o trabalho compensa tudo e que foi buscar forças à família. E não é apenas a família de sangue, é também aquela que Diogo Costa escolheu: “A Catarina, além de ser uma grande esposa, é uma mãe maravilhosa e dá todo amor e apoio ao meu filho e ao meu neto e estamos muito gratos por ela estar nas nossas vidas.”

Diogo Costa Instituto Nun'Alvres

O desenho e os milhões

Antes dos treinos havia escola e foi no Instituto Nun'Alvres que um dia desenhou o futuro. Quando a professora Joana pediu à turma para cada um fazer um desenho sobre o que gostariam de ser quando fossem grandes, o jovem Diogo, então com oito anos de idade, rabiscou algo parecido com um guarda-redes e a frase: “Quero ser o melhor guarda-redes do Mundo”. Uma preciosidade emoldurada e só à vista “dos de casa”. 

“Orgulho é a palavra do meu dia! Meu e de todos os portugueses que vibraram com a forma como levaste mais longe as cores de Portugal. Mas, como sabes, o meu orgulho não é de hoje. Que felicidade em saber que continuas o mesmo menino humilde e lutador. Aquele que, desde cedo, e com o apoio de uma família fantástica, mostrou um sentido de ética e compromisso irrepreensíveis, dentro do campo ou da sala de aula. Muitos parabéns, Diogo! Como sempre, continuarei aqui, de pé, a aplaudir todas as tuas conquistas”, escreveu a professora Joana de Miranda na página do Instituto Nun'Alvres, horas depois de Diogo Costa tem brilhado no Europeu.

O sonho de ser o melhor do Mundo virou desejo e objetivo com o passar dos anos, assim como a conquista de troféus individuais e coletivos. Aos 24 anos, o sonho do dono da baliza do FC Porto e da seleção nacional está cada vez mais próximo de ser uma realidade. 

Em 2023 esteve entre os nomeados da Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol para melhor guarda-redes do mundo, e hoje é o guardião mais valioso do futebol mundial, a par de Donnarumma (PSG), avaliado em 40 milhões de euros pelo site transfermarket.

Tem contrato com o FC Porto até 2027 e uma cláusula de rescisão de 75 milhões de euros (que poderá subir para os 100ME). “É um dos maiores ativos e não temos interesse nenhum em nos vermos livres do mesmo, queremos que continue com as cores do FC Porto, que as suas exibições se prolonguem até final do Euro”, disse ontem André Villas-Boas em jeito de aviso aos muitos interessados.

O presidente portista foi menos efusivo nos elogios do que foi o selecionador. “Diogo é o segredo mais oculto do futebol europeu e hoje [segunda-feira]apareceu num patamar diferente, foi incrível na situação do um contra um”, disse Roberto Martínez depois da exibição monstruosa do guardião diante da Eslovénia, que o tornou no único que defendeu três penáltis na história dos Europeus.

Uma exibição que ele próprio resumiu numa palavra - “Inexplicável” - numa publicação no Instagram, onde em meia dúzia de horas passou de 386 mil para 641 mil seguidores, depois das imagens das suas defesas viralizarem.

isaura.almeida@dn.pt