A eleição do presidente da Assembleia da República, que não foi conseguida após três votações, ilustra as dificuldades que o primeiro-ministro indigitado, Luís Montenegro, terá para governar sem apoio parlamentar maioritário. O candidato da Aliança Democrática (AD), José Pedro Aguiar-Branco, nem sequer foi o mais votado, ficando dois votos atrás do socialista Francisco Assis na segunda e na terceira votações, realizadas ontem à noite.
Aguiar-Branco conseguiu apenas 88 votos nas duas últimas votações. Apesar de o voto ser secreto, com cada um dos deputados a ser chamado para colocar o seu voto numa urna na sala do plenário, esse resultado indicia que o social-democrata teve apenas o apoio dos 78 parlamentares do PSD, dos dois do CDS-PP e dos oito da Iniciativa Liberal (IL).
No final da terceira votação, com um impasse que leva a que possam ser apresentadas novas candidaturas hoje de manhã, até às 11h00, André Ventura voltou a desafiar Luís Montenegro a “um entendimento à direita” que permita a eleição de um deputado da AD para a presidência da Assembleia da República. “Estou disponível à hora que ele quiser e no lugar em que ele quiser”, disse o líder do Chega, que foi alcunhado de “irresponsável” pelo líder da IL, Rui Rocha, que descreveu o episódio como o “triste espetáculo” provocado pela “birra de uma criança grande”.
Os sinais de que a segunda figura do Estado não ficaria definida na primeira sessão da legislatura tornaram-se claros na primeira votação, realizada durante a tarde, quando José Pedro Aguiar-Branco era o candidato único. Naquilo que o ainda líder parlamentar social-democrata Joaquim Miranda Sarmento descreveu como “a primeira coligação negativa desta legislatura”, as bancadas parlamentares do PS e do Chega contribuíram para que o social-democrata tivesse apenas 89 votos favoráveis, com 134 votos em branco e sete nulos..
Na segunda votação, o candidato socialista Francisco Assis foi o mais votado, com 90 votos, mais dois do que José Pedro Aguiar, enquanto a deputada do Chega Manuela Tender teve apenas 49 votos. Houve ainda dois votos em branco e um dos 230 deputados não esteve presente na votação noturna.
Os resultados foram anunciados pelo deputado comunista António Filipe, responsável pela condução dos trabalhos, que instruiu os deputados a “não saírem dos seus lugares”, de modo a que a segunda volta, entre Assis e Aguiar-Branco, enquanto candidatos mais votados, se realizasse logo que a ata da votação estivesse elaborada. Mas os resultados mantiveram-se inalterados, com 52 votos em branco.