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Parlamento
25 novembro 2024 às 00h42
Leitura: 6 min

CDS nega provocação e diz querer sessão do 25 de Novembro desde 2000

A primeira sessão solene dedicada à data que representa a derrota da extrema-esquerda no PREC divide os dois lados do hemiciclo. Mas só o PCP recusou participar.

Quarenta e nove anos depois da data em que os militares ligados ao Grupo dos Nove, que defendia um regime democrático, triunfaram sobre unidades militares dominadas pela esquerda radical, a Assembleia da República recebe esta segunda-feira de manhã uma inédita “sessão solene evocativa do dia 25 de Novembro de 1975”. Uma celebração nascida de um projeto de resolução do CDS-PP, e aprovada por toda a direita parlamentar, num raro momento de convergência entre AD, Chega e Iniciativa Liberal, que tem sido rotulada à esquerda de “provocação”, por não passar de uma equiparação ao 50.° aniversário do 25 de Abril de 1974.

A esse propósito, o líder parlamentar dos centristas, Paulo Núncio, que tem sido um dos políticos mais empenhados em levar o 25 de Novembro à Assembleia da República, recusa que haja vontade de provocar e realça que o primeiro projeto de resolução nesse sentido foi apresentado pelo CDS-PP em 2000, numa iniciativa dos então deputados Paulo Portas, António Pinho e Pedro Mota Soares, para assinalar o 25.° aniversário. “É uma causa antiga do CDS”, defende Núncio, para quem a data assinalada esta segunda-feira representa a “consolidação do modelo de democracia ocidental que constituiu sempre a escolha da maioria dos portugueses”.

Quanto à anunciada ausência do PCP, Paulo Núncio não diz que seja uma situação em que só faz falta quem estiver, mas ainda assim vai salientar na sua intervenção que “celebramos o direito de todas as forças políticas estarem aqui, por vontade do povo, mesmo aquelas que não querem estar aqui hoje [esta segunda-feira]”.

Numa sucessão de discursos que começará com a deputada única do PAN, Inês de Sousa Real, dois dos partidos do lado direito do hemiciclo estarão representados pelos líderes. Rui Rocha falará pela Iniciativa Liberal, que se apresenta como o único partido que celebra de forma igual o 25 de Abril e o 25 de Novembro, seguindo-se André Ventura pelo Chega.

Para o final ficarão Pedro Delgado Alves, pelo PS, que tem sido acusado, desde o período da geringonça, de se ter afastado da data histórica em que esteve entre os maiores vencedores. E o PSD fará subir à tribuna Miguel Guimarães, antigo bastonário dos Médicos, um dos poucos no hemiciclo com memórias do PREC, pois tinha 13 anos em 1975. Mas não será o último a falar: haverá discursos do presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, e do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Mais à esquerda, o Livre deve ser representado pelo porta-voz, Rui Tavares, enquanto grupos parlamentares que se opõem à sessão seguem caminhos diferentes. Dos deputados bloquistas, só Joana Mortágua estará presente - e irá falar -, enquanto o PCP optou pela ausência de todos os seus eleitos.

Eanes presente

Numa cerimónia em que o protocolo prevê lugar para antigos Presidentes da República, presidentes da Assembleia da República e primeiros-ministros, esperam-se muitas ausências. Mas não a de Ramalho Eanes, que além de ser o primeiro chefe de Estado eleito em democracia, coordenou as forças militares que triunfaram a 25 de Novembro de 1975, apesar de ter chegado a dizer que “os momentos fraturantes não se comemoram”.

De fora fica Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril e um dos responsáveis pela vitória sobre os militares de extrema-esquerda. Isto porque, nas suas palavras, a direita parlamentar está “a distorcer e a mascarar o que passou” há 49 anos. O mesmo farão Pezarat Correia e Rodrigo Sousa e Castro, que também foram membros do Grupo dos Nove. Pelo contrário, a Associação de Comandos estará representada numa sessão em que o falecido Jaime Neves será recordado pelas bancadas à direita.

Também antecessores de José Pedro Aguiar-Branco não participarão na sessão. Entre os socialistas, Ferro Rodrigues confirmou ao DN que não tenciona ir a São Bento, e ninguém espera ver o sucessor, Augusto Santos Silva. O mesmo se deverá aplicar a antigos primeiros-ministros, como António Guterres, José Sócrates e António Costa.

Exposição do Mais Liberdade em São Bento

Dois anos após ter tido a exposição Memória - Totalitarismo na Europa rejeitada pela Assembleia da República, com os partidos de esquerda, então maioritários, a obstarem à junção de regimes nazis, fascistas e comunistas europeus, o Instituto Mais Liberdade tem, a partir desta segunda-feira, 25 de novembro, no Palácio de São Bento, 25N - A História Que Não Te Contaram, composta por 16 painéis que relatam momentos do Processo Revolucionário em Curso (PREC).

A exposição só seria autorizada com a aprovação de todos os partidos, mas só necessitou do voto favorável dos representantes do PSD, PS e Chega, face à ausência dos restantes e à autoexclusão do deputado da Iniciativa Liberal, Carlos Guimarães Pinto, diretor não-executivo do Mais Liberdade.

Ao DN, o seu diretor executivo, André Pinção Lucas, realça a importância de as comemorações do 25 de Novembro de 1975 ficarem associadas à exposição, inaugurada em 2022, passando desde então por 250 escolas. E, apesar do “esforço de ser o mais rigoroso possível”, admite: “Não estou à espera de que os comunistas gostem.”