O final de 2023 trouxe uma confirmação já esperada: o ano foi considerado o mais quente do planeta desde que há registo. Mas esse não foi o único registo climático quebrado em 2023, veio acompanhado de vários outros. Em vários locais do mundo, como Madrid ou Hong Kong, foram batidos recordes de precipitação máxima num dia, tendo sido atingidos valores que não eram registados há várias décadas. Os oceanos estão a aquecer cada vez mais, o nível do mar continua a subir e o ano que se segue pode ultrapassar os recordes do que passou.
“Este é um recorde sem precedentes”, afirma Pedro Nunes da associação ambientalista Zero. Em 2023, segundo dados da NASA e do Copérnico, o Programa de Observação da Terra da União Europeia, registou-se um aquecimento global de cerca de 1,5 graus Celsius, também o limite colocado pelo Acordo de Paris. O ano passado ultrapassou em 0,17 graus o de 2016, que era considerado até agora o mais quente de sempre. “Normalmente estes recordes são batidos por 0,01ºC, mas neste caso tivemos 0,17 graus. Estamos com níveis de médias de temperatura que estão a suplantar aquilo que os modelos climáticos previam. Os modelos previam que atingíssemos temperaturas deste nível só mais perto de 2030”.
O professor e investigador Filipe Duarte Santos acrescenta ainda que os fenómenos extremos, sejam eles ondas de calor, de frio, níveis elevados de precipitação ou outros, estão a tornar-se mais frequentes em todo o planeta. “No que respeita à precipitação também temos eventos extremos, eventos de precipitação muito elevada em intervalos de tempo curtos, que têm tendência a provocar inundações e também secas mais frequentes e mais prolongadas”, explica Filipe Duarte Santos.
No passado mês de agosto, na China, registou-se uma semana de precipitação intensa que causou inundações históricas. Num dos reservatórios foram registados 744.8 milímetros de chuva, o valor mais alto desde 1891. Também no Paquistão, chuvas recorde causaram milhares de mortos e milhões de deslocados. Por outro lado, no Corno de África, cinco épocas consecutivas de seca foram seguidas de grandes inundações, devido à falta de capacidade do solo de absorver a água das chuvas.
Também em agosto de 2023, a temperatura da superfície dos oceanos atingiu um recorde de 20,98 graus Celsius, de acordo com dados do programa Copérnico. Os oceanos são responsáveis por absorver 90% do excesso de energia provocado pelo aumento do efeito de estufa. “O oceano é um grande regulador do clima e da temperatura que depois temos no ar. Ora, ao aquecer, deixa de ter a capacidade de regular a temperatura do ar atmosférico”, adverte Pedro Nunes, da Zero.