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Segurança rodoviária
20 dezembro 2024 às 00h09
Leitura: 11 min

Atropelamentos fizeram 487 vítimas em Lisboa. PSP preocupada com acidentes em passadeiras

Até meados de dezembro, foram registados pouco mais de cinco mil acidentes na capital. Apesar de a maior parte serem colisões, o número de pessoas atropeladas já está quase nos valores de 2023.

Até 15 de dezembro, a PSP registou, só no distrito de Lisboa, mais de 15 mil acidentes com vítimas, o que se traduz em 16 mortes, 166 feridos graves e 6264 sem gravidade. Mas a maior parte (10 401) causou apenas danos.

Segundo dados da PSP consolidados até ao domingo passado, a que o DN teve acesso, destes mais de 15 mil acidentes, 5021 foram no concelho de Lisboa. E, esmiuçando os números, é possível perceber que os atropelamentos, apesar de não serem o tipo mais comum de acidente, foram 487, ou seja, quase 10% da totalidade. As colisões representam a maior fatia (3972 registos), seguidas dos despistes (562).

João Ramos, chefe da Divisão de Trânsito e Segurança Rodoviária da PSP, explicou ao DN que “as passadeiras” nas artérias com mais trânsito preocupam. Foi, aliás, numa destas passagens de peões, em Entrecampos, que um jovem de 21 anos morreu, no dia 6 de setembro, após ser atropelado por um taxista. Na mesma zona, outra pessoa morrera duas semanas antes. Devido à falta de segurança rodoviária e pedonal naquela parte da cidade, foi criada uma petição (Entrecampos Com Mais Segurança Rodoviária e Pedonal), dirigida à Assembleia Municipal, exigindo uma melhoria das condições. Esta petição conta já com mais de duas mil assinaturas.

Quatro pontos críticos e as principais causas

Ainda segundo a PSP, as vias que mais preocupam são, sobretudo, quatro. De acordo com os dados, o Eixo Norte-Sul, um dos principais acessos à capital, foi a zona com mais sinistralidade grave (18 acidentes) até à data, seguindo-se a A2, na entrada para o tabuleiro da Ponte 25 de Abril, com 11. O IC17 (mais conhecido como CRIL) é a terceira via que mais trabalho deu, tendo registado dez acidentes, mais três do que a Avenida Marginal (que liga os concelhos de Lisboa e Oeiras).

Procurando uma explicação para estes números, João Ramos refere que existem duas grandes causas: o excesso de velocidade e a condução sob o efeito do álcool. “São os dois tipos de situações que mais ocorrem”, diz o responsável. De janeiro até setembro deste ano, a PSP ‘apanhou’ 7545 condutores que estavam ao volante com álcool no sangue, 3388 tinham uma taxa de alcoolemia igual ou superior a 1,2 gramas por litro de sangue (ou seja, estavam a cometer um crime).

No que toca ao uso continuado do telemóvel durante a condução, houve 5149 infrações registadas até setembro. Em 2023, foram 7873.

Ainda em termos operacionais, a PSP destaca os quase 25 mil condutores cujo veículo não tinha a inspeção periódica realizada e, por outro lado, os quase 13 mil que não tinham seguro. Até setembro, a polícia (cuja área de ação se cinge, sobretudo, aos grandes centros urbanos), detetou quase 200 mil infrações. Em todo o ano de 2023, foram registadas 323 329.

“Há claramente um aumento”

Olhando para os dados agrupados por distrito, há uma relação que salta à vista: apesar de os números só estarem fechados até dia 15 de dezembro, já houve, em todo o distrito de Lisboa, mais mortes em acidentes rodoviários do que em 2023.

Com praticamente o mesmo número de acidentes com vítimas (5186 este ano, 5418 no ano passado), houve mais 12 mortos, bem como feridos graves.

“O que se verifica, nos últimos anos é que, em termos de sinistralidade, o distrito de Lisboa é aquele onde há mais acidentes e mortes”, analisa João Ramos. Isto deve-se, sobretudo, “ao número de pessoas que residem na área metropolitana de Lisboa e no distrito”. “Há claramente um ligeiro aumento entre os números deste ano e do ano passado”, conclui.

Quais as causas para estes números? “Na globalidade, os acidentes ocorrem principalmente porque têm comportamentos de risco que não deveriam ter. As principais causas de acidentes, centram-se, principalmente, nestes dois: excesso de velocidade e condução sob efeito do álcool. São comportamentos de risco que os condutores adotam, que têm uma causa direta com os acidentes de viação e com as consequências desses acidentes.”

E ainda que tenha havido, nos últimos anos, “uma forte aposta” na criação de programas de segurança rodoviária, que se traduziram numa diminuição”, continuam a existir “muitos mortos” nas estradas em Portugal, isto apesar “da fiscalização e das sensibilizações” que a PSP fazendo e da “melhoria das vias”. E, no entender de João Ramos, “a nova aposta na Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária para Portugal - que ainda não está em vigor - inserirá melhoras “contínuas” nas vias para que, “na possibilidade de ocorrer um acidente de viação, todas as outras componentes possam, de certa forma, mitigar o impacto, seja em termos de estradas ou, até, em tempos de resposta dos meios de socorro. Apesar desta vontade em reduzir os números da sinistralidade nas estradas, a Autoridade Nacional para a Segurança Rodoviária terá, em 2025, um orçamento de 51,3 milhões de euros, o que é uma diminuição de 8,7% face a 2024. O Governo justificou a decisão com a orçamentação “sobrevalorizada de anos anteriores”. 

Trotinetes: uma preocupação

Ainda segundo João Ramos, há um outro fator que, além das vias, coloca a divisão de trânsito em alerta: as trotinetes.

De acordo com o Código da Estrada, “se os utilizadores das trotinetes tiveram mais de 10 anos, têm de circular na via pública”. Mas isso, diz o subintendente, “nem sempre é percecionado pelos cidadãos. Então, muitas vezes usam as trotinetes em cima do passeio”, o que representa mais um fator de perigo para os peões.

Segundo o responsável, “no caso das trotinetes que são equiparadas a velocípedes nos termos do Código da Estrada, devia ser obrigatório o uso de capacete”. A PSP tem, aliás, “alertado para as consequências dos acidentes decorrentes de uso das trotinetes, sendo que uma das principais zonas que é afetada são as lesões cranioencefálicas, precisamente porque os utilizadores não utilizam” esse equipamento de proteção. 

Contudo, o problema não é só nacional, “temos algumas capitais europeias que já aboliram por completo o uso da trotinete partilhada nas cidades, como Paris ou Madrid, porque, precisamente, verificaram que havia uma taxa de acidentes muito significativa e os próprios utilizadores depois também não tinham zonas específicas para as deixar e acabava por haver algumas situações de acumulação desses mesmos veículos.”

Operações de Natal e Ano Novo já na estrada

Desde a passada quarta-feira (dia 18) e até 2 de janeiro a PSP e a GNR estarão nas estradas para as habituais operações de Natal e Ano Novo, com a intenção de reduzir a criminalidade geral e a sinistralidade rodoviária.

Com cinco eixos de atuação (Proximidade; Visibilidade e proatividade policial; Segurança rodoviária; Segurança aeroportuária e controlo fronteiriço; e Segurança na posse e utilização de artigos de pirotecnia), a PSP, cuja área de atuação são os grandes centros urbanos, focar-se-á na “grande visibilidade nas zonas de maior afluência de pessoas, nomeadamente zonas históricas e comerciais, aeroportos e demais interfaces de transportes públicos, zonas turísticas e zonas de diversão noturna”, segundo nota enviada às redações.

O subintendente João Ramos explica que a PSP vai “incidir a atuação para o excesso de velocidade, principalmente dentro das localidades” com atenção, também, às passagens nas passadeiras, de forma a tentar evitar os atropelamentos. “E, depois, no período do Ano Novo, a nossa atenção incidirá principalmente sobre o excesso de velocidade e a condição sob o efeito do álcool, uma vez que nesta data existe uma propensão para os festejos”, acrescenta o diretor da Divisão de Trânsito e Segurança Rodoviária da PSP. Além disso, serão também fiscalizados os engenhos pirotécnicos, cujo licenciamento é, também ele, competência da polícia.

Por outro lado, a GNR divide a sua operação em três fases: uma antes das festividades, outra durante e a última entre o Natal e o Ano Novo. A intenção é que, antes do Natal, haja a sensibilização para quem, por exemplo, se ausentar de casa neste período, de modo a evitar assaltos. Depois, entre hoje e até dia 26, “o patrulhamento será dirigido para a prevenção, fiscalização, apoio, aconselhamento e segurança de todos os cidadãos”, explicou a GNR em comunicado. Por fim, entre 27 de dezembro e até ao dia 2 de janeiro, “intensifica-se a necessidade de patrulhamento em locais de festividades e concentração de pessoas, zonas residenciais, de diversão, comerciais e industriais, com o objetivo de garantir a segurança e tranquilidade pública”.

 Tal como no caso da Polícia de Segurança Pública, também a Guarda garante estar “atenta aos comportamentos de risco dos condutores”, como o excesso de velocidade, a condução sob o efeito de álcool, a utilização do telemóvel ou, ainda, “à não utilização do cinto de segurança e/ou dos sistemas de retenção para crianças”. Deixando conselhos, a GNR pede aos condutores que, entre outras, haja uma adequação da velocidade de acordo com as condições meteorológicas, bem como uma “condução atenta, cautelosa e defensiva”, que previna acidentes.