EUA
15 novembro 2024 às 15h15
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Robert F. Kennedy Jr. O ativista antivacinas que Trump quer à frente da Saúde

O sobrinho do ex-presidente John F. Kennedy, que desistiu em agosto da candidatura independente à presidência para apoiar o republicano, é mais uma escolha polémica para a Administração.

Robert F. Kennedy Jr, sobrinho do ex-presidente John F. Kennedy (mas de costas voltadas para a família) e um conhecido ativista antivacinas, é a aposta do presidente eleito Donald Trump para secretário da Saúde e dos Serviços Humanos (HHS, na sigla em inglês).

As vacinas não são a única posição polémica em questões de saúde. RFK Jr., de 70 anos, questionou o facto do vírus do HIV causar a sida e até sugeriu que os antidepressivos levam aos tiroteios nas escolas.

Defende também que as agências responsáveis pela qualidade de água devem deixar de adicionar flúor à água (uma medida que ajuda na saúde oral da população).

Na sua campanha, apregoou a eficácia do leite cru (que não tem qualquer tratamento e que pode ter bactérias nocivas) e da ivermectina, um medicamente antiparasitas, contra a Covid-19 (já foi dito que não tem qualquer eficácia).

Kennedy também alegou (durante o processo de divórcio em 2012) que as curtas perdas de memória e confusão mental se deviam ao facto de uma larva ter comido parte do seu cérebro, antes de morrer.

Antivacinas

"Não há vacina que seja segura e eficaz", disse Kennedy num podcast em 2023, pedindo noutras ocasiões aos norte-americanos que resistam às diretrizes oficiais sobre a vacinação das crianças – dadas por uma das agências que poderá liderar na próxima Administração (tem ainda que ser aprovado pelo Senado).

Durante anos liderou a organização sem fins lucrativos que fundou, a Children's Health Defense (suspendeu a sua participação quando declarou a intenção de concorrer às presidenciais, que abandonou em agosto quando declarou o apoio a Trump). A missão da organização é "acabar com as epidemias de saúde infantil eliminando a exposição tóxica".

RFK Jr. tem dito que não é antivacinas, alegando que só quer que estas sejam rigorosamente testadas. Isto apesar de ter várias vezes defendido a ideia de que as vacinas causam autismo. Há casos raros em que as pessoas têm reações adversas às vacinas, mas a Organização Mundial de Saúde lembra que estas são adminitradas a milhões de pessoas e que são seguras, prevenindo cerca de cinco milhões de mortes por ano.

Elogio de Trump

"Durante demasiado tempo, os americanos foram esmagados pelo complexo industrial alimentar e pelas empresas farmacêuticas que se envolveram em engano, em passar informações erradas e em desinformação quando se trata de saúde pública", disse Trump nas redes sociais.

E defendeu que Kennedy "vai restaurar estas agências às tradições da melhor investigação científica e farol da transparência, para acabar com a epidemia das doenças crónicas e tornar a América grande e saudável novamente".

"A segurança e a saúde de todos os americanos é o papel mais importante de qualquer administração e o HHS desempenhará um grande papel para ajudar a garantir que todos estarão protegidos contra produtos químicos nocivos, poluentes, pesticidas, produtos farmacêuticos e aditivos alimentares que contribuíram para o esmagadora crise de saúde neste país", acrescentou Trump.

Ideias para a Administração

RFK quer tirar dinheiro das doenças infecciosas e apostar no que apelida precisamente de "epidemia de doenças crónicas", que inclui obesidade, diabetes, autismo e doença mental. Doenças que diz serem responsabilidade das empresas gananciosas, que temem que os americanos saudáveis lhes prejudiquem os lucros, e dos produtores de alimentos que usam pesticidas e aditivos nocivos.

Entre as ideias que tem para o setor está acabar com a "porta giratória" dos funcionários que antes de trabalhar para o Governo trabalharam nas farmacêuticas ou que saem para trabalhar nessa indústria, segundo a AP. E está preparado para uma purga no setor, apesar de os cientistas e investigadores não serem cargos políticos, querendo avaliar os eventuais conflitos de interesses e promover a transparência.

"Estou ansioso por trabalhar com os mais de 80 mil funcionários do HHS para libertar as agências da nuvem sufocante da captura corporativa, para que possam prosseguir a sua missão de tornar os americanos mais uma vez as pessoas mais saudáveis ​​da Terra", escreveu RFK Jr. no X.

Um dos seus principais alvos será a FDA, a agência responsável por garantir a segurança e eficácia dos medicamentos e dos produtos biológicos, sendo que quase metade do seu financiamento vem das farmacêuticas e outras indústrias do setor da saúde, que pagam uma "taxa de utilização" – para que os seus produtos sejam testados.

Kennedy

RFK Jr. é sobrinho de JFK, o presidente morto a tiro em 1963, e um dos 11 filhos de Robert F. Kennedy, ex-procurador-geral dos EUA e senador assassinado em 1968, quando era candidato à nomeação democrata à Casa Branca.

Quando ainda era candidato à presidência (como independente), três das suas irmãs e um dos irmãos disseram, em comunicado, que a sua candidatura era "perigosa para o país", distanciando-se das suas posições políticas.