Com “a ajuda de familiares”, a Polícia Judiciária (PJ) conseguiu deter Fernando Silva (conhecido como “Nando”), principal suspeito do triplo homicídio que aconteceu há uma semana no Bairro do Vale, na Penha de França, em Lisboa.
O esconderijo? Uma casa de uma prima na vila do Pinhal Novo, no distrito de Setúbal, a cerca de 35 quilómetros do local do crime. Uma vez localizado, a PJ cercou o bairro onde Fernando estava e o pai do suspeito (com quem já tinha tido desentendimentos no passado) acabou por entregá-lo.
De acordo com a nota da PJ, “desde que os factos [do crime] foram comunicados” à polícia, “desencadeou-se um trabalho incessante de investigação e de recolha de informação, que conduziu à localização do suspeito”. Depois de ter sido detido, Fernando Silva foi levado para a sede da Polícia Judiciária.
Esta quarta-feira, será presente ao primeiro interrogatório judicial, no Tribunal Central de Instrução Criminal de Lisboa, onde lhe serão aplicadas as primeiras medidas de coação. Pela natureza do crime de que é suspeito, Fernando Silva arrisca a pena máxima de prisão (25 anos).
De acordo com os primeiros dados da investigação, o suspeito terá atuado “por motivos fúteis”. Alegadamente, Carlos Pina (dono da barbearia Granda Pente, que se preparava para almoçar) terá recusado cortar o cabelo a Fernando Silva, que não tinha marcação no estabelecimento, localizado na rua Henrique Barrilaro Ruas, no Bairro do Vale. Como retaliação, disparou (com uma pistola de calibre 6.35 mm) sobre o barbeiro, matando-o. À saída, ter-se-á cruzado com Bruno Neto, taxista, e a sua mulher, Fernanda Júlia, que também alvejou e matou. O casal deixa uma filha órfã, e Fernanda estava grávida de um segundo filho. Carlos Pina era alguém querido no bairro, de quem miúdos e graúdos tinham boa impressão.
O caso, disse ao DN, na altura, fonte da PJ, “não representa qualquer tendência de aumento deste tipo de violência” e foi encarado como “um caso sem precedentes de violência gratuita”. “Não há nenhum indício de ligação a crime organizado, como tráfico de droga”, reiterou a mesma fonte.
Depois de assassinar as três pessoas, Fernando Silva colocou-se em fuga em direção à zona de Santa Apolónia.
Na rua Henrique Barrilaro Ruas, como o DN testemunhou, os moradores - que estavam incrédulos e em silêncio - fizeram uma espécie de memorial às vítimas e, no dia seguinte, colocaram flores e velas à porta da barbearia.
Na sequência do crime, diz a PJ, houve um “sentimento de insegurança e revolta” no bairro e a Polícia de Segurança Pública (PSP) ajudou na “reposição da segurança urbana”. Aliás, na noite após os acontecimentos, os moradores da rua incendiaram dois carros do suspeito, como forma de retaliação. Mais recentemente, a mãe de Fernando Silva deslocou-se à casa que habitava (alegadamente para ir buscar bens pessoais) e teve de ser protegida, bem como outros familiares, pelos elementos da PSP que estavam de prevenção na rua.
A presença policial foi colocada junto à casa do suspeito logo no dia seguinte ao crime, com dois agentes a estarem em permanência junto ao prédio em que o suspeito morava.