Crime na Penha de França
09 outubro 2024 às 22h09
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Triplo homicida de Lisboa foi detido a 35 quilómetros do local do crime

Fernando Silva estava em fuga há uma semana. PJ localizou-o e contou com a ajuda do pai, que o entregou às autoridades. Será presente esta quinta-feira ao primeiro interrogatório judicial.

Com “a ajuda de familiares”, a Polícia Judiciária (PJ) conseguiu deter Fernando Silva (conhecido como “Nando”), principal suspeito do triplo homicídio que aconteceu há uma semana no Bairro do Vale, na Penha de França, em Lisboa.

O esconderijo? Uma casa de uma prima na vila do Pinhal Novo, no distrito de Setúbal, a cerca de 35 quilómetros do local do crime. Uma vez localizado, a PJ cercou o bairro onde Fernando estava e o pai do suspeito (com quem já tinha tido desentendimentos no passado) acabou por entregá-lo.

De acordo com a nota da PJ, “desde que os factos [do crime] foram comunicados” à polícia, “desencadeou-se um trabalho incessante de investigação e de recolha de informação, que conduziu à localização do suspeito”. Depois de ter sido detido, Fernando Silva foi levado para a sede da Polícia Judiciária.

Esta quarta-feira, será presente ao primeiro interrogatório judicial, no Tribunal Central de Instrução Criminal de Lisboa, onde lhe serão aplicadas as primeiras medidas de coação. Pela natureza do crime de que é suspeito, Fernando Silva arrisca a pena máxima de prisão (25 anos).

De acordo com os primeiros dados da investigação, o suspeito terá atuado “por motivos fúteis”. Alegadamente, Carlos Pina (dono da barbearia Granda Pente, que se preparava para almoçar) terá recusado cortar o cabelo a Fernando Silva, que não tinha marcação no estabelecimento, localizado na rua Henrique Barrilaro Ruas, no Bairro do Vale. Como retaliação, disparou (com uma pistola de calibre 6.35 mm) sobre o barbeiro, matando-o. À saída, ter-se-á cruzado com Bruno Neto, taxista, e a sua mulher, Fernanda Júlia, que também alvejou e matou. O casal deixa uma filha órfã, e Fernanda estava grávida de um segundo filho. Carlos Pina era alguém querido no bairro, de quem miúdos e graúdos tinham boa impressão. 

O caso, disse ao DN, na altura, fonte da PJ, “não representa qualquer tendência de aumento deste tipo de violência” e foi encarado como “um caso sem precedentes de violência gratuita”. “Não há nenhum indício de ligação a crime organizado, como tráfico de droga”, reiterou a mesma fonte.

Depois de assassinar as três pessoas, Fernando Silva colocou-se em fuga em direção à zona de Santa Apolónia.

Na rua Henrique Barrilaro Ruas, como o DN testemunhou, os moradores - que estavam incrédulos e em silêncio - fizeram uma espécie de memorial às vítimas e, no dia seguinte, colocaram flores e velas à porta da barbearia.

Na sequência do crime, diz a PJ, houve um “sentimento de insegurança e revolta” no bairro e a Polícia de Segurança Pública (PSP) ajudou na “reposição da segurança urbana”. Aliás, na noite após os acontecimentos, os moradores da rua incendiaram dois carros do suspeito, como forma de retaliação. Mais recentemente, a mãe de Fernando Silva deslocou-se à casa que habitava (alegadamente para ir buscar bens pessoais) e teve de ser protegida, bem como outros familiares, pelos elementos da PSP que estavam de prevenção na rua.

A presença policial foi colocada junto à casa do suspeito logo no dia seguinte ao crime, com dois agentes a estarem em permanência junto ao prédio em que o suspeito morava.

Quem é Fernando “Nando” Silva?

Aos 33 anos, o principal suspeito do triplo homicídio tem cadastro por crimes menores e um historial de problemas ligados à saúde mental, nomeadamente esquizofrenia - doença de que padece. Estava a ser seguido no hospital psiquiátrico Júlio de Matos, em Lisboa.

Fernando Silva é casado e pai de quatro filhos, morando metros abaixo da barbearia onde  tudo aconteceu. No dia do homicídio, a mulher e as duas filhas mais novas terão visto o que sucedeu. Depois, a companheira de Fernando foi buscar outra criança à escola. Nem a mulher nem as crianças voltaram a ser vistas nas redondezas.

No passado, já tinha havido desacatos com o suspeito, nomeadamente com o pai (que também já terá estado preso). Na sequência dessa altercação, mudou-se de casa, passando a morar no primeiro andar do prédio habitado pelo pai. Mais recentemente, envolveu-se numa troca de tiros, cujas marcas ainda são visíveis na fachada do apartamento, junto a uma das janelas.