Barulhento, intenso e nostálgico. São estas as três palavras-chave do concerto dos Smashing Pumpkins, esta quinta-feira, no NOS Alive.
Em digressão pela Europa, Billy Corgan e os seus companheiros de palco não ligaram à velha máxima de nunca voltar onde se é feliz e, passados cinco anos, regressaram exatamente ao mesmo local da última vez: o Passeio Marítimo de Algés. E ainda nem estavam na hora marcada (21h50) quando subiram ao palco e se ouviram os primeiros acordes. Tal como nos outros espetáculos da digressão, foi ao som de Everlasting Glaze, lançada no início do milénio. Estava dado o mote para aquela que seria uma viagem ao passado pontuada com alguns temas mais recentes, ou não tivessem lançado Atum: A Rock Opera in Three Acts há praticamente um ano.
Depois de um início algo tímido, com o público ainda a digerir o jantar enquanto passeava pelo recinto, a primeira surpresa (e ovação) da noite surgiu com um cover de Zoo Station, dos U2, numa versão bastante mais barulhenta do que a original -- e com direito a um solo de bateria de Jimmy Chamberlin.
Mas foi só com Today, do clássico Siamese Dream, de 1993, que o público ficou verdadeiramente animado. Foi também aqui que Billy Corgan, pela primeira vez, sorriu de orelha a orelha para a multidão que ali cantava a plenos pulmões.
Os ânimos voltaram a resfrear depois, com uma passagem por Spellbiding, do trabalho mais recente da banda. A seguir, outro clássico: Tonight, Tonight, de Mellon Collie and the Infinite Sadness, de 1995 -- para muitos, o pináculo dos Smashing Pumpkins. A própria história da banda, repleta de altos e baixos, parece comprová-lo, ou não tivesse o lançamento do disco contribuído -- ainda que de forma indireta -- para o declínio do conjunto americano. Com conflitos entre membros (entretanto sanados), abuso de substâncias, e uma quebras nas vendas à mistura, nunca mais o êxito de Mellon Collie voltou a ser replicado, levando a pausas e interrupções na carreira. Mas Billy Corgan e os seus comandados não desistiram e, ainda que nem sempre bem-sucedidos, vários foram os discos lançados desde o 'pico' comercial, na década de 1990: a prova de que o rock vive. Ainda assim, nota para o som que, nem sempre, foi o mais claro e teve de ser ajustado diversas vezes ao longo do concerto.
Numa das escassas interações entre banda e público, Billy Corgan e o guitarrista Jimmy Iha recordaram "aquela noite" na arena de touros, em Portugal -- uma referência, talvez, ao concerto que deram em 2011 no Campo Pequeno, em Lisboa ou o concerto de 1996 na Praça de Touros de Cascais? Não sabemos, porque o guitarrista (um dos membros originais da banda) não se recordava "de nenhum touro". Isto tudo para o líder de Smashing Pumpkins dizer: "Adoro Lisboa, adoro Portugal. Quando me perguntam qual o meu sítio favorito para tocar, digo, sem hesitar, que é aqui." Com isto, claro, surge mais uma ovação da plateia que, longe de estar a ocupar totalmente o espaço em frente ao palco principal, já compunha bem o ambiente, aquecendo gargantas e marcando lugar para o cabeça de cartaz, os canadianos Arcade Fire.