NOS Alive 2024
12 julho 2024 às 01h58
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Smashing Pumpkins: 'Today' foi uma viagem ao passado e prova que o Rock não morreu

A banda americana voltou a Portugal quase uma década desde a última vez, e exatamente no mesmo palco: o NOS Alive. Com um concerto pontuado por viagens ao passado, ficou uma certeza: os êxitos dos comandados de Billy Corgan continuam a mover multidões e a ecoar um pouco por toda a plateia.

Barulhento, intenso e nostálgico. São estas as três palavras-chave do concerto dos Smashing Pumpkins, esta quinta-feira, no NOS Alive.

Em digressão pela Europa, Billy Corgan e os seus companheiros de palco não ligaram à velha máxima de nunca voltar onde se é feliz e, passados cinco anos, regressaram exatamente ao mesmo local da última vez: o Passeio Marítimo de Algés. E ainda nem estavam na hora marcada (21h50) quando subiram ao palco e se ouviram os primeiros acordes. Tal como nos outros espetáculos da digressão, foi ao som de Everlasting Glaze, lançada no início do milénio. Estava dado o mote para aquela que seria uma viagem ao passado pontuada com alguns temas mais recentes, ou não tivessem lançado Atum: A Rock Opera in Three Acts há praticamente um ano.

Depois de um início algo tímido, com o público ainda a digerir o jantar enquanto passeava pelo recinto, a primeira surpresa (e ovação) da noite surgiu com um cover de Zoo Station, dos U2, numa versão bastante mais barulhenta do que a original -- e com direito a um solo de bateria de Jimmy Chamberlin.

Mas foi só com Today, do clássico Siamese Dream, de 1993, que o público ficou verdadeiramente animado. Foi também aqui que Billy Corgan, pela primeira vez, sorriu de orelha a orelha para a multidão que ali cantava a plenos pulmões.

Os ânimos voltaram a resfrear depois, com uma passagem por Spellbiding, do trabalho mais recente da banda. A seguir, outro clássico: Tonight, Tonight, de Mellon Collie and the Infinite Sadness, de 1995 -- para muitos, o pináculo dos Smashing Pumpkins. A própria história da banda, repleta de altos e baixos, parece comprová-lo, ou não tivesse o lançamento do disco contribuído -- ainda que de forma indireta -- para o declínio do conjunto americano. Com conflitos entre membros (entretanto sanados), abuso de substâncias, e uma quebras nas vendas à mistura, nunca mais o êxito de Mellon Collie voltou a ser replicado, levando a pausas e interrupções na carreira. Mas Billy Corgan e os seus comandados não desistiram e, ainda que nem sempre bem-sucedidos, vários foram os discos lançados desde o 'pico' comercial, na década de 1990: a prova de que o rock vive. Ainda assim, nota para o som que, nem sempre, foi o mais claro e teve de ser ajustado diversas vezes ao longo do concerto.

Numa das escassas interações entre banda e público, Billy Corgan e o guitarrista Jimmy Iha recordaram "aquela noite" na arena de touros, em Portugal -- uma referência, talvez, ao concerto que deram em 2011 no Campo Pequeno, em Lisboa ou o concerto de 1996 na Praça de Touros de Cascais? Não sabemos, porque o guitarrista (um dos membros originais da banda) não se recordava "de nenhum touro". Isto tudo para o líder de Smashing Pumpkins dizer: "Adoro Lisboa, adoro Portugal. Quando me perguntam qual o meu sítio favorito para tocar, digo, sem hesitar, que é aqui." Com isto, claro, surge mais uma ovação da plateia que, longe de estar a ocupar totalmente o espaço em frente ao palco principal, já compunha bem o ambiente, aquecendo gargantas e marcando lugar para o cabeça de cartaz, os canadianos Arcade Fire.


Álvaro Isidoro / Global Imagens

Até final dos pouco mais de 70 minutos de duração, houve ainda tempo para mais nostalgia, com apontamentos de Mellon Collie (Bullet With Butterfly Wings, 1979 Zero) e, também, de Siamese Dream (Disarm e Cherub Rock). Esta parece ser, aliás, a forma utilizada pela banda de Billy Corgan: uma viagem ao passado marcada por incursões no presente -- e parece resultar muito bem, ou não tivesse o público abraçado os norte-americanos e pedido, até, que tocassem mais tempo.

No final, uma certeza: apesar das desavenças internas aqui e ali, os êxitos dos Smashing Pumpkins do final dos anos 1990 continuam a mover multidões e fazer cantar muita gente a plenos pulmões. Isto tudo pautado pelo som da guitarra distorcida de Corgan, que se conjuga tão bem com a voz peculiar. E o público ficou pronto para o que seguia, a festa dos Arcade Fire.

The Smashing Pumpkins no NOS Alive 2024
Álvaro Isidoro / Global Imagens