Algumas associações de Atletismo, incluindo Setúbal e Lisboa, estão a questionar a validade da inscrição de Pedro Pichardo, bem como a participação do Campeão Olímpico do triplo salto em provas internacionais, junto da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA). Em causa, segundo a troca de e-mails a que o DN teve acesso, está o facto de o atleta, que está em litígio contratual com o Benfica, surgir filiado (inscrito) no dia 8 de julho, às 19.55, sem a “necessária validação legal” da Associação de Atletismo de Lisboa (AAL).
E como a filiação administrativa aconteceu já depois de o triplista ter competido na Liga Diamante e ter conseguido a marca de qualificação olímpica para Paris2024, no dia 20 de abril, e de ter competido nos Europeus de Roma, onde no dia 11 de junho conquistou uma Medalha de Prata, “é legítimo” questionar se são válidas, disse ao DN Luís Jesus, presidente da AAL, entidade que valida as filiações dos atletas e clubes de Lisboa e que foi ultrapassada nessa função no caso de Pichardo.
“O atleta tem de estar registado na Federação e o registo é a filiação. Se ele não estava filiado até dia 8, também não estava registado. Por isso, olhando às regras do nosso atletismo, o atleta não podia ter ido representar Portugal nos Europeus, nem podia ter ido à Liga Diamante, mesmo que seja uma prova por convite. Não sei, mas é bom saber se a medalha vai ficar com o Pichardo e se os mínimos olímpicos são válidos. Esta é a minha interpretação. A Federação provavelmente terá outra”, disse ao DN o líder da AAL.
A mesma “indignação” mostrou o presidente da Associação de Atletismo de Setúbal, numa carta aberta enviada a todas as associações e à direção da Federação, a que o DN também teve acesso. José Serrano vincou o “atropelo dos regulamentos” e pediu igual tratamento para os 52 atletas setubalenses com filiação pendente.
A entidade federativa liderada por Jorge Vieira tem outro entendimento das regras. Para a FPA, o contrato plurianual que o clube da Luz registou na Federação em 2022 é válido até ao fim do mesmo, 2028, vinculando o atleta à Federação, que sempre o convocou como atleta do Benfica. Ao DN, a FPA só não esclareceu por que o registou então na plataforma oficial só no passado dia 8 de julho.
Essa também é uma questão que as associações colocam. Se já estava inscrito porquê o registo na plataforma oficial? “Nesse dia 8 à noite recebo um telefonema do vice-presidente da Federação, Paulo Bernardo, que me informou que o Pichardo tinha sido filiado administrativamente pela Federação, argumentando que o atleta tem um contrato plurianual com a Benfica. Questionei-o se o atleta e o clube sabiam e ele não respondeu”, acrescentou Luís Jesus.
O facto é que no dia a seguir, apesar de inscrito, Pichardo não se apresentou nas Nacionais de Atletismo, em Viseu, nem competiu pelo Benfica, que acabou por ser Campeão Nacional sem o contributo do Campeão Olímpico. Contactado pelo DN, Pedro Pichardo, através da Polaris, agência que o representa, remeteu explicações para o Benfica, apesar de devidamente informado de que o caso era pessoal e não contratual. Já o clube da Luz ignorou os contactos do DN e não mostrou interesse em esclarecer o assunto.