Legislativas 2024
04 março 2024 às 21h53
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Reta final da campanha. Troca de recados à esquerda e à direita

Pedro Nuno Santos pediu “concentração” de votos no PS. Líder do PCP respondeu logo e Rui Tavares viu no apelo alguma “desorientação”. Às certezas de Montenegro sobre uma “vitória inequívoca”, o presidente da IL contrapôs que é mais útil eleger um cabeça de lista do seu partido do que uma figura secundária da AD.

Logo pela manhã, numa viagem de comboio entre Marco de Canavezes e o Porto, Pedro Nuno Santos despachou a mensagem essencial do dia, esperando que as televisões a ecoassem nas horas seguintes sucessivas vezes.

Com a campanha a entrar na reta final - hoje ficam a faltar apenas quatro dias para terminar e seis para o país ir a votos, com o sábado de reflexão pelo meio -, o líder do PS decidiu dramatizar o apelo ao voto útil à esquerda no seu partido.

“Só vamos conseguir continuar a avançar se o PS derrotar a AD . Por isso, não podemos desperdiçar votos”, sustentou - numa mensagem que acentuaria logo a seguir: “Aquilo que interessa é concentrarmos os votos no PS e garantirmos que o PS ganha. Quem quer travar o regresso da direita ao poder e o regresso ao passado deve concentrar o seu voto no PS. Peço a todos os indecisos que votem no PS”, declarou, tendo a seu lado o cabeça de lista socialista pelo círculo do Porto, Francisco Assis.

Tentando falar aos indecisos, acrescentaria: “Percebam o que está em causa, depois de o país ter conquistado uma estabilidade orçamental e financeira muito importante”. “Há problemas que persistem, mas temos agora condições para avançarmos mais e resolvermos muitos desses problemas. E há uma escolha para fazer no próximo dia 10: Nós temos a ambição de investir nos serviços públicos, no aumento dos salários e das pensões, mas o nosso principal adversário tem um projeto diferente”, sustentou. “Nós não estamos a apresentar um programa de alívio fiscal só para alguns e que vai beneficiar quem não precisa. O nosso projeto, que também prevê alívio fiscal, vai beneficiar a esmagadora maioria da população.”

Também a norte, Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, não perdeu muito tempo a reagir ao líder socialista: “O que vai estar em decisão no próximo dia 10 de março não é a bipolarização entre PS e PSD. A verdadeira bipolarização é entre aqueles que acham que, de forma mais rápida ou menos rápida, o caminho é o desmantelamento do SNS ou aqueles que acham que a solução para utentes e profissionais passa por um SNS mais robusto e com mais meios para dar a resposta necessária.”

“Alguma desorientação”

Numa iniciativa de campanha junto ao hospital de Santo Tirso, Raimundo não se poupou nas críticas ao “negócio da saúde”: “Os hospitais privados nascem como cogumelos por todo o lado, um crescimento exponencial nos últimos anos. E qual é o paradoxo? Quanto mais hospitais privados abrem, mais difícil é o acesso da população à saúde. Quando estiver a votar, vai ter de decidir qual é a opção: é pelo desmantelamento ou é para salvar o SNS, dando-lhe os instrumentos necessários?”.

Em Almada, distrito de Setúbal,  o porta-voz do Livre, Rui Tavares, defendeu que os apelos ao voto útil “são sempre sinal de alguma desorientação”.

“Esses pedidos de voto útil são sempre sinal de alguma desorientação. É verdade, tal como diz o PS, e como diz Pedro Nuno Santos, que é preciso deter uma maioria de direita, mas é da lógica que para deter uma maioria de direita é preciso uma maioria de esquerda”, afirmou aos jornalistas, à margem de uma visita a um centro comunitário no Monte da Caparica.

"Eu não vou pedir nenhuma maioria"

Subindo ontem de manhã a um banco no final de uma arruada, plenamente mobilizada, em Chaves (distrito de Vila Real), Luís Montenegro manifestou-se convicto que vencerá  -  “está em marcha uma vitória inequívoca da AD” -  mas logo travando triunfalismos:  “Eu não vou pedir nenhuma maioria, vou pedir votos, lutarei voto a voto para ter o maior número de votos.”

O que o líder do PSD quer é que “o entusiasmo da rua seja transportado para as secções de voto”, mas evita o tema da maioria absoluta como se tivesse lepra: “Não acredito em nenhum tipo de chantagem sobre as pessoas, confio muito na sua lucidez.”

Em São João da Madeira, distrito de Aveiro, Rui Rocha, presidente da Iniciativa Liberal, argumentaria por antecipação em relação a Montenegro, enquanto visitava a empresa Cartonagem Trindade.

“É o momento de fazer escolhas. Queremos uma escolha de futuro ou queremos um país virado para o passado e preso àquilo que foi o bloco central, a ocupação do Estado por clientelas e a ineficiência”, atirou, antes de lançar a pergunta: “Vale mais eleger os cabeças de lista da Iniciativa Liberal nos diferentes círculos onde nós podemos eleger ou eleger o sétimo ou oitavo das listas do PS ou do PSD? Vale mais uma aposta no futuro ou vale mais uma aposta presa ao passado e que é mais do mesmo?”

Mais tarde, em Leiria, contestaria uma proposta de Montenegro para uma revisão do sistema eleitoral que possa, como o próprio disse, “admitir uma lei onde a representação de distritos que têm menos pessoas possa ser compensada com a dimensão territorial dos próprios círculos”.

Para Rui Rocha o que é preciso é criar um círculo nacional de compensação, proposta que, segundo garantiu,  não precisa de acordo entre o PS e o PSD.  Se o caminho for o de procurar um acordo entre os dois maiores partidos então isso irá “arrastar o problema mais umas décadas”.