Dia Mundial do Vento
15 junho 2024 às 11h30
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Vento fornece um quarto da energia em Portugal, mas a renovação do parque eólico é um desafio

Relatório mostra que a energia eólica foi responsável por mais de um quarto do consumo energético do país em 2023. Mas é preciso reforçar a aposta e “atrair investimento” para cumprirmos um “conjunto exigente de metas” estabelecidas até final da década.

Na data em que se assinala o Dia Mundial do Vento, o relatório Parques Eólicos em Portugal assinala a importância deste fenómeno natural para o consumo energético no país: no ano passado, mais de um quarto da energia consumida pelos portugueses foi gerada pela força do vento, através da capacidade eólica proporcionada pelos 2862 aerogeradores distribuídos pelo país. No entanto, apesar de Portugal ser um dos países pioneiros na aposta na energia eólica, os últimos anos têm ficado marcados por alguma estagnação e levantam-se desafios para o país cumprir as metas a que se propôs até 2030. Entre eles o envelhecimento do parque eólico existente, com uma parte significativa a aproximar-se do fim de vida útil recomendada.

Segundo o relatório elaborado pelo INEGI - Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial, em parceria com a Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), em 2023, em Portugal continental, foram produzidos 12,7 TWh (terawatts-hora) de origem eólica onshore, importados 2,7 TWh (parte destinada a armazenamento) e usados 13,5 TWh de energia proveniente desta fonte renovável no consumo de eletricidade. Mais de um quarto do consumo total do país, que se ficou nos 50,7 TWh.

Para José Carlos Matos, diretor da área de energia eólica do INEGI, “a energia eólica continua a desempenhar um papel incontornável no setor elétrico português”, sendo a principal fonte de energia renovável, apesar de uma quase estagnação nos últimos anos, depois do grande desenvolvimento inicial na primeira década deste milénio. Em 2023 verificou-se uma ligeira retoma de crescimento da capacidade eólica, com a maior taxa de crescimento (2,9%) dos últimos oito anos: cerca de 166 MW (megawatts), na maioria respeitantes a projetos de sobreequipamento (aerogeradores instalados em parques já existentes) e um caso de reequipamento (renovação) - à semelhança de 2022, não foram instalados nos parques eólicos.

Ainda assim, aponta o gestor do INEGI, um crescimento “modesto face ao potencial disponível e aos objetivos do Plano Nacional de Energia e Clima”. Os dados identificados no relatório mostram que o país tinha, no final de 2023, uma capacidade geradora de 5,9 GW de eletricidade através da eólica. Ora, o Plano Nacional Energia e Clima 2030 (PNEC 2030), revisto em junho de 2023 em linha com os objetivos a que Portugal se propôs junto da União Europeia (neutralidade carbónica em 2045), prevê uma capacidade geradora de 6,3 e 10,4 GW de eólica onshore (em terra) em 2025 e 2030, respetivamente. O Estado Português anunciou também a intenção de ver concretizados 2 GW de eólica offshore (no mar) até final da década.

Ao DN, José Carlos Matos diz que o país precisa de “novos parques eólicos” para respeitar as metas estabelecidas e para isso tem de voltar a haver “uma estratégia política persistente”, como a que esteve na origem do crescimento da primeira década deste século. “Olhando para o território, ainda temos capacidade para instalação de mais parques eólicos”, refere, apontando também os principais desafios que se colocam para que Portugal consiga cumprir com o estabelecido no PNEC 2030 - que passam, entre outros, pelo ambiente regulatório, pela necessidade de reforço da rede e pelo rejuvenescimento do parque eólico atual.

“A estagnação dos últimos 10 anos deve-se muito à ausência de condições de mercado. Durante o período inicial da aposta portuguesa nas eólicas o sistema de tarifas fixadas administrativamente cativou operadores para investimento. Depois, o preço livre no mercado fez com que deixasse de ser tão atrativo”, nota o executivo. “Todo o mundo está a fazer esta transição e a tentar atrair investimento. A competição é intensa e o Estado tem que dar sinal aos investidores de que este é um bom sítio para investir, criando para isso condições regulatórias estáveis”, reforça. Além desse trabalho, acrescenta, “é preciso incentivar a eletrificação dos consumos das empresas e dos consumidores e reforçar a capacidade da rede de armazenamento e distribuição”.

Um problema a requerer respostas imediatas é o envelhecimento do parque eólico existente. “À data de hoje, temos cerca de 20% da potência geradora no limbo dos 20 anos de vida útil, que é o prazo de validade recomendado”, reconhece. Um cenário “grave”, porque “pode ser uma oportunidade perdida”. No final desta década cerca de 95% dos parques eólicos existentes hoje terão 15 ou mais anos, correspondendo isso a 94% da potência instalada (cerca de 5,2 GW), o que reforça na agenda a necessidade da renovação das instalações de energia eólica no país.

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87%

A produção renovável abasteceu 87% do consumo de eletricidade nos primeiros cinco meses deste ano, segundo os dados mais recentes divulgados pela REN - Redes Energéticas Nacionais. Destes, 30% couberam à energia eólica.

1250 Megawatts  

Olhando para a distribuição geográfica, Viseu é o distrito líder no que se refere à potência eólica instalada (1249,1 MW). Seguem-se Coimbra (599 MW) e Vila Real (589 MW).

0,8%

Portugal ficou na cauda dos países da Europa em nova capacidade eólica instalada em 2023, com um crescimento de apenas 0,8%. Alemanha liderou, com um reforço de 18,5% nos seus parques eólicos.