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Dia 21 de setembro
30 agosto 2024 às 00h04
Leitura: 6 min

Contra a imigração. Dirigentes locais do Chega pressionados para levarem manifestantes a Lisboa

Mensagem enviada a coordenadores concelhios do Porto antecipa “consequências políticas” para aqueles que “decidirem relaxar”. Ventura não comenta, mas Chega vê 21 de setembro como “prova de fogo”.

Dirigentes de estruturas locais do Chega estão a ser pressionados para que assegurem a ida do máximo de pessoas à manifestação contra a imigração, convocada pelo partido, que se realizará em Lisboa, a 21 de setembro. Não só estão a ser recordados de que se pretende “a maior e a mais importante” saída à rua de militantes e apoiantes do partido desde a sua fundação, como são anunciadas, em termos explícitos, consequências negativas para quem não der o contributo necessário para essa mobilização.

Numa mensagem que foi enviada pelo responsável pela concelhia de Santo Tirso, Artur Carvalho, dirigente próximo de Rui Afonso, que é deputado do Chega e líder da distrital do Porto, a todos os coordenadores concelhios do distrito, é comunicado que “André Ventura considera esta manifestação uma prova de fogo, e estará atento a todas as distritais e a todas as concelhias, tirando ilações do trabalho efetuado, e claro que também haverá consequências políticas para aqueles que decidirem relaxar e virar as costas ao partido”.

Aos coordenadores concelhios do Chega no distrito do Porto, onde o partido teve 15,33% nas legislativas (quase três pontos percentuais abaixo do resultado nacional) e elegeu sete deputados, é igualmente comunicado que o partido disponibiliza transporte gratuito em autocarros que irão partir da Praça Velasquez [cujo nome oficial é Praça Francisco Sá Carneiro], no Porto, em direção a Lisboa. “Comecem já a agilizar o máximo de pessoas para esta manifestação. Temos que encher o maior número de autocarros possíveis”, indica a mensagem, a que o DN teve acesso, dizendo que a “máxima importância” de mobilizar o máximo de pessoas para participarem a manifestação “contra a imigração descontrolada e a insegurança nas ruas” foi algo que André Ventura “pediu para transmitir a todas as distritais, assim como a todas as concelhias”.

O DN procurou saber se Rui Afonso concorda com o teor da mensagem de Artur Carvalho - que integra os órgãos distritais portuenses do Chega -, nomeadamente quanto à ameaça de “consequências políticas” para os que “decidirem relaxar e virar as costas ao partido e ao seu líder”, mas não foi possível obter esse esclarecimento do deputado até ao fecho desta edição.

Também André Ventura não comentou as ameaças do líder da concelhia de Santo Tirso do Chega, a quem o DN procurou igualmente contactar. No entanto, é claro dentro do Chega que a manifestação de 21 de setembro é “uma prova de fogo” e deverá ser algo com que “Lisboa se sinta verdadeiramente marcada”, sendo fulcral que venham pessoas de todo o país. Assim sendo, a “pressão alta” sobre as estruturas locais será uma constante nas semanas que antecedem o evento.

O Chega já fez outras manifestações, como a motivada pela presença do presidente do Brasil, Lula da Silva, na Assembleia da República, a 25 de abril de 2023. Apesar de terem participado várias centenas de pessoas, houve reparos à falta de mobilização. Neste ano, o partido apelou a um protesto de agentes policiais em julho, tendo algumas centenas comparecido para tentar assistir à sessão plenária, em que foram debatidas propostas sobre o subsídio de risco, mas muitos distanciaram-se do partido.

Já em 2020, durante a pandemia, o Chega fez a marcha “Portugal não é racista”, em que algumas centenas foram do Marquês de Pombal ao Terreiro do Paço, em Lisboa, para ouvir o então deputado único André Ventura. 

Contra “imigração descontrolada” 

A manifestação convocada pelo Chega para 21 de setembro, em Lisboa, insere-se na estratégia do partido para o novo ciclo político, tal como um referendo à imigração que André Ventura colocou como condição para negociar a viabilização do Orçamento do Estado para 2025 com o Governo.

Anunciada oficialmente a 14 de agosto, a manifestação foi justificada como sendo contra “a imigração descontrolada e a insegurança nas ruas”, tendo um percurso que “deverá envolver” a Praça do Município, a Baixa de Lisboa e a Avenida Almirante Reis, que é uma das artérias lisboetas mais caracterizadas pela presença de comunidades estrangeiras e pelo multiculturalismo. O Chega argumentou que o “descontrolo” na imigração “tem preocupado os portugueses”, tal como o “aumento da criminalidade, confirmada pelos autarcas de Lisboa e Porto”.

Como o DN noticiou, a iniciativa mereceu o apoio de grupos xenófobos, como o Movimento 1143 e o Reconquista, cujos dirigentes admitiram sair à rua para participar na manifestação.