O Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Porto está a investigar o negócio efetuado pelo Partido Comunista Português com a Empresa de Gestão Imobiliária e Construção (EGIC), através do qual o partido “permutou”, em junho de 2023, a Vivenda Aleluia - edifício construído em 1929 e situado na principal avenida de Aveiro, que comprara em 2014 por 350 mil euros -, por cinco frações, às quais foi atribuído no contrato o valor de 800 mil euros, do novo edifício de sete andares que a imobiliária vai construir no local.
Esta permuta permitiu ao partido uma mais-valia de 129% face ao que pagara em 2014. No mesmo dia do contrato de permuta com o PCP, como revelou a 2 de novembro o DN, a EGIC contraiu um empréstimo de cinco milhões de euros com a Caixa Geral de Depósitos dando como garantia o lote de terreno da Vivenda Aleluia.
O inquérito do DIAP portuense, que de acordo com a informação prestada ao DN pela Procuradoria Geral da República se encontra em segredo de justiça, terá surgido na sequência da investigação do jornal sobre o negócio, o qual a EGIC admitiu, através da sua gerente Lúcia Ferreira, ser um de vários “exatamente iguais” celebrados entre a imobiliária e o partido.
Em causa no inquérito criminal estará assim o facto de, como o DN reportou, a empresa ter no caso da Vivenda Aleluia assumido, vários anos antes de tomar posse da propriedade - o que só sucedeu em junho de 2023 - encargos financeiros relacionados com o projeto de arquitetura e com o licenciamento do novo edifício, encargos esses que deveriam estar, a título de sinal ou adiantamento, discriminados no contrato de permuta. Sob pena de, como explicou ao jornal a jurista Margarida Salema, ex-presidente da Entidade das Contas e Financiamentos Políticos (ECFP), se estar perante o crime de financiamento ilegal, desde 2010 crime público, ou seja, não dependendo de queixa.
“Se um partido tem um bem e coloca uma empresa a dar valor a esse bem, sem declarar nem justificar, ou seja, se há financiamento sub-reptício e enriquecimento não justificado que tem na sua base a intervenção de uma empresa, então sem dúvida que há financiamento ilegal. Os partidos não podem fazer coisas assim”, disse ao DN Salema, que presidiu à ECFP (órgão independente que funciona junto do Tribunal Constitucional, tendo como função principal coadjuvá-lo tecnicamente na apreciação e fiscalização das contas anuais dos partidos políticos) entre 2009 e 2017. “Um partido pode encarregar uma empresa de efetuar algo em seu nome, mas se tal implica a empresa efetuar despesas, isso tem de estar contratualmente clarificado. E, se sucede antes de um contrato definitivo, terá de surgir depois nesse contrato a título de sinal ou adiantamento. Os dinheiros têm de estar todos bem escalpelizados, declarados.”