Convenção
18 julho 2024 às 00h34
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Republicanos vão ver em primeira mão a nova encarnação de Trump, o empático

Mais próximos garantem que vem para ficar um Trump suave e que o seu discurso vai unir os norte-americanos. Nova sondagem desmente argumento de Biden, com uma maioria de democratas a querer a sua desistência.

A convenção republicana vai culminar nesta quinta-feira (madrugada de sexta em Portugal) com o discurso de aceitação de Donald Trump como candidato, depois de na véspera ter sido a vez do seu número dois na eleição, J.D. Vance, se ter dado a conhecer ao grande público, e de na terça-feira mulheres como Lara Trump (sua nora) ou Sarah Sanders (ex-porta-voz) terem pintado um ex-presidente empático. A mudança de imagem, de implacável homem de negócios, com um discurso não raras vezes insultuoso e extremista, para o de uma pessoa mais moderada, deve materializar-se na alocução perante delegados e apoiantes do Partido Republicano em Milwaukee.

Durante anos, Trump puxou pelos limites do aceitável no discurso de um candidato (e depois de um presidente), fosse sobre imigrantes ou muçulmanos, fosse sobre os adversários políticos ou os aliados dos EUA, apoucando pessoas e instituições -- a democracia em primeiro lugar, ao não aceitar a sua derrota em 2020. A sua incapacidade em gerir interações com pessoas com outros propósitos que não o de um autógrafo ou de uma selfie foi exposta enquanto presidente uma e outra vez -- da sua visita a um devastado Porto Rico por furacões ficou a sua imagem a atirar rolos de papel à população. A sua sobrinha, a psicóloga clínica Mary Trump, em conflito com o resto da família, caracterizou o tio de “narcisista” filho de um sociopata. Mas tudo isto faz parte do passado, diz a entourage do candidato.

Numa entrevista à Axios, o seu filho mais velho, Donald Jr., disse ter estado a analisar com o pai o discurso da convenção, durante três ou quatro horas, “tentando atenuar alguma dessa retórica”, referindo-se ao tom usual do pai em público e que estava presente na primeira versão do discurso. Mas o atentado à sua vida foi um momento decisivo. “Acho que é duradouro”, disse Jr. sobre a mudança em curso para um tom menos abrasivo e extremista. “Há acontecimentos que nos mudam durante alguns minutos e há acontecimentos que nos mudam permanentemente.”

Por outras palavras, o antigo conselheiro de Trump Jason Miller ecoou a nova de um homem renovado, em entrevista à CBS News. “Desta vez vai ser diferente. Depois de ter passado tempo com Trump menos de 72 horas depois desta horrível tentativa de assassínio. Eu sei qual é o tom que vai trazer e ele vai tentar unir o país com esse discurso”, garante Miller, que coincide com Donald Jr. ao dizer que “o tom vai ser muito diferente”. “Toda a gente fala de união, até Donald Trump. Claro que a sua visão de união é que o país se deve unir em torno dele”, disse à Voice of America Claire Finkelstein, diretora do Centro de Ética e do Estado de Direito da Universidade da Pensilvânia.

Miller aproveitou para criticar Joe Biden que, após condenar o atentado à vida de Trump, não deixou de criticar o discurso do republicano. O presidente, que na véspera fez um discurso em que ligou o ataque ao republicano à violência armada e ao racismo nos EUA e voltou a pedir a proibição das armas automáticas, continua a lutar para convencer o seu próprio campo. Numa nova sondagem NORC para a Associated Press, 65% dos democratas dizem que o presidente deve desistir da corrida à reeleição e deixar o partido escolher outro candidato. A uma sondagem da semana anterior, mas da Ipsos, 56% dos democratas tinham respondido da mesma forma. Na semana anterior, numa das entrevistas que concedeu para tentar fazer controlo de danos da prestação no debate com Trump, Biden havia dito que “todos os dados mostram que o comum dos democratas continua a querer” que o nomeado fosse o próprio. 

Passada a onda de choque do atentado a Trump, o Partido Democrata está em ebulição. Parte dos dirigentes quer nomear Biden no início de agosto, antes da convenção, tendo alegado o prazo para colocar o nome do candidato no boletim de voto do Ohio embora esse problema já tenha sido resolvido. E aos 20 representantes que pediram a desistência de Biden juntou-se um peso pesado, Adam Schiff.

cesar.avo@dn.pt