O presidente do CDS-PP, Nuno Melo, dedicou a sua primeira intervenção no 31.º Congresso do partido, que está a decorrer neste fim-de-semana em Viseu, na apresentação da moção de estratégia nacional com que se recandidata à liderança, a defender a ideia de que os centristas foram essenciais para o triunfo da Aliança Democrática (AD) nas legislativas de 10 de março e para a mudança de ciclo, após mais de oito anos de governação socialista.
"Os votos do CDS foram determinantes para a vitória da AD. O CDS não foi muleta e o PSD não foi barriga de aluguer", disse o agora ministro da Defesa Nacional, que há dois anos foi eleito presidente. A subida ao poder do eurodeputado ocorreu na ressaca da hecatombe eleitoral nas legislativas de 2022, quando o partido, então liderado por Francisco Rodrigues dos Santos, ficou pela primeira vez sem representação parlamentar.
Apesar de o regresso à Assembleia da República estar reduzido a dois deputados e o regresso ao Governo limitado a um ministro e dois secretários de Estado, Melo defendeu um caminho para fortalecer os centristas ao longo do próximo mandato a que se recandidata, sem enfrentar oposição. "Nunca se sintam parceiros menores desta coligação", incitou aos congressistas reunidos no Pavilhão Cidade de Viseu, apontando a "singularidade do CDS" como um factor de afirmação.
Garantindo que a ideologia democrata-cristã faz com que o CDS-PP esteja "profundamente" empenhado nas diversas vertentes do Estado Social - "estamos cá para o salvar", disse -, Nuno Melo deixou uma farpa à Iniciativa Liberal, referindo que os centristas não pretendem entregar a saúde aos privados.
Mas o principal alvo de uma parte do discurso dedicada a sublinhar que "o CDS nunca foi substituído por ninguém" acabou por ser o Chega. Tal como já tinha feito quando assumiu o mandato de deputado na Assembleia da República - entretanto suspenso após a tomada de posse enquanto ministro -, Melo fez um elogio ao regressado grupo parlamentar centrista, agora composto por Paulo Núncio e João Almeida, afirmando que "são dois, mas acreditem que valerão por 50".
A referência ao número de eleitos do Chega nesta legislatura mereceu uma ovação dos congressistas reunidos em Viseu, mas o líder em busca de reeleição conseguira também empolgá-los ao recordar o episódio em que a sede nacional do CDS-PP, no Largo Adelino Amaro da Costa, que durante o PREC foi assaltada pela extrema-esquerda, esteve na mira daqueles a quem designou por "outros extremistas". Em causa estavam notícias de que o Chega pretendia comprar o edifício ao Patriarcado de Lisboa, num cenário agora descartado por Nuno Melo: "A sede nacional será nossa. É mais do que um símbolo. É pertença e identidade."
Num balanço de "dois anos de superação", o presidente do CDS-PP sublinhou a reestruturação administrativa e financeira do partido, agradecendo aos "militantes e pessoas amigas que, de Norte a Sul, não nos deixaram sozinhos". E, muito particularmente, ao trabalho do secretário-geral, Pedro Morais Soares, e da sua equipa, traduzido na amortização em mais de 900 mil euros da dívida do partido. "Pagámos a todos os bancos e levantámos hipotecas a todas as sedes", realçou.
Quanto à nova declaração de princípios, feita por uma equipa coordenada por António Lobo Xavier e aprovada com apenas oito abstenções, Melo sublinhou que "não revoga a outra", subscrita pelos fundadores do partido em 1974, "mas só a complementa e só a atualiza", vertendo novas áreas de intervenção. Uma preocupação que defendeu nortear o seu próximo mandato, no qual o CDS-PP "agora tem de crescer", modernizando-se e apelando aos eleitores mais jovens.