O Hezbollah libanês é um dos principais inimigos de Israel.
Esta formação política e militar, criada, armada e financiada pelo Irão, esteve envolvida num conflito mortal com Israel em 2006, que traumatizou o Líbano, mas durante o qual consolidou o poder.
Após o ataque do Hamas a Israel em 07 de outubro de 2023 e o início da guerra em Gaza, o Hezbollah atacou o norte de Israel em apoio ao aliado palestiniano.
Os confrontos transfronteiriços degeneraram num conflito quase total no início da semana, com Israel a lançar uma campanha de bombardeamento maciço contra os bastiões do Hezbollah no sul e leste do Líbano e nos subúrbios do sul de Beirute.
Durante meses, Israel enfraqueceu consideravelmente o movimento, eliminando um a um os seus mais altos comandantes, incluindo o chefe militar Fouad Chokr, morto em julho num ataque aos subúrbios do sul de Beirute.
Segundo a agência France-Presse, a confirmação da morte de Hassan Nasrallah será um golpe sem precedentes para o movimento.
O "Partido de Deus" foi criado em 1982, na sequência da invasão israelita do Líbano, por iniciativa dos Guardas da Revolução, o exército ideológico da República Islâmica do Irão.
Tornou-se a "ponta de lança" da luta contra Israel, que se foi retirando progressivamente do Líbano até 2000, após 22 anos de ocupação.
Desde então, vários episódios de violência opuseram o Líbano a Israel, culminando numa guerra em 2006, na sequência do rapto de dois soldados israelitas na fronteira entre os dois países.
Israel lançou então uma grande ofensiva. A guerra, que durou 33 dias, causou a morte de 1.200 libaneses, na maioria civis, e 160 israelitas, maioritariamente soldados.
A Resolução 1701 do Conselho de Segurança, que pôs fim à guerra, estipulava que apenas o exército libanês e as forças de manutenção da paz da ONU deveriam ser destacados para o sul do Líbano.
Mas o Hezbollah manteve a presença na região, onde os peritos dizem que escavou uma rede de túneis.
Reforçou o seu arsenal, que inclui mísseis teleguiados, e afirma ter 100.000 combatentes.
As principais instituições do movimento têm sede nos subúrbios do sul de Beirute desde que o antecessor de Nasrallah, Abbas Moussaoui, foi assassinado por Israel em 1992.
O Hezbollah é o membro mais influente do "eixo de resistência" promovido pelo Irão contra Israel, que inclui o Hamas palestiniano, os rebeldes Huthis no Iémen e grupos iraquianos.
O Hezbollah também prestou apoio militar ao regime de Bashar al-Assad na Síria, onde uma revolta popular em 2011 degenerou numa insurreição armada.
No final da guerra civil libanesa (1975-1990), o Hezbollah foi a única fação a conservar as armas, em nome da resistência contra Israel.
Estabeleceu-se como uma força política no Líbano, com os detratores a acusarem-no de constituir um "Estado dentro do Estado".
Hassan Nasrallah, 67 anos, era considerado o homem mais poderoso do país, de acordo com a AFP.
Era membro do governo e do parlamento, onde nem o seu campo nem os seus opositores têm maioria absoluta, o que impediu a eleição de um Presidente da República durante quase dois anos.
A popularidade e influência crescente de Nasrallah no seio da comunidade xiita eram apoiadas por uma vasta rede de escolas, hospitais e associações ao serviço dos seus apoiantes.
Em 1997, os Estados Unidos colocaram o Hezbollah na lista de organizações terroristas, sujeitas a sanções económicas e bancárias.
Responsabilizam-no pelo atentado que matou mais de 200 fuzileiros norte-americanos em Beirute, em 1983, e pela tomada de reféns ocidentais durante a guerra no Líbano.
Desde 2013, a União Europeia considera também o braço armado do movimento como uma organização terrorista.
O Hezbollah é acusado de envolvimento no assassinato do antigo primeiro-ministro libanês Rafik Hariri, pelo qual dois dos seus membros foram condenados à revelia a prisão perpétua em 2022.