A rede de carregamento elétrico na Europa está a crescer mais rapidamente do que a própria frota de veículos movidos a eletricidade, eliminando gradualmente as barreiras à adesão a este tipo de mobilidade. Mas ainda é preciso quadruplicar a infraestrutura até 2030 para atingir os objetivos estipulados pela regulamentação comunitária, com vista à neutralidade carbónica, conclui um estudo recente da Transport & Environment.
De acordo com a análise daquela ONG especializada em transição energética dos transportes, o número de carregadores públicos triplicou nos últimos três anos, sendo que o de carregadores rápidos cresceu 4,5 vezes. Esta expansão fez mesmo com que oito países já tivessem superado, este ano, os objetivos do regulamento comunitário AFIR previsto para 2025, que estipula uma distância máxima de 60 km entre postos de carregamento nas principais vias transeuropeias, bem como determinados níveis de potência disponível. Outros já cumpriram até os critérios previstos para 2026.
Portugal não faz parte da liga dos países mais avançados face às metas de 2025, mas “está bem posicionado” no campeonato que se joga este ano. Isso mesmo garantiu o presidente da MOBI.E, Luís Barroso, ao DN. “Estamos acima dos critérios do AFIR até final de 2024. Em primeiro lugar, porque, explicou, “se o regulamento define uma distância máxima de 60 km entre postos, a nossa legislação já prevê uma distância inferior, de 40 km, para estações de serviço, que incluem todas carregadores nas redes transeuropeias de transportes, que são as autoestradas A-1, a A-25 e a A-6”. Por outro lado, Portugal conta, até à data de 20 de junho, com cerca de 75 tomadas por 100 Km de estrada e 102 tomadas por 100 mil habitantes, o que é considerado um bom indicador, informou a MOBI.E.
A segunda razão pela qual Luís Barroso considera que Portugal está numa situação confortável face a alguns dos seus congéneres europeus é a própria quota de veículos elétricos nas vendas. Segundo os dados da Eletromaps, a percentagem de veículos 100% elétricos e híbridos plug in registados em Portugal era de 31,8% no final de 2023. Esta percentagem contrasta com os níveis conseguidos por outros países do Sul, como Espanha, que não ia além dos 11,9% ou mesmo da Itália, em torno dos 9%, adiantou aquele responsável. Mas nas redes de carregamento, os países do Sul da Europa não ficam mal na fotografia. Segundo a T&E, falta, no entanto, melhorar o tempo de atividade real dos postos (em que não estão avariados ou em manutenção) e também a sua interoperabilidade, de modo a facilitar a experiência do utilizador.
“Vamos cumprir e provavelmente até ultrapassar os critérios do AFIR, porque a própria dinâmica do mercado dos elétricos vai levar os operadores a instalarem mais postos de carregamento”, acredita Luís Barroso.
A partir do final de 2024, a infraestrutura de carregamento de cada Estado membro deverá disponibilizar uma potência global mínima de 1,3 kW por BEV e 0,8 kW por PHEV em circulação. “A MOBI.E já monitoriza a evolução deste indicador desde abril de 2022 e, apesar do crescimento acelerado do parque automóvel eletrificado, a infraestrutura de carregamento de acesso público tem vindo a registar desde sempre valores superiores ao mínimo exigido, cuja obrigação só estará ativa a partir do final deste ano. A potência da rede (ao dia de hoje) é de 273.677 kW (2,75% acima do exigido pelo AFIR)”, disse a MOBI.E, em resposta ao DN.
Neste momento, Portugal conta com 4949 postos de acesso público e 8707 pontos. E os postos com pontos rápidos ou ultrarrápidos já representam 36,4% em relação à totalidade da rede, indicou aquela entidade ao DN.
Cada país deverá, até ao final de 2025, garantir que cada plataforma na rede principal forneça uma potência de pelo menos 400 kW e incluir, no mínimo, um ponto com uma potência individual de, pelo menos, 150 kW, com uma distância máxima entre as mesmas de 60 km. “Portugal tem postos na rede principal em todas as áreas de serviço, ou seja, a uma distância de cerca de 40 km, disponibilizando carregamento ultrarrápido, isto é, com potências de 150 kW ou superiores”. Contudo, “ainda não disponibiliza potências de 400 kW em todas, exigência que só será efetuada a partir do final de 2025”, acrescenta a gestora nacional.
Apesar da análise da T&E fazer uma avaliação positiva do ritmo de expansão da infraestrutura de carregamento na Europa, recomenda aos países que colmatem as lacunas na rede já em 2025, antes da meta fixada para 2030, para acabar com a resistência à mobilidade elétrica por receio da falta de autonomia das baterias. Por outro lado, defende-se uma cobertura mais ampla a nível regional e local, garantindo maior coesão entre os territórios.
De acordo com os dados da MOBI.E, este ano já foram poupadas 38.161 mil toneladadas de CO2 na sequência do uso de veículos elétricos carregados na rede pública. E foram feitos mais de 3,2 milhões de carregamentos até 20 de junho.
A MOBI.E consiste num conjunto de redes privadas que concorrem entre si, após a concessão de toda a rede a operadores privados, em 2020. O modelo português e a sua rápida expansão tem chamado a atenção de outros países. A gestora pública da rede tem sido abordada por países como a Espanha, a Inglaterra ou Bélgica, o Brasil ou a Colômbia. "Cada vez há mais países a sondar-nos, porque consideram que Portugal é um exemplo daquilo que poderá ser uma solução a adotar e temos tido vários contactos internacionais sobre a nossa solução", disse o responsável da empresa criada em 2015 e incumbida de criar um mercado para a mobilidade elétrica.