Congresso do PSD
20 outubro 2024 às 15h08
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PS acusa Governo de só fazer anúncios e querer levar ideologia para a educação

Alexandra Leitão acusou ainda a aliança que apoia o Governo de "tentar apropriar-se do discurso da extrema-direita e uma das áreas em que o está a fazer é na segurança, a outra é na imigração". Chega diz que Montenegro se baseou no seu programa eleitoral

A líder parlamentar do PS acusou hoje o Governo de só fazer anúncios e de estar em permanente campanha eleitoral, considerando ainda que está a levar a ideologia para a educação e a ceder à extrema-direita na segurança e imigração.

Em declarações aos jornalistas no 42.º Congresso Nacional do PSD, após ter assistido ao encerramento, Alexandra Leitão considerou que o que se assistiu no discurso de Luís Montenegro foi "anúncios e mais anúncios".

"Anúncios que são feitos mesmo antes de qualquer tipo de avaliação sobre os outros anúncios que já foram feitos e que estão em execução", criticou, acusando o Governo de estar em "permanente campanha eleitoral".

A líder parlamentar do PS deu o exemplo do plano que tinha sido anunciado pelo Governo para a educação, frisando que já se sabe que o processo de se ir "buscar professores aposentados não resultou" e o país continua a ter "dezenas de milhares de alunos sem aulas".

"Antes mesmo de esse outro anúncio estar minimamente executado, temos aqui hoje um anúncio que, no seu geral, representa o que já sabíamos sobre o PSD: é um partido que só tem social-democrata no nome", afirmou, salientando que, em matéria de serviços públicos, o partido quer "tirar do público para dar ao privado".

Fez "um anúncio que, já agora, para quem quer tirar amarras ideológicas, é profundamente ideológico ele próprio, quer do ponto de vista do que aparentemente se pretende fazer na disciplina de cidadania, mas também muito ideológico quando quer retomar o financiamento aos privados", disse, acrescentando que esse financiamento será retirado, "obviamente", da escola pública.

"Portanto, continuamos a ter este processo de retirar recursos ao público para pôr no privado. É a política da direita. O que assistimos hoje é a confirmação de que esta é a política do Governo", disse.

Alexandra Leitão considerou ainda que, no discurso de Luís Montenegro, houve "uma ausência total de referência ao interior, à coesão territorial", assim como à habitação, acrescentando que parece que o PSD "enterrou definitivamente a regionalização", e criticou as "medidas avulsas e pouco compreensivas" anunciadas para a cidade de Lisboa.

"Lisboa, antes de grandes anúncios sobre grandes polis, talvez fosse mais importante que a higiene urbana em Lisboa funcionasse. (...) Tirar o lixo da rua, começávamos por aí, começávamos devagarinho, pelas coisas que importam às pessoas em Lisboa", afirmou.

Já interrogada sobre os anúncios feitos relativamente à segurança por Luís Montenegro, Alexandra Leitão respondeu: "Acho que a aliança que apoia o Governo está a tentar apropriar-se do discurso da extrema-direita e uma das áreas em que o está a fazer é na segurança, a outra é na imigração".

Chega acusa PM de se basear no seu programa eleitoral

O Chega acusou hoje o primeiro-ministro de se ter baseado no seu programa eleitoral para fazer o discurso de encerramento do congresso do PSD e de ignorar a Saúde, Habitação e o interior do país.

"O senhor primeiro-ministro fala em vários pontos neste congresso de medidas que sempre foram nossas, que estão no nosso programa eleitoral, que estão na base da fundação do nosso partido (...). Digamos que o senhor primeiro-ministro baseou-se no programa eleitoral do Chega para fazer o seu discurso de encerramento", afirmou o deputado Filipe Melo, ao comentar o discurso de Luis Montenegro no encerramento do 42.º Congresso Nacional do PSD, que decorreu em Braga.

Filipe Melo, que representou o Chega na sessão de encerramento da reunião, afirmou que o discurso do presidente do PSD agradou-lhe em parte mas que não percebe a posição do primeiro-ministro sobre questões como a imigração.

"Gostei em parte. A questão que o senhor primeiro-ministro fala da disciplina de Cidadania faz todo o sentido. Sublinhamos e aprovamos", disse Filipe Melo.

O primeiro-ministro anunciou, no discurso de encerramento da reunião magna social-democrata que o Governo vai rever os programas do ensino básico e secundário, incluindo a disciplina de Educação para a Cidadania e que vão ser construídos dois centros de instalação temporária em Lisboa e no Porto para acolher casos de imigração ilegal ou irregular.

E se quanto à disciplina de Cidadania o primeiro-ministro mereceu aplausos, já sobre a imigração, o Chega deixou criticas: "Não percebo como é que o senhor primeiro-ministro, hoje, tem a capacidade de falar em imigração depois de ter boicotado as propostas do Chega, ter boicotado um referendo", apontou Filipe Melo.

Para o representante do Chega, Luis Montenegro deixou de fora vários assuntos que o partido considera essenciais: "Há muitas medidas que o senhor primeiro-ministro passou à frente: a questão da Habitação, não ouvimos o senhor primeiro-ministro falar em habitação, questão da Saúde, dizem que estão a fazer progressos, nós não vemos, efetivamente, nenhum progresso, nós vemos retrocesso", enumerou.

"Há um retrocesso claro em matéria de saúde que o senhor primeiro-ministro não conseguiu explicar o porquê, nem o que estão a tentar fazer para o futuro", acrescentou.

Ao discurso de Montenegro faltaram também, segundo o Chega, palavras sobre o interior, ao passo que houve demasiadas medidas para Lisboa.

"Quando cada vez mais falamos na desertificação do interior, na falta de meios, na falta de assistência, na falta de trabalho das pessoas que estão no interior do pais, o senhor primeiro-ministro baseia um terço da sua intervenção a falar em Lisboa e nas obras que vai fazer em Lisboa, na grande metrópole, na margem sul, na margem norte", disse.

E continuou: "O país não é só Lisboa, o país contempla de Norte a Sul e interior também e o senhor primeiro-ministro, mais uma vez, esqueceu-se das pessoas do interior do pais".

PCP considera que principais problemas ficaram de fora, Livre vê aproximação à extrema-direita

O PCP considerou que os principais problemas do país ficaram de fora do Congresso do PSD, enquanto o Livre viu uma aproximação ao discurso da extrema-direita e o PAN defendeu que foi anunciada "uma mão cheia de nada".

Em declarações aos jornalistas após ter assistido ao encerramento do 42.º Congresso Nacional do PSD, em Braga, o membro da Comissão Política do Comité Central do PCP Belmiro Magalhães considerou que a reunião magna social-democrata ficou marcada por "uma vontade muito grande de continuar a zelar pelos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros".

"Essa é a marca de água que distingue o Governo do PSD. Não se falou de aumento dos salários, das reformas, dos problemas da habitação, da valorização dos serviços públicos. Não se falou dos principais problemas do povo e do país", sustentou.

Questionado sobre os anúncios feitos pelo primeiro-ministro, Belmiro Magalhães disse que é preciso analisar cada uma das medidas, frisando que "talvez algumas delas nem sejam novas, outras estão seguramente muito longe da prioridade e preocupação das pessoas".

"Veja-se a questão da disciplina de cidadania. O que a escola pública precisa é de mais professores, mais auxiliares, investimento nos próprios edifícios da escola e, portanto, desse ponto de vista, parece-nos que não é seguramente a questão prioritária", afirmou.

Por sua vez, o dirigente do núcleo do Porto do Livre Hélder Sousa notou "uma aproximação do discurso do PSD ao discurso da extrema-direita" e manifestou preocupação com a "reconfiguração da disciplina de cidadania".

"Foi dada como uma novidade, mas a alteração dessa disciplina assusta-nos. Também incentivar os privados e distribuir recursos pelos privados do SNS, não nos parece uma boa medida", frisou.

Hélder Sousa lamentou ainda que, no discurso de Luís Montenegro, não tenha havido menções relativas à habitação ou à emergência climática, nem sobre "o que é preciso fazer para se enfrentar esse desafio nos próximos tempos".

Não houve "nada sobre combate às desigualdades. Continuamos a assistir a algumas medidas que vão contribuir para privilegiar muitos poucos, em detrimento da maior parte das pessoas. Este discurso suscita-nos muita preocupação", disse.

A dirigente do PAN Sandra Pimenta afirmou que, depois de oito anos na oposição, o PSD apresentou hoje "uma mão cheia de nada", considerando que Montenegro não apresentou "medidas inovadoras" ou que "realmente vêm dar resposta aos problemas diários dos portugueses e das portugueses".

"Infelizmente, assistimos a um discurso redondo, virado para o PSD e para as características próprias do PSD e por isso temos de lamentar", disse.

Sandra Pimenta considerou que "as alterações climáticas ficaram na gaveta" e, no que se refere aos anúncios sobre violência doméstica, considerou que o Governo continuar "a falar no fim da linha".

"Todos os apoios são obviamente importantes para as vítimas, essencialmente mulheres, de violência doméstica, mas nós temos de começar a falar de prevenir. Não é à toa que, até setembro, foram registados mais de 11 mil denúncias de crimes por violência doméstica. Quando é que vamos parar estes números?", perguntou.

A dirigente do PAN defendeu ainda que "é essencial que este Governo comece a perceber" que a sociedade é sensível "à proteção e bem-estar animal", afirmando que as verbas para a proteção animal "ficaram completamente de fora deste documento".

"Só temos a lamentar esta visão retrógrada, provavelmente influenciada pela coligação que se apresentou a estas eleições", disse.