Médio Oriente
13 agosto 2024 às 21h08
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Irão rejeita apelos do Ocidente e só cessar-fogo pode adiar retaliação

Os EUA dizem acreditar que Israel e o Hamas vão retomar as negociações esta semana. Telavive já confirmou a sua presença e o Qatar está a tentar garantir uma representação palestiniana.

O Irão rejeitou esta terça-feira os apelos ocidentais para retirar a sua ameaça de retaliação contra Israel pelo assassinato do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerão, a 31 de julho, que a república islâmica e os seus aliados atribuíram a Telavive. Esta morte ocorreu horas depois de um ataque israelita em Beirute ter tirado a vida ao comandante Fuad Shukr, do Hezbollah, o grupo islamista apoiado pelo Irão no Líbano.

Num esforço para tentar evitar uma escalada das tensões a nível regional, os Estados Unidos e os seus aliados europeus apelaram na segunda-feira para que o Irão refreasse as suas ameaças, alertando ainda para a possibilidade de ainda esta semana Teerão e os seus seguidores levassem a cabo um “conjunto significativo de ataques”.

Já hoje, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, pediu ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e ao presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, “máxima contenção” para evitar uma escalada no Médio Oriente. Um responsável europeu confirmou os contactos telefónicos de Michel com os líderes do Irão, no sábado, e de Israel, esta terça-feira.

Em resposta, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão, Nasser Kanani, criticou o apelo ocidental por contenção, dizendo que “a declaração da França, Alemanha e Grã-Bretanha, que não levantou objeções aos crimes internacionais do regime sionista, pede descaradamente ao Irão que não tome nenhuma ação dissuasiva contra um regime que violou a sua soberania e integridade territorial”.

Apenas um cessar-fogo entre Israel e o Hamas em Gaza poderá fazer o Irão adiar uma retaliação direta contra Telavive pela morte de Haniyeh, segundo garantiram à Reuters três oficiais seniores iranianos. 

Uma destas fontes, um alto funcionário de segurança, afirmou à mesma agência de notícias que o Irão e os seus apoiantes, como o Hezbollah, pretendem lançar um ataque direto se as negociações falharem ou se perceberem que Israel está a arrastar as conversações. Está prevista uma ronda de negociações para quinta-feira, mas, de acordo com a Reuters, não é claro quanto tempo o Irão está disposto a esperar antes de lançar uma resposta. 

Para o analista iraniano Saeed Laylaz os líderes de Teerão estão interessados em trabalhar para que seja alcançado um cessar-fogo em Gaza, de forma a “obter incentivos, evitar uma guerra total e fortalecer a sua posição na região”. Uma opinião que vai ao encontro de duas das fontes da Reuters, segundo as quais o Irão estará a ponderar enviar um representante às negociações, não para assistir às reuniões, mas sim para participar em discussões de bastidores “para manter uma linha de comunicação diplomática” com os Estados Unidos durante o decorrer deste processo.

Já duas fontes próximas do Hezbollah disseram à Reuters que o Irão dará uma oportunidade às negociações de um cessar-fogo, mas que não desistirá das suas intenções de retaliar. Uma das destas fontes acrescentou que um cessar-fogo daria cobertura ao Irão para uma resposta mais “simbólica”. 

Os Estados Unidos disseram esta terça-feira que continuam esperançosos de que Israel e o Hamas retomem as negociações de cessar-fogo esta semana. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu já confirmou a participação de Israel e, de acordo com o porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, os seus  “parceiros do Qatar asseguraram que estão a trabalhar para garantir que haja representação do Hamas também”. Sublinhou ainda que um cessar-fogo permitiria a libertação de reféns, a entrega de ajuda humanitária e uma nova diplomacia “para tirar a região deste ciclo interminável de violência”.

ana.meireles@dn.pt