Benfica
01 setembro 2024 às 18h45
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Bruno Lage conhece bem a Luz, mas há mais requisitos para ter sucesso

O treinador de 48 anos está na calha para render Roger Schmidt. Jorge Castelo considera que faz todo o sentido, mas Álvaro Magalhães defende ser essencial alguém sem medo de impor as suas ideias.

Bruno Lage, de 48 anos, é neste momento o nome mais forte para suceder a Roger Schmidt como treinador da equipa principal do Benfica. A decisão quanto ao novo técnico será anunciada nos próximos dias e, caso se confirme a escolha do português de 48 anos, será o 11º treinador a ter uma segunda vida na Luz.

Mas será Bruno Lage a melhor solução para o cargo, numa altura em que o Benfica já perdeu cinco pontos em quatro jornadas da I Liga, precisamente a distância para o líder Sporting?

Jorge Castelo, preletor de cursos de formação de treinadores de futebol da FPF e antigo treinador-adjunto dos encarnados, garante que a resposta é sim. “Bruno Lage conhece o Benfica muito bem por dentro, passou lá muitos anos, evoluindo desde treinador dos escalões de formação até técnico da equipa principal. Por outro lado, conhece muito bem o futebol português e não precisaria de um tempo de adaptação, como sucederia com um estrangeiro”, começa por dizer ao DN.

Recorde-se que Bruno Lage orientou a equipa principal do Benfica entre 6 de janeiro de 2019 e 29 de junho de 2020. Quando assumiu o cargo, sendo promovido da equipa B para render Rui Vitória, as águias estavam na quarta posição da I liga, a sete pontos do líder FC Porto, mas acabaram por conquistar o título de campeão nacional.

A história foi oposta na temporada seguinte: foram os encarnados a ter uma vantagem de sete pontos sobre o FC Porto, mas foram os portistas a festejar, com Bruno Lage a ser demitido a cinco jornadas do final, quando ocupava a segunda posição, a seis pontos da equipa orientada por Sérgio Conceição.

“Houve muitas histórias mal contadas a respeito da saída de Bruno Lage do Benfica, nomeadamente sobre os problemas que terá tido com alguns jogadores. A verdade é que havia grande pressão para que Jorge Jesus regressasse ao clube e foi isso que veio a verificar-se”, acrescenta Jorge Castelo, lembrando a “excelente primeira época que realizou, depois de ter apanhado a equipa com grande desvantagem na classificação”. “Rui Costa aprecia bastante Bruno Lage, o que é naturalmente mais um ponto a seu favor”, revelou.

Castelo destaca ainda o facto de Lage “ter ganho experiência e maturidade nos últimos anos, apesar de não ter tido muito sucesso”, numa referência às passagens pelo Wolverhampton e pelo Botafogo.

Álvaro Magalhães, antigo jogador do Benfica e ex-adjunto de Giovanni Trapattoni na Luz, prefere não dar a sua opinião a respeito do possível regresso de Bruno Lage. “Não vou falar de nomes. Mais importante do que a figura, ou de saber se é português ou estrangeiro, é ser alguém com personalidade, sem medo para impor as suas ideias, experiente e que consiga ganhar o respeito dos jogadores”, sublinha ao DN, acrescentando que “quem tem medo não possui condições para representar o Benfica e o novo técnico necessitará de juntar à forte personalidade muitos conhecimentos técnicos, físicos e psicológicos”.

E, nesta altura, o que valerá o plantel do Benfica, depois da saída de jogadores como Rafa Silva, João Neves e David Neres, com Marcos Leonardo e João Mário na porta de saída? Na opinião de Álvaro Magalhães, “o plantel do Benfica não é o melhor no futebol português, pois foi muito mal construído, existindo posições onde está muito bem servido e noutras com poucas opções, nomeadamente nos flancos”. 

A mesma opinião tem Jorge Castelo, pois defende que “quando se analisa um plantel, uma coisa é falar-se na qualidade individual dos jogadores, outra é a sua homogeneidade em termos de qualidade de jogo, e neste último aspeto, o Sporting e o FC Porto estão muito à frente do Benfica”. Por isso, diz que “o próximo treinador do Benfica terá muito trabalho pela frente”, sendo que “ainda se desconhece o impacto que algumas contratações feitas esta temporada poderão ter”, afinal “o novo técnico terá de colar todos estes cacos que existem”.

Saldo equilibrado nos regressos

A expressão “não regresses a uma casa onde foste feliz” não se adequa totalmente aos treinadores que voltaram ao Benfica: nos dez casos anteriores, seis tiveram sucesso e quatro não conquistaram títulos. O último, Jorge Jesus, foi um desses maus exemplos, pois foi terceiro classificado na I Liga de 2020/21, tendo sido despedido na época seguinte, no final de dezembro de 2021, à 16.ª jornada, quando a equipa da Luz estava em terceiro, a sete pontos do líder FC Porto.

Antes do atual técnico do Al Hilal, também Lippo Hertzka, Béla Guttmann e José Antonio Camacho não ganharam troféus depois de voltarem à Luz, ao contrário de Otto Glória, Mário Wilson, Fernando Riera, John Mortimore, Sven-Göran Eriksson e Toni, que passou duas vezes de adjunto a principal.

dnot@dn.pt

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