Eleições Regionais na Madeira
20 maio 2024 às 15h02
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Virar de página. PSD receia que “à terceira seja de vez”

PS afasta acordos com Chega e PAN, mas já abriu portas ao CDS. IL recusa PSD e socialistas. JPP aguarda resposta de Cafôfo e BE aceita falar. Crise e divisão no PSD fragiliza Albuquerque.

O que mudou desde as últimas eleições regionais em setembro? O PSD, que vive uma crise e divisão interna desde as eleições internas de março - a denunciada “purga” que recai sobre os apoiantes de Manuel António Correia que desafiou a liderança e perdeu por 392 votos - , rompeu o acordo com CDS e vai, sozinho, “testar” a terceira tentativa do arguido Miguel Albuquerque para conseguir o que Alberto João Jardim sempre conseguiu: maioria absoluta. 

Em 2019, Albuquerque precisou dos três deputados do CDS de Rui Barreto, a “ala direitista” dos centristas, para manter o PSD no poder. Em 2023, a aliança com um CDS que durante décadas criticou a governação de Jardim e até a de Albuquerque (entre 2015 e 2019) foi a votos e o líder do governo regional, que garantiu durante a campanha eleitoral que só governaria se tivesse maioria - até disse que sairia da liderança do partido -, recuou na promessa, na noite eleitoral, e encontrou no PAN a manutenção do poder.

Os sinais de divisão interna já se faziam sentir durante essa campanha eleitoral. Os que já viam em Pedro Calado, então presidente da câmara do Funchal, o sucessor que até agradava a Jardim - que não esquece “os gajos” de Albuquerque que, em 2012, o “queriam pôr na rua” e até lhes chamou “sacanas” - fizeram por estar ausentes na maioria dos atos públicos. E foram notadas as faltas quase constantes de aliados do líder parlamentar. 

Este ano, o cenário não difere muito. Albuquerque, constituído arguido no âmbito numa investigação que visa suspeitas de crimes de corrupção, não tem consigo, como diz ao DN fonte do PSD local, “nem metade do partido”. E Calado, também constituído arguido, que está “fora de jogo” causou “desilusão” no partido e “nalguns meios empresariais”. 

O “desespero”, dizem as mesmas fontes, é a “perceção real” de que Albuquerque “vai ficar na história” como o líder que “derrubou” o partido. “É que não há duas sem três”, diz um antigo dirigente e governante. E o sinal da “fragilidade” está no que “nunca aconteceria ao Alberto João: ser apupado na rua” - e isso aconteceu, por exemplo, na última sexta-feira. E também quando chamou “ressabiados”, sendo apupado, aos que apoiaram a candidatura de Manuel António Correia. 

Esta “fragilidade”, porém, não é “facto” que dê aos socialistas a “certeza” de, pela primeira vez, serem governo na Madeira. O PS mudou de líder, mais uma vez, e acredita que meter no mesmo saco IL, CDS, PAN e Chega - dizer que é o mesmo que votar PSD - é a estratégia certa. 

E tal como no PSD, também nos socialistas há uma fratura interna alimentada pelo ex-líder Carlos Pereira, que não entrou na lista dos deputados para a Assembleia da República indicados pelo PS-M (acabou por se resgatado pelo PS nacional) e Miguel Gouveia que sucedeu a Cafôfo na liderança da câmara do Funchal, em 2019, mas que perdeu as autárquicas em 2021. 

Se Carlos Pereira é “ignorado”, o mesmo já não acontece com o antigo independente que agora já é militante. Fonte socialista considera que seria “útil” que Cafôfo e Miguel Gouveia “fizessem as pazes” porque depois das eleições regionais, daqui a uma semana, há as autárquicas do próximo ano.

“E, até agora, o Miguel Silva é o melhor candidato que temos para o Funchal. Não custa nada que agarrem no telefone e falem um com o outro”, sublinha, por outro lado, um antigo líder.

E que fará Paulo Cafôfo se não for eleito presidente do Governo regional, fica como deputado regional ou reassume o lugar de deputado em Lisboa? O líder dos PS-M não responde e mantém o tabu. “Estou muito confiante num cenário de vitória. Acredito que diz 26 de maio vamos virar a página na Madeira”, afirmou ao DN.

O que dá por garantido, para um eventual governo, é que “jamais aceitaremos dialogar com o PSD, como é evidente, que é o grande responsável por este contexto de instabilidade em que vivemos e por 48 anos de desgoverno que deixaram a Região como está hoje, a mais pobre do país. E com o Chega, que é um partido extremista, anti-autonomista e aliado do PSD de Miguel Albuquerque”.

E acordos com o CDS? Cafôfo fez essa aproximação pública, durante um debate na RTP-M, mas viu José Manuel Rodrigues dizer que recusaria, que não se aliaria a ninguém. 

No caso do JPP, partido de ex-socialistas sempre critico do PSD que conseguiu eleger cinco deputados em 2023 , a novidade surgiu nos últimos dias. Élvio Sousa diz aceitar apoiar um governo que aceite a lista de prioridades do seu partido. 

Élvio Sousa diz ao DN que todas as suas propostas “são viáveis e estão fechadas na agenda reformista”. Aceitará Albuquerque? “O PSD está viciado”, responde. E Cafôfo? “Eles terão de responder, até à data nada”. 

Este “terão” assenta na ideia crescente de que será necessária uma geringonça madeirense para que o PS seja Governo. E sem IL, Chega, PSD, PAN e provavelmente CDS, só restará aos socialistas entendimentos com JPP e BE. O PCP, por razões históricas, parece afastado da equação. 

O CDS, agora liderado por José Manuel Rodrigues - que em 2019 era a “ala esquerda” dos centristas e preferia uma coligação com Cafôfo e não com Albuquerque e que se escuda no cargo de presidente da Assembleia Regional não assumindo, assim, a “herança” de Rui Barreto -, joga na expectativa de voto dos “desavindos” do PSD, apesar da proximidade a Albuquerque, para garantir que “não será por falta de presença e de sentido de responsabilidade que a Madeira deixará de ter um novo Governo e um Orçamento aprovados” - algo que os sociais-democratas não fizeram. 

Nos centristas cresce, por isso, a “esperança”, apurou o DN, de que os “desiludidos” com Albuquerque encontrem no CDS “uma forma de castigar quem os castigou”.

José Manuel Rodrigues, o atual líder centrista, é o mesmo que em 2011, e nessa altura também era presidente do CDS-M, chamou às obras de Jardim e do agora número dois na lista do PSD, João Cunha e Silva, e na altura vice do governo regional [esteve 15 anos nessas funções] “obras inúteis (...) despesas inúteis, desperdícios sem qualquer justificação, obras sem qualquer utilidade”.

Aliás, Miguel Sousa, que teve a coordenação económica do governo regional de 1988 a 1992, também já imputou ao agora candidato “um esbanjar de recursos financeiros” que levou a Madeira “à bancarrota”.

O Chega de Miguel Castro, líder regional, que em setembro, durante a campanha eleitoral para as eleições regionais, ergueu a bandeira da luta contra a corrupção - tal como o faz agora - e que nem na Assembleia Regional, nem por via judicial, como, por exemplo, sistematicamente o PS recorda, fundamentou a insistente narrativa política que lhe deu quatro deputados, já disse duas coisas diferentes sobre apoios e coligações. 

Primeiro, assumiu “viabilizar o governo do partido que apresentar as melhores propostas” - à semelhança do discurso de Ventura sobre as melhores propostas, no parlamento nacional, para o país - não excluindo o PS que desde sempre recusa qualquer acordo. “Jamais”, assegura o líder socialista. Albuquerque mantém as portas abertas.

Por fim, o líder regional do Chega, corrigiu tudo o que publicamente garantiu dizendo que “não podemos fazer entendimentos nem com Albuquerque, nem com Cafôfo”, mimetizando o que o líder nacional tinha garantindo dias antes: “Não haverá qualquer aproximação ou pacto. Não há acordos com Miguel Albuquerque. Nós não cedemos na luta contra a corrupção.” 

E assim, mais uma vez, André Ventura voltou a chamar corrupto a Miguel Albuquerque, o que coincide com a mensagem dos cartazes espalhados pela Madeira e, em particular, na avenida que passa junto da Quinta Vigia que também foi conhecida por Quinta das Angústias e é residência oficial do presidente do Governo Regional.