EUA
23 janeiro 2024 às 05h23
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Nikki Haley, o último obstáculo que Trump pode ultrapassar já em New Hampshire

A desistência de Ron DeSantis transforma a corrida republicana num combate a dois, mas a antiga governadora precisará de uma vitória nas primárias de hoje para manter a esperança de ainda ter uma palavra a dizer. O problema é que as sondagens não jogam a seu favor.

A corrida que já teve mais de uma dúzia de candidatos chega à segunda volta com apenas dois nomes. E um deles leva um avanço tal que, se não houver uma surpresa hoje, poderá ser declarado vencedor sem precisar gastar mais uma gota de suor. A desistência do governador da Florida, Ron DeSantis, no domingo à noite, abre a porta a um frente a frente entre o ex-presidente norte-americano, Donald Trump, e a antiga governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, nas primárias de New Hampshire. Um último obstáculo para Trump, que tem as sondagens a seu favor e espera ver fechar já a corrida para a nomeação republicana.

Há muito que Haley queria ter a hipótese de ser a única adversária de Trump (recusou até participar em mais debates que não fossem com ele), mas na véspera das primárias de New Hampshire a desistência de DeSantis não foi a melhor notícia. O ex-presidente sempre surgiu à frente nas sondagens neste estado - onde ganhou em 2016 com 35% e em 2020 com 84% - mas a ex-embaixadora nas Nações Unidas tinha vindo a ganhar terreno aos poucos. Isso mudou na semana passada, após Trump arrasar nos caucus do Iowa, vencendo por mais 30 pontos percentuais.

Ontem, Haley surgia em duas novas sondagens a uma distância de dois dígitos de Trump - numa estava a 19 pontos, noutra a 18. E isto era com base em entrevistas feitas antes da desistência de DeSantis, que reunia 8% dos votos. Os eleitores do governador da Florida terão agora que escolher um novo candidato (apesar de ele continuar oficialmente no boletim de voto), sendo que é mais provável que apoiem o ex-presidente do que a sua única adversária.

Entre o original e a cópia - mais novo e com menos bagagem judicial, mas a mesma política - tinha já ficado claro que os eleitores republicanos preferiam ficar com Trump em vez de apostar em DeSantis. E apesar do segundo lugar no caucus do Iowa, as dificuldades em garantir financiamento já deixavam antever a desistência do governador da Florida, que há poucos meses surgia como o mais bem colocado para bater o ex-presidente. No final, e apesar dos muitos ataques durante a campanha, DeSantis declarou o seu apoio a Trump.

“É claro para mim que a maioria dos eleitores das primárias republicanas querem dar a Donald Trump outra hipótese”, disse o governador da Florida, no vídeo em que anunciou a suspensão da campanha. “Assinei uma promessa de apoiar o nomeado republicado e vou honrar essa promessa. Ele tem o meu apoio porque não podemos voltar à velha guarda republicana do antigamente, uma forma reembalada de corporativismo que Nikki Haley representa”, acrescentou. Trump agradeceu o apoio, dizendo que DeSantis fez uma “campanha muito boa” e anunciando que irá deixar de lhe chamar “DeSanctimonious” - uma brincadeira entre o nome do antigo adversário e a palavra que designa alguém que alega ser moralmente superior aos outros. 

Última oportunidade?

A única esperança de Haley em New Hampshire, um estado mais moderado que o Iowa, é tentar garantir os votos dos eleitores independentes, que oficialmente não estão inscritos nem no Partido Republicano nem no Democrata. Estes representam quase 40% dos eleitores e podem votar nas primárias que quiserem (apesar de muitos optarem por não o fazer). Os democratas também vão a votos, mas a votação não conta (ver caixa), pelo que os apoiantes de Haley têm procurado atrair os independentes mais liberais para o seu campo com críticas mais fortes a Trump. Isso poderá contudo ser insuficiente para garantir a vitória.

Se Haley ganhar, a corrida poderá estar relançada, com o voto anti-Trump a encontrar finalmente um só nome para apoiar - e financiar. Os democratas não escondem que um eventual duelo entre Joe Biden e Haley poderá ser mais complicado para a reeleição - as sondagens dão à antiga embaixadora 53% das intenções de voto, contra 45% para o presidente norte-americano.

Mas se Trump ganhar em New Hampshire, isso deixará claro que tem os republicanos controlados e trará uma sensação de inevitabilidade à corrida. E apesar de a próxima grande primária ser a 24 de fevereiro na Carolina do Sul - onde Haley foi governadora - há quem suspeite que poderá desistir ainda antes para evitar uma humilhação.

A adversária de Trump não conta com o apoio de nenhuma figura de peso do partido no seu estado natal, alegando que não tem esses apoios porque trabalhou para as pessoas e não para o sistema. Enquanto isso, Trump chamou o ex-adversário e senador da Carolina do Sul, Tim Scott, e o atual governador do estado, Henry McMaster, para a campanha eleitoral em New Hampshire. A ideia foi mostrar aos eleitores locais que a próxima vitória já está garantida e que mais vale apostar no vencedor.

Corrida a vice-presidente

Sendo Haley o último obstáculo no caminho de Trump, há muito que se especula quem ele irá escolher para número dois. O próprio ex-presidente incentiva essa especulação, apesar de alegadamente já ter escolhido, querendo dessa forma reforçar que a sua vitória é inevitável e, claro, garantir que tem à sua volta republicanos dispostos a “lamber-lhe as botas”, como escreveu o The New York Times.

Tim Scott, o tal ex-adversário da Carolina do Sul que surgiu nos palcos de New Hampshire, é um dos muitos nomes que se fala - e o discurso energético que fez num comício na sexta-feira acabou aos gritos da multidão de “VP” (vice-presidente). O nome da congressista Elise Stefanik, de Nova Iorque, é outro dos que se fala, assim como J.D. Vance, o autor e senador do Ohio. Mas há muitas mais hipóteses em cima da mesa - DeSantis não é um deles. “A pessoa de quem eu gosto é uma pessoa muito boa, bastante normal. Acho que as pessoas não ficarão tão surpresas, mas eu diria que há provavelmente 25% de probabilidade de ser essa pessoa”, disse Trump à Fox News, no fim de semana, deixando claro que não tem pressa porque o nome não terá qualquer impacto. 

susana.f.salvador@dn.pt