Direita
15 abril 2024 às 22h06
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Passos Coelho regressa ao passado para lançar ataques a Paulo Portas

Ex-primeiro-ministro recordou ao Observador anos da troika e, apontando “falta de solidariedade pública” do CDS, falou da desconfiança desta (e de Cavaco) em relação a Portas.

O antigo primeiro-ministro Passos Coelho lançou esta segunda-feira, numa entrevista ao Observador, ataques a Paulo Portas, que foi seu vice-primeiro-ministro, e ao CDS-PP, parceiro de coligação do PSD entre 2011 e 2015. Entre outras revelações, o social-democrata disse a Maria João Avillez, no podcast “Eu Estive Lá”, que a troika não confiava em Portas e exigia cartas assinadas por ele. “Para impedir uma humilhação pública do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, obriguei o ministro das Finanças [Vítor Gaspar] a assinar comigo, e com ele”, disse, referindo-se à correspondência para as instituições internacionais que tutelavam Portugal, sob resgate financeiro.

Passos Coelho disse ainda que o CDS-PP,  “parceiro júnior da coligação”, demonstrou “várias vezes falta de solidariedade pública relativamente a medidas tomadas dentro do Governo”. E que Paulo Portas “não tinha uma noção precisa e realista” das possibilidades do Governo, tendo-se convencido, como os demais centristas, de que “não defendíamos devidamente os interesses do país junto da troika”. Algo que terá mudado quando se tornou vice-primeiro-ministro e passou a liderar as negociações com a troika, “embora numa altura em que o pior já tinha passado”.

Além disso, Passos Coelho disse que Portas - tal como ele, considerado um dos possíveis candidatos presidenciais de centro-direita -,  era alvo de desconfiança do então Presidente da República, Cavaco Silva, que terá ficado “magoado” por não ser avisado da “demissão irrevogável” do ministro de Estado. “Achou que o CDS podia não ser de confiança para assegurar as tarefas pós-troika”, disse ao Observador, realçando que Cavaco Silva “impôs uma negociação como PS”.

O DN tentou obter comentários de membros do CDS-PP que integraram o Governo de Passos Coelho. O próprio Paulo Portas recusou fazê-lo, não sendo possível obter reações dos então ministros Assunção Cristas (Agricultura) e Mota Soares (Trabalho e Solidariedade) - Pires de Lima só assumiu a pasta da Economia após a remodelação, em que o líder centrista passou a vice-primeiro-ministro.

Por seu lado, Filipe Lobo d’Ávila, que era secretário de Estado da Administração Interna, garantiu ao DN que “não há razões para falar em falta de solidariedade dentro do Governo de que tenho orgulho de ter pertencido”, pois todos estavam “comprometidos com o mesmo objetivo”, que consistia em “libertar Portugal da troika”. Da sua experiência no Governo e no CDS-PP, o único centrista no Ministério da Administração Interna, onde conduziu a abolição dos Governos Civis, disse que, na crise governativa de junho e julho de 2013, “não houve nenhuma quebra de solidariedade, muito pelo contrário”.

Além do que apontou a Portas e ao CDS-PP, Passos Coelho também fez alguma autocrítica. “Há quem diga que eu tinha uma forma dura e insensível de comunicar. É possível que sim”, disse, sem deixar de defender que tal era necessário para que, “fora e dentro do Governo”, fosse percebida a importância de medidas “com eventuais impactos eleitorais muito negativos”.

Quanto a Luís Montenegro, começou por garantir que não quer “criar nenhum constrangimento” ao atual primeiro-ministro. Mas disse ser “muito evidente” que este se tem distanciado da sua herança, levando a que no centro-direita não esteja claro se as eventuais aspirações políticas de Passos Coelho passam pelas presidenciais de 2026 ou por voltar a liderar o PSD e construir uma solução de Governo maioritário com o Chega. “Só ele poderá dizer”, ouve-se entre os que esperam ver a dúvida esclarecida numa próxima intervenção pública de quem, no espaço de poucas semanas, participou na campanha eleitoral da Aliança Democrática e fez a apresentação do livro Identidade e Família, conotado com a direita mais conservadora.