Músico cruza música e a computação quântica
07 janeiro 2024 às 16h07
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Investigador em Coimbra explora a relação entre a música e a computação quântica

O músico e programador autodidata Omar Costa Hamido obteve em 2023 uma bolsa europeia de pós-doutoramento Marie Curie para continuar o seu trabalho sobre o uso da computação quântica como ferramenta para a prática artística.

 Omar Costa Hamido, músico e programador autodidata, descobriu a computação quântica um pouco por acaso e encontrou nela possibilidades de a relacionar com a criação musical, trabalho que desenvolve agora na Universidade de Coimbra.

O músico e investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares (CEIS20) obteve em 2023 uma bolsa europeia de pós-doutoramento Marie Curie para continuar o seu trabalho em que cruza criação e investigação, procurando encontrar as potencialidades no uso da computação quântica como ferramenta para a prática artística.

A investigação que agora desenvolve na Universidade de Coimbra surge depois de mais de uma década a cruzar os dois campos.

Para Omar Costa Hamido, ou simplesmente OCH como também prefere ser chamado, a computação quântica permite olhar "para a lógica e articulação dos problemas de forma diferente", acreditando que a própria transformação provocada por esta mudança de perspetiva possa abrir outros caminhos nas práticas artísticas.

Se na computação clássica, um 'bit' é 0 ou 1, na computação quântica há o 'qubit', que está "num estado complexo" e que tanto pode ser 0, 1, ou 0 e 1 ao mesmo tempo - uma sobreposição de estados.

"Obriga a um repensar da computação desde o início", nota.

Nesse sentido, desenvolve ferramentas que permitam a músicos e artistas poderem trabalhar e criar música com recurso à computação quântica mesmo que não percebam ou dominem a sua linguagem de programação, naquela que é uma tecnologia nova e longe de estar num estado maduro de desenvolvimento.

"Com 300 'qubits' seria possível representar mais estados do que o número de átomos no universo", salienta OCH, para demonstrar a potencialidade da computação quântica, explicando que, por enquanto, estes são mecanismos altamente sensíveis, que exigem grandes capacidades de controlo e o seu próprio estado vai decaindo. 

Se há uma parte prática, concreta, de música criada a partir de computação quântica, há também um lado abstrato e teórico que aproxima OCH de todo este processo.

"Aquilo me move não é só contribuir para perceber a vantagem quântica, mas também obter inspiração", vincou, referindo que há uma vertente do estado quantum que o fascina: a possibilidade de "uma coisa estar em dois lugares ao mesmo tempo".

Entretanto, já lançou o EP "/Equations of Coltrane", com outro músico americano que também trabalha a intersecção da música com a computação quântica, Scott Oshiro, num duo intitulado NpHz.

A referência a John Coltrane não cai do céu, já que é conhecido o diagrama do saxofonista norte-americano que explorava a relação entre semitons, com o físico e músico Stephon Alexander a argumentar que o conhecimento do autor de "Giant Steps" da teoria da relatividade e da física permitiu-lhe expandir a sua própria forma de abordar o jazz.

Neste momento, está a criar uma rede de artistas criativos interessados em utilizar estas tecnologias emergentes (https://community.quantumland.art), ao mesmo tempo que procura desenvolver um campo de estudo na área.

No fundo, todo o trabalho de OCH vem da ideia de "perceber o universo e a realidade", admite.

"Gostava imenso de poder conseguir descrever todo o processo de geração de som, nos seus múltiplos significados. O que é que realmente faz a música existir e o som existir?", pergunta.

Tópicos: Cultura, Música, Coimbra