Sociedade
16 janeiro 2024 às 07h00
Leitura: 7 min

Excesso de mortalidade provoca corrida às vacinas da Gripe e Covid

A elevada mortalidade em Portugal fez soar alarmes há duas semanas. Especialistas e autoridades apontaram a ausência de vacinação como uma das causas, apelando à sua administração. Na semana passada as farmácias começaram a registar um aumento da procura e, neste momento, já estão a pedir vacinas adicionais.

Há dez dias que o número de óbitos diários em Portugal baixou da barreira dos mais de 500, mas, mesmo assim, entre os dias 5 e 10 o registo oficial ainda revelava um número significativo, entre os 496 e os 483. Até aqui, Portugal era o único país de um grupo de 24 da Europa (entre os quais Espanha, França, Itália, Alemanha e Reino Unido) com a classificação de “excesso muito elevado de mortalidade”. Isto mesmo foi também confirmado pelo site oficial de vigilância da mortalidade, o qual só ontem, e desde que se entrou no ano de 2024, referia que esta estava “dentro do esperado”, contabilizando 403 óbitos em excesso nos últimos sete dias. Recorde-se que, há uma semana, este valor era de 751 óbitos diários, atingindo depois os 797. Só a partir de sexta-feira, dia 12, é que baixaram para 408. No sábado voltaram a subir para 424, no domingo reduziram para 391 e ontem, até à hora do fecho desta edição, estavam em 316.

O excesso de mortalidade fez soar os alarmes há duas semanas e tanto especialistas da área como as autoridades de saúde, nomeadamente a Direção-Geral da Saúde, começaram a apelar à vacinação contra a gripe e covid-19, já que a cobertura vacinal estava muito aquém do esperado - segundo os dados oficiais, situava-se em 63% e 53% nas faixas etárias acima dos 60 anos.


O apelo levou a que, logo na semana passada, as farmácias tenham começado a observar “um aumento da procura destas vacinas entre a população com mais de 60 anos, sobretudo entre os 60 e os 65, que são ainda as que estão menos sensibilizadas”. “Neste momento, já temos farmácias a pedir vacinas adicionais para fazer face ao aumento de pedidos”, afirmou ao DN a presidente da Associação Nacional das Farmácias, Ema Paulino.

O mesmo foi confirmado ao DN pela DGS. “As farmácias comunitárias aderentes e as unidades de saúde do Serviço Nacional de Saúde indicam um aumento na procura pela vacinação contra a Gripe e contra a covid-19”, que, na última semana, já se traduziu “num aumento do número de vacinas administradas nos grupos elegíveis.”


Mas, na sexta-feira, para tentar travar o excesso de mortalidade, e uma vez que ainda há vacinas disponíveis, a DGS alargou a vacinação contra gripe até aos 50 anos e contra a covid-19 a partir dos 18 anos. O que levou muitos a procurar informação nas farmácias sobre quando as tomar.


Ema Paulino confirma: “Perante o anúncio do alargamento das idades para a vacinação, as farmácias registaram, no fim de semana, bastante procura de vacinas.” A dirigente da ANF destacou ainda que “as farmácias estão preparadas para responder, porque há vacinas disponíveis e basta que as solicitem aos fornecedores habituais para que estas sejam repostas entre 24 a 48 horas”.


Vacina da gripe é dada na hora. Covid só por marcação


O DN fez uma ronda por várias farmácias da cidade de Lisboa para perceber se esta orientação da DGS estava a ter efeito automático ou não. E em todas pudemos confirmar que a vacina contra a gripe está disponível para ser dada no momento, mas em relação à da covid-19, tal só é possível por marcação. Isto porque, explicaram-nos, “uma vacina da covid-19 dá para seis doses e temos de ter as seis pessoas marcadas para não desperdiçar nenhuma”.

O mesmo foi-nos dito em alguns centros de saúde da capital, confirmando-se que “a vacina da gripe pode ser tomada já, mas quem quiser apanhar as duas ao mesmo tempo terá de marcar, por causa da vacina da covid”.


Ema Paulino especificou ao DN que, só no final da semana, haverá dados mais precisos sobre quantas pessoas foram vacinadas nas últimos dias e as suas idades, sublinhando concordar “com a estratégia adotada pelo país em vacinar, em primeiro lugar, as faixas etárias acima dos 60 anos”. “Sabemos que as faixas acima dos 60 anos são aquelas que têm maior risco de complicações, mas sabendo-se que o vírus da gripe em circulação também estava a afetar as faixas etárias mais jovens, e havendo vacinas disponíveis, considero que foi importante o alargamento às faixas etárias até aos 50 anos”, frisa.


Quanto a manter a estratégia já para a próxima época gripal, a presidente da ANF considera que tal “deve depender do balanço que for feito em termos de custo-benefício”. Ou seja, defende, “quando abrimos a vacinação gratuita a faixas etárias mais jovens isso representa um investimento adicional por parte do Estado e terá de ser feita uma avaliação para se saber concretamente qual o custo e o beneficio que houve. Se compensou o investimento feito, porque vacinar população saudável, aquela que não tem comorbilidade ou que não corre maiores riscos de desenvolver complicações, está acima das próprias recomendações da Organização Mundial da Saúde”.


Na nota em que alargava a vacinação gratuita da gripe até aos 50 anos, a DGS dava conta de que esta acontecia por se “observar atividade gripal intensa e excesso de mortalidade”, e por haver “disponibilidade de vacinas”. A mesma nota refere ainda que este alargamento dos grupos elegíveis foi precedido de avaliação da Comissão Técnica de Vacinação Sazonal e que “será ponderado o alargamento a outros grupos etários nas próximas semanas, atendendo à disponibilidade de vacinas, e desde que seja mantido o objetivo de conseguir a melhor cobertura vacinal na população elegível”.


Na resposta ao DN, a DGS destaca que, para o próximo ano,  “é  esperado que se mantenha a faixa dos 60 ou mais anos como grupo etário prioritário para a vacinação, e que a estratégia seja adaptada de acordo com a situação epidemiológica e disponibilidade de vacinas.


Neste momento, a vacinação está disponível em cerca de 3500 pontos - aproximadamente 2500 farmácias e 1000 unidades de cuidados de saúde primários do SNS.