A UNICEF alertou esta terça-feira de que a proibição por Israel da atuação da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA) fará ruir o sistema humanitário em Gaza, lamentando "ter sido encontrada uma nova forma de [ali] matar crianças".
"Se a UNRWA não puder operar, é provável que assistamos ao colapso do sistema humanitário em Gaza", declarou o porta-voz da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), James Elder, explicando que "a UNICEF seria incapaz de eficazmente distribuir ajuda vital", como vacinas, roupa de inverno, 'kits' de higiene, medicamentos e água, entre outros materiais e bens essenciais, em tempo útil.
"Sabemos que estamos mais uma vez às portas da fome", afirmou Elder, sublinhando que a decisão do parlamento israelita de proibir as atividades da UNRWA "significa que foi encontrada uma nova forma de matar crianças" palestinianas na Faixa de Gaza, depois de o comissário-geral da agência especializada da ONU, Philippe Lazzarini, ter alertado para o facto de a medida constituir um "precedente perigoso" que "apenas agrava o sofrimento dos palestinianos".
O projeto de lei israelita impedira, na prática, a organização de operar em território israelita e nos territórios palestinianos, revogando um diploma de 1967 que servia de base à sua atuação, em curso nos últimos 75 anos nos territórios palestinianos.
Em março passado, Israel acusou "um número significativo" de trabalhadores da UNRWA (Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente) de "serem membros de organizações terroristas", o que levou 16 países a suspender ou congelar o seu financiamento, privando de repente aquele organismo de 450 milhões de dólares e pondo em causa a continuidade das suas operações.
Contudo, em meados de abril, a investigação externa liderada pela ex-ministra dos Negócios Estrangeiros francesa, Catherine Colonna, excluiu que as autoridades israelitas tivessem apresentado provas que fundamentassem as alegadas ligações terroristas atribuídas a vários funcionários da UNRWA.
A Faixa de Gaza é cenário de conflito desde 07 de outubro de 2023, data em que Israel ali declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis.
Desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) fez também nesse dia 251 reféns, 97 dos quais continuam em cativeiro, 34 deles entretanto declarados mortos pelo Exército israelita.
A guerra, que hoje entrou no 389.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza 43.061 mortos (quase 2% da população), entre os quais 17.000 menores, e pelo menos 101.190 feridos, além de mais de 10.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
Cerca de 90% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza viram-se obrigados a deslocar-se, muitos deles várias vezes, ao longo de mais de um ano de guerra, encontrando-se em acampamentos apinhados ao longo da costa, praticamente sem acesso a bens de primeira necessidade, como água potável e cuidados de saúde.
O sobrepovoado e pobre enclave palestiniano está mergulhado numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que está a fazer "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.