A Polícia Judiciária explicou no seu comunicado que o modus operandi da operação “Maestro” assenta “na criação de estruturas empresariais complexas, visando a montagem de justificações contratuais, referentes a prestações de serviços e fornecimentos de bens para captação fraudulenta de fundos comunitários no âmbito de, pelo menos, 14 operações aprovadas, na sua maioria, no quadro do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (POCI), executadas desde 2015”.
Através dos referidos 14 projetos cofinanciados pelo FEDER, executados entre 2015 e 2023, os suspeitos conseguiram obter, até ao momento, o pagamento de incentivos no valor global de, pelo menos, 38.938.631,46€ euros - um valor que fontes da investigação admitem ao DN poder já ultrapassar os 50 milhões de euros, pelo menos.
Como já foi referido, a PJ reconhece que “resultaram fortes suspeitas do comprometimento de funcionários de organismos públicos, com violação dos respetivos deveres funcionais e de reserva, na agilização e conformação dos procedimentos relacionados com as candidaturas, pedidos de pagamento e a atividade de gestão de projetos cofinanciados”.
Apesar dos elevados valores em causa nestas fraudes, nem a nem a PJ nem o Sistema de Segurança Interna têm sistematizado e diferenciado este tipo de crime.
Quer o número de inquéritos abertos na PJ, quer o número de participações feitas aos outros órgãos de polícia criminal relacionadas com estas fraudes que lesam os interesses financeiros da UE e do Estado português, são contabilizados em conjunto com as fraudes na obtenção de subsídio a nível nacional.
Ao que o DN conseguiu saber, segundo os dados do SSI que estão a ser preparados para o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) relativos a 2023, neste ano ter-se-á registado uma queda quase para metade destes crimes, categorizados como “fraude, obtenção de subsídio, subvenções, créditos e desvio na sua utilização”.
Fonte oficial da PJ esclareceu, por seu turno, que “nos inquéritos recebidos no âmbito de investigação por fraude na obtenção de subsídio ou subvenção (art.º 36.º do DL n.º 28/84, de 20 de Janeiro - Infrações antieconómicas e contra a saúde pública), os dados que são tratados nesta Polícia englobam tanto os subsídios comunitários como os exclusivamente nacionais, não sendo possível extrair informação estatística desagregada, uma vez que os dados são trabalhados por tipo de crime e não pela natureza do subsídio e/ou subvenção”.
Assim, indica a mesma fonte, em 2020 deram entrada para investigação 66 inquéritos, em 2021 foram 85, em 2022 foram 75 e em 2023 diminuíram para 64.
Na operação “Maestro” participaram 250 inspetores, 32 peritos da Unidade de Perícia Tecnológica e Informática e 24 peritos da Unidade de Perícia Financeira e Contabilística.
Contou, ainda, com a colaboração das Unidades Nacionais, Diretoria do Norte, Diretoria de Lisboa e Vale do Tejo, Diretoria do Centro, Departamentos de Investigação Criminal de Setúbal, Braga, Guarda e Aveiro, além de magistrados judiciais, magistrados do Ministério Público e especialistas do Núcleo de Assessoria Técnica (NAT) da Procuradoria-Geral da República.
O DN tentou contactar, sem efeito e até ao fecho desta edição, Manuel Serrão e Júlio Magalhães, figuras públicas conhecidas.