“Eu sei que muitas vezes se diz que por um se ganha e por um se perde. É verdade, no futebol é assim. Na política não é assim. É que a diferença faz muita diferença, na política. É que quem ganha por poucochinho é capaz de poucochinho. E o que nós temos de fazer não é poucochinho. O que nós temos de fazer é uma grande mudança”.
A frase é de António Costa pouco tempo depois de António José Seguro, em 2014, ter ganho as europeias com 31,46% dos votos e com mais um deputado (ficou 8 a 7) do que a AD.
Em 2013, o então secretário-geral tinha ganhado as autárquicas com 36,26% dos votos.
Um acrescento de Costa: Para o “PS ser alternativa, não lhe basta ganhar”. Os argumentos e o caminho tiveram o apoio do atual secretário-geral socialista - e dos restantes três “jovens turcos”: Pedro Delgado Alves, João Galamba e Duarte Cordeiro que alimentaram a oposição interna ao segurismo - que levaram à queda de Seguro nas eleições internas de setembro de 2014.
A comparação, que começa a ser recorrente, é sublinhada ao DN, por fontes socialistas, que lembram que o “poucochinho” das eleições internas de 2014 repetiu-se ontem (um 8 a 7).
No entanto, nas palavras de Pedro Nuno Santos, foi um resultado que transformou o PS na “primeira força política em Portugal (…) tivemos mais votos e mais mandatos”.
Na realidade, o PS ficou-se por um resultado abaixo do que o de António Costa em 2019 (9 eleitos) e igual ao de António José Seguro - o tal que Costa chamou de “poucochinho” - em 2014 (8 eleitos). E o “mais mandatos” traduz-se no singular: um mandato a mais.
As fontes socialistas, ouvidas pelo DN, que não escondem a insatisfação pelo resultado - “é positivo, mas não se pode estar contente” - , assinalam a gradual “aproximação” do líder socialista, “evidente no domingo”, ao eleitorado do “centro político e social”.
O “esquerdismo” no discurso após as legislativas que se manteve por semanas e semanas num “azedume quase contra tudo” e em garantias de que o PS não iria viabilizar o OE2025 da AD está a dar lugar a uma narrativa “mais moderada” - até por “pressão pública” do Presidente da República que já avisou por diversas vezes para os riscos da “instabilidade” se Pedro Nuno Santos “cumprir o prometido”.
Esta frase -“Não será pelo PS que haverá instabilidade política em Portugal. Não é o Governo que ficou em causa nestas eleições, mas sim uma determinada forma de governar. Essa sim foi derrotada nestas eleições” - foi entendida, por isso, pela fontes ouvidas pelo DN, como “uma inversão” que já “tardava”.
Porém, o “incómodo” existe e foi “visível na falta de mobilização” durante a campanha eleitoral.
A convocação de uns “Estados Gerais” no PS foi recebida com agrado. “Um líder tem que ouvir todos, todas as tendências, não pode fechar-se num círculo restrito de conselheiros. E quem está no parlamento vê e sente como se afasta de muitos deputados”, lamenta um antigo dirigente.
Pedro Nuno Santos justifica a iniciativa com “renovação” à semelhança do que fez na equipa de eurodeputados que o PS tinha desde 2019.
“Nos próximos meses o PS lançará os estados gerais para que nós consigamos construir com o país uma alternativa programática e de poder ao Governo da AD”, adiantou.
Os “estados gerais para a nova maioria” foram uma estratégia de abertura do PS à sociedade civil lançados então por António Guterres quando estava na oposição e que lançaram as bases da sua governação.