Habitação
07 fevereiro 2024 às 00h00
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Estrangeiros compram casas 43% mais caras do que os portugueses

O preço do metro quadrado subiu 10% no terceiro trimestre de 2023, apesar do conjunto ter arrefecido a dinâmica do mercado imobiliário. Bruxelas fala em sobrevalorização das casas. DBRS admite que valores estão no limite.

Os estrangeiros não estão para olhar a custos no momento de adquirir uma casa em Portugal. No terceiro trimestre do ano passado, estes investidores compraram habitações com um valor mediano por metro quadrado de 2297 euros, mais 43,4% do que o montante despendido pelos portugueses (1602 euros). Aliás, o valor gasto pelos compradores nacionais nem sequer chegou aos 1641 euros/m2, o preço mediano que os alojamentos familiares atingiram no país nos meses de verão de 2023 e que traduz um aumento de 10% face ao período homólogo do exercício de 2022, segundo revelou ontem o Instituto Nacional de Estatística.

Os dados do INE permitem também verificar que o investimento em habitação dos estrangeiros é ainda maior no território continental face ao capital que os residentes com domicílio fiscal no país desembolsam. Entre julho e setembro, os investidores estrangeiros gastaram 2312 euros/m2 para comprarem uma casa no continente, quando os nacionais ficaram por 1604 euros, ou seja, despenderam mais 44,1% (o preço mediano no território continental foi de 1643 euros). A título de referência, os estrangeiros estiveram dispostos a gastar cerca de 232 mil euros na aquisição de uma habitação com 100 metros quadrados, enquanto as famílias portuguesas ficaram pouco acima dos 160 mil.

Esta discrepância entre o capital aplicado por cidadãos nacionais e os de outras nacionalidades no momento de fecharem a compra de uma casa estendeu-se também às regiões autónomas. Na Madeira, as casas adquiridas por estrangeiros atingiram um valor mediano de 2669 euros, superior à do país no seu todo e ao continente. Nesta região, as famílias nacionais que compraram residência no terceiro trimestre de 2023 gastaram uma média de 2060 euros/m2, menos 29,6% do que foi gasto pelos estrangeiros. Nos Açores, a diferença é bastante menor, fixando-se nos 9,6%.

Nos territórios onde é mais caro adquirir casa, os estrangeiros não deixaram de elevar a fasquia para assegurarem a transação e nem mesmo os portugueses, embora sem a mesma exuberância de capital. Na Grande Lisboa, os preços medianos envolvendo compradores estrangeiros atingiram os 5000 euros/m2, mais 83,4% face aos 2727 euros/m2 custeados pelos nacionais. Na Área Metropolitana do Porto, o diferencial foi de 56,8%, ou seja, os estrangeiros gastaram uma média de 2933 euros/m2 e os nacionais ficaram-se pelos 1870 euros. Na Península de Setúbal, os residentes no país dispuseram-se a gastar 1932 euros/m2, montante superado em 21% pelos cidadãos de outras nacionalidades (2335 euros/m2).

Lisboa abaixo da média

Apesar do aumento do custo de vida e da subida das taxas de juro, que travaram muitas intenções de compra de casa, os preços da habitação no país continuaram a subir. Como já referido, o valor mediano do metro quadrado atingiu os 1641 euros entre julho e setembro do ano passado, o que traduz um aumento de 10% face ao mesmo período de 2022.

No entanto, e talvez num sinal de abrandamento do mercado, só aumentou 0,7% quando comparado com o trimestre anterior. Ainda há poucas semanas, Bruxelas considerou que o preço das casas em Portugal está fortemente sobrevalorizado. E, esta segunda feira, a agência de notação financeira DBRS alertou que estavam a chegar ao limite.

A realidade das estatísticas assim o parece demonstrar. Nestes meses em análise, o custo da habitação nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto (exceção a Santa Maria da Feira e Gondomar) superou (e muito) a referencia nacional. Entre os municípios mais caros para adquirir residência, destacou-se Lisboa, com um preço de 4167 euros/m2, Cascais ((4045 euros/m2), Oeiras (3216 euros/m2) e Porto (3104 euros/m2).

Entre os 17 concelhos destas áreas metropolitanas, nove registaram taxas de variação homólogas superiores 10%, com Matosinhos a apresentar um aumento no custo do metro quadrado de 23,3%, o Porto de 19,2% e Cascais de 17,1%. Mas, em sentido contrário, há a realçar as subidas abaixo da média nacional de Lisboa, 7,3%, de Oeiras (4,7%), Odivelas (6,7%), Loures (9,4%), Vila Franca de Xira (9,6%), Gondomar (5,8%) e Mais (5,5%).

Na análise às vendas realizadas nos 12 meses terminados em setembro de 2023, o custo mediano das habitações em Portugal foi 1579 euros/m2, um aumento de 2,5% relativamente ao ano acabado no trimestre anterior e 9,2% relativamente ao ano findo no trimestre homólogo.

Acima do referência nacional, destacaram-se a Grande Lisboa (2691 euros/m2), Algarve (2564 euros/m2), Madeira (1875 euros/m2), Península de Setúbal (1856 euros/m2) e Área Metropolitana do Porto (1766 euros/m2).

sonia.s.pereira@dinheirovivo.pt

Tópicos: Dinheiro, Habitação