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Política
24 agosto 2024 às 00h02
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O que Leonor Beleza e Guterres têm em comum? Estão na lista dos “presidenciáveis”

São candidatos “situacionistas” e há circunstâncias que merecem atenção: ser mulher é um ponto que “distingue” e o apoio do partido é determinante. Sobre isto, o DN falou com os politólogos Adelino Maltez, Paula do Espírito Santo e Manuel Villaverde Cabral.

O tema foi ressuscitado pelo secretário-geral do PSD, Hugo Soares, quando, numa entrevista ao semanário Expresso, falou em Leonor Beleza, a antiga ministra da Saúde, como “uma excelente candidata” à Presidência da República. Entre nomes que parecem mais prováveis do que outros, o DN ouviu os politólogos José Adelino Maltez, Paula do Espírito Santo e Manuel Villaverde Cabral sobre qual será o futuro da mais alta figura do Estado em 2026.

“Estamos a falar de candidatos adeptos do situacionismo. Daqui a uns anos, os nomes deles vão ser como os daquelas ruas de cidades como Lisboa”, que são de pessoas que ninguém conhece, descreve Adelino Maltez.

Paulo Spranger/ Global Imagens
Pedro Passos Coelho foi primeiro-ministro entre 2011 e 2015.

“Pouca diferença faz alguém do PSD ou alguém do PS”, adianta, enquanto explica que Hugo Soares “foi ao arquivo e descobriu que, ali, Leonor Beleza ainda estava disponível. E como é mulher ninguém vai dizer que ela era colega do Marcelo Rebelo Sousa”, isto é, “que já tem uma certa idade”.

Os nomes que podem integrar a lista dos “presidenciáveis”, de acordo com Adelino Maltez e ainda à revelia dos partidos, podem chegar às dezenas, se se recorrer a antigos governantes das duas fações, mas os mais prováveis, para já, à distância de dois anos das eleições são, no espetro do PSD - para além de Leonor Beleza -, o antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, o autarca da Figueira da Foz, Pedro Santana Lopes, e o antigo presidente do partido Luís Marques Mendes.

Pedro Correia/Global Imagens
Luís Marques Mendes é comentador político e foi presidente do PSD.

Pelo PS, surgem o atual secretário-geral da ONU, António Guterres, o ex-primeiro-ministro, António Costa, o ex-presidente da Assembleia da República Augusto Santos Silva, e o antigo governante socialista António Vitorino.

“O problema de todos eles é uma coisa muito simples e muito negativa: a idade”, destaca Adelino Maltez, acrescentando que “são todos setentões, quase, ou estarão próximos disso”.

Nuno Brites / Global Imagens
Pedro Santana Lopes foi primeiro-ministro e lidera o executivo municipal da Figueire da Foz.

“Não podemos eleger um presidente com 30 ou 40 anos?”, pergunta de forma retórica o professor, acrescentando que ainda “pode aparecer alguém com ambição”. “Em dois anos consegue-se conquistar um país.”

E surge assim um outro nome: “O [André] Ventura foi das poucas novidades geracionais”, explica Adelino Maltez. “Mas podemos, dentro de dois anos, estar a falar de uma figura morta. Não é nada impossível, porque ele é plástico, e o plástico derrete”, considera, recorrendo à metáfora.

Rui Oliveira/Global Imagens
Augusto Santos Silva foi o anterior presidente da Assembleia da República.

“É preciso também que haja recetividade do partido”, defende Paula do Espírito Santo, questionada sobre se faria sentido uma candidatura de Luís Marques Mendes, que até tem feito um percurso muito semelhante ao de Marcelo Rebelo de Sousa.

“Ele já se tinha autoindicado num programa há uns meses, mas o partido não teve reação” lembra a professora e investigadora em Ciência Política. “Não houve ninguém a desencadear um suporte”, pelo que a candidatura do comentador político pode não ser assim tão provável.

MANAUI FAULALO/AFP
António Guterres é atualmente o secretário-geral da ONU e foi primeiro-ministro.

Em relação a Leonor Beleza, há vantagens: “É ser mulher, e, no espetro do plano da campanha, pode-se dizer que a nível presidencial pode ser novidade”, continua.  “Não novidade por ser uma mulher a candidatar-se, porque já Ana Gomes e Marisa Matias” o tinham feito. De qualquer modo, explica a professora, é importante “ser alguém que tenha o partido unido em torno de si”. Aqui, ser mulher “pode contar também em favor, porque é um elemento que distingue”, conclui.

Também Durão Barroso parece improvável, porque, diz Paula do Espírito Santo, “não tem estado muito presente, quer do ponto de vista mediático, porque há pessoas que fazem comentário, há pessoas que têm mais visibilidade pública, até do ponto de vista do partido”. Aqui, Santana Lopes estaria à frente, porque tem aparecido.

KENZO TRIBOUILLARD / AFP
António Costa vai presidir o Conselho Europeu a partir de dezembro e foi primeiro-ministro.

Mas Pedro Passos Coelho é um nome que não deve ser esquecido nesta corrida. Está atento à atualidade política e participou na campanha social-democrata para as Legislativas.

Pelo PS, os nomes com mais poder são também os mais improváveis de se candidatarem, pelos cargos que ocupam: António Costa lidera o Conselho Europeu até 2026, num mandato que termina já depois das Presidenciais, e António Guterres sofre do mesmo mal, mas com a liderança da ONU.

FABRICE COFFRINI / AFP
António Vitorino dirigiu durante seis anos a Organização Internacional para as Migrações e foi ministro da Defesa.

Quanto ao primeiro, “não terá a ideia peregrina de se apresentar à Presidência depois de ter apresentado a demissão”, defende Manuel Villaverde Cabral. Em relação ao segundo, peca pela “volubilidade das suas opiniões, sendo de esperar que o seu comportamento político seja devidamente discutido. Porque é que se foi embora”, questiona, sem resposta, o professor. Em relação a Santos Silva, sofre de um “partidarismo inaceitável”, o que compromete o cargo que poderia vir a ocupar.

Sobre António Vitorino, Manuel Villaverde Cabral considera que “é conhecido pelos seus múltiplos jobs nacionais e internacionais, nunca tendo tido nenhuma popularidade”.

Em jeito de remate, o professor de ciência política questiona o “grosseiro erro constitucional de nomear os Presidentes da República diretamente pelos eleitores”.

“São poucos os países europeus que fazem isso ou então governam eles!”, propõe.

Em relação às próximas Presidenciais, o PS terá um candidato, “ao contrário do que aconteceu nas duas últimas eleições”, garantiu ontem o líder do partido, Pedro Nuno Santos. “É certinho!”, afirmou.

Sobre potenciais candidaturas, o DN contactou Leonor Beleza, que manteve o silêncio.