Jogos Olímpicos
01 agosto 2024 às 17h06
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Polémica no boxe com pugilista intersexo argelina: "Nunca senti um murro assim"

Italiana retirou-se aos 46 segundos após um golpe de Imane Khelif e até Giorgia Meloni, a primeira-ministra de Itália, protestou: "Não estavam em pé de igualdade"

A pugilista argelina Imane Khelif, que falhou um teste de elegibilidade de género no ano passado, derrotou a sua adversária italiana Angela Carini em apenas 46 segundos nos Jogos Olímpicos de Paris, nesta quinta-feira, com a controvérsia a ameaçar ensombrar a competição.

Angela Carini, perturbada e magoada, rejeitou as tentativas de Khelif para apertarem mãos no final, com a italiana a cair de joelhos e chorar incontrolavelmente no meio do ringue.

Khelif avançou para os quartos de final da categoria feminina de 66 kg depois de desferir dois fortes golpes em Carini, cujo sangue era visível nos calções após lesão grave no nariz provocada pelo primeiro murro de Khelif.

O caso provocou até uma reação imediata da Primeira-Ministra italiana, Giorgia Meloni, que afirmou que o combate "não aconteceu em pé de igualdade".

"Tenho uma grande dor no nariz e disse: 'Pára'. É melhor não continuar. O meu nariz começou a pingar (com sangue) desde o primeiro golpe. Nunca senti um murro assim. Doeu muitíssimo", disse a angustiada Carini, que também se desfez em lágrimas ao falar com os jornalistas.

"Lutei muitas vezes com homens na seleção nacional. Treino com o meu irmão. Sempre lutei contra homens, mas hoje senti demasiadas dores", lamentou a italiana.

Tanto a argenlina Khelif como Lin Yu-ting, de Taiwan, que combate na sexta-feira, na categoria de 57 kg, foram desclassificadas dos campeonatos do mundo no ano passado, mas consideradas elegíveis para lutar na competição olímpica em Paris.

No ano passado, Khelif, de 25 anos, foi desclassificada devido a "níveis elevados de testosterona que não cumpriram os critérios de elegibilidade".

"Não estou de acordo com o COI", criticou a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, durante um encontro com atletas italianos em Paris. "Penso que os atletas que têm características genéticas masculinas não devem ser admitidos nas competições femininas".

Reem Alsalem, relatora especial da ONU sobre a violência contra as mulheres e as raparigas, escreveu no X que Carini "e outras atletas do sexo feminino não deveriam ter sido expostas a esta violência física e psicológica com base no seu sexo".

O porta-voz do Comité Olímpico Internacional, Mark Adams, disse esta semana que "todas as pessoas que competem na categoria feminina estão a cumprir as regras de elegibilidade da competição." "São mulheres nos seus passaportes e está lá escrito que são mulheres", acrescentou.

"Mentiras", reagem argelinos

Khelif foi muito aplaudida quando entrou no North Paris Arena, onde se encontravam muitos adeptos argelinos com a bandeira do país. Antes e durante o breve combate, gritaram o seu nome, mas a ação terminou rapidamente.

No final, Khelif parou apenas por breves instantes para falar com os jornalistas: "É sempre gratificante ganhar numa competição tão importante, mas continuo concentrada no meu objetivo de ganhar uma medalha."

O Comité Olímpico da Argélia (COA) condenou aquilo a que chamou "ataques maliciosos e pouco éticos dirigidos contra a nossa ilustre atleta, Imane Khelif, por alguns meios de comunicação social estrangeiros". O COA criticou as "mentiras" que são "completamente injustas".

Pelo menos uma mulher pugilista presente nos Jogos falou sobre a situação. A australiana Caitlin Parker está na categoria de 75 kg e não vai enfrentar Khelif ou Lin, mas deixou clara a sua posição sobre a polémica. "Não concordo que isso seja permitido, especialmente em desportos de combate, porque pode ser incrivelmente perigoso", afirmou.