Em Portugal as principais alterações, dadas pelo estudo, são a subida da extrema-direita, podendo eleger quatro eurodeputados, e a perda de três eurodeputados no grupo da Esquerda, que na anterior eleição tinham eleito dois do BE e dois da CDU.
O grupo da esquerda tem um desempenho desigual, subindo significativamente na Irlanda e Alemanha, e descendo em Portugal, por exemplo. No entanto, fica por saber se se passará assim, porque ainda não é claro em que grupo europeu se vai incorporar o novo partido de esquerda alemão anti-imigrante e a coligação espanhola Sumar.
Sobre a subida da extrema-direita em Portugal, Almeida Ribeiro, diretor da empresa de sondagens Aximage caracteriza, para o DN, as regras que têm mapeado a política portuguesa.
“O eleitorado português está dividido em em dois hemisférios: esquerda e direita. E dentro da direita está a ocorrer um fenómeno de transferência de pessoas e votantes para as novas formações políticas. E verdadeiramente a única novidade é o Chega – no estilo, na linguagem, nos temas e fixou-se naquilo que as pessoas querem ouvir e não naquilo que os líderes querem dizer. Esta é uma característica clássica destes partidos populistas e de extrema-direita. É uma das coisas que explica a atração que eles exercem sobre o eleitorado jovem: são novidade, dizem as coisas de uma forma não habitual , hostil e provocatória.”
Para Almeida Ribeiro, as nossas sociedades reconfiguram-se e estilhaçaram-se. “As sociedades contemporâneas modernas fragmentaram-se e tribalizaram-se. Isso tem muito que ver devido a não serem tão homogéneas e aos próprios dispositivos de comunicação e as redes sociais.”
Os conflitos sociais deixaram muitas vezes de serem expressão das desigualdades económicas, defende o diretor da Aximage. “Hoje os fenómenos ligados à pobreza e às desigualdade estão mais associados aos subúrbios , à imigração e a franjas de população que não constituem o grosso do eleitorado. Por isso é que eu não associo o crescimento da extrema-direita a questões económicas , como tradicionalmente se pensava, em países industrializados que tinham uma classe operária forte e partidos que representavam esses setores. As sociedades alteraram-se.”
Uma das bandeiras da extrema-direita populista é o perigo da imigração, mas se formos a ver as estatísticas são menos de 7% os emigrantes fora da Europa na União Europeia. Sobre isso, Almeida Ribeiro alerta que há pesos diferentes e superiores em outros países e afirma que, mais que sobre factos, a extrema-direita concentra-se no medo que projeta.
“Enquanto os partidos políticos de protesto tradicional exploravam as questões relacionadas com a exploração, os partidos populistas de extrema-direita exploram o medo. Todo o discurso deles é para provocar medo e emoções e transformar isso em voto. Isso é um dos segredos da sua atratividade”.
Para o diretor da Aximage ainda não se atingiu o limite do crescimento do Chega em Portugal.
“É possível um cenário em que o Chega ultrapassa a AD. Há sempre um cisne negro à espera. Os sinais estão à vista, não só o número de votos, mas da transferência de pessoas dos partidos tradicionais de direita para o Chega”.
Os resultados das próximas eleições no Parlamento Europeu podem servir de precursor para outras eleições nos Estados-Membros, incluindo na Áustria, Alemanha e França.
Na Áustria, qualquer aumento de apoio ao FPÖ pode prolongar-se até às eleições nacionais, previstas para outubro de 2024, enquanto o desempenho da AfD alemã, nas europeias, pode dar mais força à extrema-direita germânica para as eleições parlamentares em 2025. Entretanto, a França encontra-se num momento crucial. No meio de uma taxa de desaprovação de 70% do Governo de Emmanuel Macron e de um apoio crescente ao partido de direita radical de Marine Le Pen, o Presidente francês remodelou recentemente o seu Executivo, marcando uma mudança pronunciada para a direita, adotando medidas restritivas para a imigração. Estas medidas , juntamente com os resultados das eleições europeias de junho, poderão marcar o tom das eleições presidenciais do país em 2027.