Deportações em massa de imigrantes. Mulheres sem direito ao voto e proibidas do acesso à internet. Proibição do aborto em todos as situações - incluindo violações. Dificultar o divórcio. Proibir casamento de portugueses com brasileiras. São algumas das ideias amplamente difundidas por dois grupos de ódio que promoveram uma ampla campanha a favor do Chega nas últimas legislativas, com um objetivo maior: preparar o terreno para a implementação destas ideias no futuro, com ações já em andamento.
Estamos a falar da Reconquista, um grupo ultranacionalista formado por homens portugueses jovens, sob o comando de Afonso Gonçalves, e do 1143, do neonazi Mário Machado. Além de uma grande discriminação no campo dos direitos das mulheres, ambos difundem ideias semelhantes relacionadas com a imigração e propagam a teoria da “Grande Substituição”, que é falsa e motivadora de massacres pelo mundo, admiram os ditadores Salazar e Adolf Hitler. O DN investigou os grupos durante meses e observou uma forte campanha eleitoral pelo Chega.
“As ideias políticas têm ciclos de maturação e evolução; movimentos como a Reconquista estão a preparar o terreno cultural para que partidos como o CHEGA possam assumir posições mais resolutas na questão demográfica. A maioria das pessoas do partido Chega concorda connosco na questão da imigração, mas por uma ou outra razão determinou-se que não era essa a estratégia comunicacional mais inteligente”, escreveu Afonso Gonçalves na rede social Telegram, onde listou os motivos para votar no partido.
O mesmo anunciou publicamente esse apoio e possui relação com vários membros da juventude do partido. É o caso do supremacista branco João Antunes, Ricardo Reis, integrante da Direção Nacional do Chega Juventude e Francisco Araújo - que foi orador num congresso da Reconquista.
Já no grupo 1143, o apoio ao Chega reúne a maioria dos membros, apesar de não ser consensual. O líder Mário Machado declarou o voto no partido. Há membros que votaram no ADN e Ergue-te, por considerar o Chega um partido “pouco radical”. O DN ouviu mais de duas dezenas de horas de debate no X (antigo Twitter) e acompanhou meses de conversa no chat do Telegram em que as eleições foram tema recorrente. A maior parte dos militantes concorda com as ideias do partido na área de imigração e entendem que é um “início”para alterações na lei mais radicais.