Restaurante
16 janeiro 2024 às 07h00
Leitura: 6 min

Jantar com os chefs na cave

O 2Monkeys propõe juntar a criatividade de dois chefs num menu de alta gastronomia servido ao balcão.

Se a localização do restaurante não é das mais óbvias, o nome de um dos dois chefs, Vítor Matos, que está à frente do restaurante 2Monkeys dá indicações daquilo que nos fazem chegar ao prato. Mas vamos por partes. O Torel Palace Lisbon fica na Rua Câmara Pestana, localizado numa das colinas da cidade (perto do Jardim do Torel) com entrada por um discreto portão que não deixa antever a vista privilegiada do hotel sobre a cidade. A mesma vista levou-o à distinção, em agosto de 2023, como Hotel com Melhor Vista em Portugal pelos prémios internacionais Haute Grandeur Global Awards.


O Torel, que para além de quartos tem apartamentos, foi inaugurado em 2013 e divide-se dois palacetes históricos datados de 1902 e 1904, um edifício moderno de apartamentos e, desde outubro de 2023, integra ainda o Lavra Palace - um palacete secular que é monumento nacional. Além disso, tem dois restaurantes com conceitos distintos: o descontraído Black Pavilion e o 2Monkeys - o objetivo destas linhas.


O hotel faz parte do Grupo Torel Boutiques que, no Porto, tem mais três unidades: Torel Avantgarde, Torel 1884 e o Torel Palace Porto. E é neste último que encontramos o restaurante Blind, o poiso principal de Vítor Matos, o chef que agora divide a criatividade gastronómica do 2Monkeys com o jovem chef Francisco Quintas. Vítor Matos tem no seu percurso, feito entre Portugal e Suíça, uma estrela Michelin - quando estava no restaurante Largo do Paço, em Amarante e outra, atual, no restaurante Antiqvm, também no Porto. Em 2003 recebeu a distinção Chefe Cozinha do Ano e, entre outros, o prémio Chefs de l’Avenir  da Academia Internacional de Gastronomia, em Paris, recebido em 2011.

Foto de Carlos Vieira

Já Francisco Quintas, antes de integrar a equipa do restaurante 2Monkeys esteve nas cozinhas do Aquevit de Londres(que entretanto fechou as portas), no Boury, na Bélgica, e do De Librije, nos Países Baixos - ambos com três estrelas Michelin. E ainda foi sous-chef  no restaurante Likoke, em França. Em Portugal esteve ainda no Largo do Paço, em Amarante.

O 2Monkeys é um restaurante de alta gastronomia localizado no espaço de uma cave que os promotores do Torel decidiram transformar num pequeno restaurante, com 14 lugares ao balcão onde é possível ver o “bailado” de chefs, sous-chefs e demais cozinheiros no processo de confeção e preparação do que é servido. O chef  Vítor Matos explica que o objetivo  é proporcionar uma experiência de qualidade num “ambiente descontraído, que convida à interação, onde os clientes se sentem dentro da cozinha e acompanham todo o processo”.

O chef Francisco Quintas e o chef Vítor Matos.
Foto de Carlos Vieira

A comida
Sentados no balcão em forma de U a comida foi colocada à nossa frente, ora explicada pelo chef Francisco Quintas - que está todos os dias no restaurante -, ora por outros membros  da sua equipa. Como é um restaurante que funciona apenas com menu de degustação e, importante nos tempos que correm, fica um aviso: não é para vegetarianos, não há essa opção.

O menu é composto por 13 momentos, incluindo doces e pão.Começa com carne Waygu com chalotas e gema curada e rabanete; Sapateira com abacate, ovas de truta e maçã verde; Gamba violeta; Pão de trigo barbela com várias manteigas; Chawanmushi (creme de ovo) de cebola; Fois gras; Carabineiro com alho branco; Pescada com caviar Baeri, beurre blanc e couve-flor, cebolinho e agrião; Pombo royal de Anjou; Waffle de massa mãe; Arroz crocante com citrinos, coco e manga e, para acompanhar o café, petit fours.

A experiência, que junta dois chefs com experiências bem diferentes, e onde são evidentes as influências da cozinha asiática e francesa, tem o preço de 150 euros. A que acrescem mais 100 se optar pelo menu de degustação de vinhos.

Na visita do DN essa experiência foi traduzida na prova de nove vinhos, entre os quais um espumante e dois moscatéis. Jantar ao balcão, ou dentro na cozinha como preferem dizer os responsáveis do restaurante, é menos intimista do que num restaurante convencional, mas é um convite à conversa e à troca de ideias com quem nos serve. Saber mais sobre o porquê dos ingredientes e conhecer melhor o produto e tentar levar a conversa para lá do discurso em que tudo circula em redor da importância do terroir, das memórias de infância e a sazonalidade dos produtos. Comer (e beber) é tudo isso, mas pode ser também pelo simples prazer de comer e beber bem.