Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza
17 outubro 2024 às 00h01
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Ao fim de uma década, risco de pobreza sobe e pobres estão pior

Os dados são de 2022 e demonstram que os pobres ficaram ainda mais pobres ao fim de dez anos. E não conseguem fazer por melhorar de vida.

No Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que se assinala esta quinta-feira, a Pordata atualizou o atual panorama e a evolução do país nesta área e a conclusão é só uma: este continua a ser “um dos desafios mais urgentes que o país enfrenta”, como se pode ler no trabalho dos especialistas da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Desde logo porque, pela primeira vez em sete anos, a taxa de risco de pobreza - após transferências sociais - registou uma “ligeira subida”, de 0,6 pontos percentuais, “passando de 16,4% para 17%”. Isto em 2022, data mais recente em que há dados.

Além disso, é no grupo de crianças e jovens menores de 18 anos que a taxa de risco de pobreza “mais se agravou”, situando-se nos 20,7% naquele ano, mais 2,2 pontos percentuais face ao ano anterior, conforme o retrato da evolução da pobreza do nosso país traçado pela base de dados estatísticos da Pordata, hoje conhecido.

Os menores de 18 anos evidenciam também “maior vulnerabilidade”, uma vez que apresentam taxas de risco de pobreza superiores ao conjunto nacional e aos outros grupos etários.

São as famílias monoparentais com crianças e as pessoas que vivem sozinhas que apresentam maiores fragilidades. “Quase uma em cada três famílias monoparentais (31,2%) vive com menos de 591 euros por mês, já incluindo as transferências sociais recebidas”, retrata a Pordata, referindo que “em praticamente todos os diferentes agregados domésticos com crianças dependentes se registou um agravamento na taxa de pobreza de um ano para o outro”.

Com base nos dados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (ICOR), em 2022 “1,9 milhões de pessoas em Portugal encontravam-se em risco de pobreza, ou seja, viviam com rendimentos inferiores a 591 euros mensais”. Um valor que  aumenta para “2,1 milhões de pessoas se se considerar a população que não tem capacidade financeira para adquirir bens essenciais (risco de pobreza e exclusão social)”, explica ainda o documento da Pordata. 

Pobres mais pobres

O retrato demonstra igualmente que quem é pobre só piorou a sua situação numa década. “Olhando para a intensidade da pobreza, verifica-se o maior aumento desde 2012”, em 3,9 pontos percentuais, situando-se nos 25,6% em 2022. No ano anterior, este indicador situava-se nos 21,7%.  “Em Portugal, metade dos pobres tinham, em 2022, um rendimento monetário disponível 25,6% abaixo da linha de pobreza e esta profundidade aumentou face a 2021”, conclui a Pordata. 

O que também regista um aumento é a incidência da pobreza  na população desempregada. “Tinha diminuído entre 2020 e 2021, voltou a registar uma subida de 3,3 p.p. face a 2021, aliás uma das subidas mais elevadas da última década (com exceção do ano de pandemia) sendo a mais elevada entre a população portuguesa (46,7%), permanecendo assim o desemprego, como um dos principais fatores de pobreza”, lê-se no documento.

Já a proporção da população empregada que vive em situação de pobreza “diminuiu de 10,3% para 10%, e tem-se mantido próxima destes valores na última década”. “Haver um em cada dez indivíduos que, apesar de ter emprego, é pobre, deve ser encarado, a par dos valores de outros indicadores, como um fator de preocupação”, considera a Pordata.

Uma em cada cinco pessoas em risco de pobreza

Comparando com os países da União Europeia (UE), os números não são menos preocupantes.

“Em Portugal, uma em cada cinco pessoas vive em risco de pobreza ou exclusão social. Entre os 27 Estados-membros da UE, esta é a 13.ª maior taxa de risco de pobreza ou exclusão social”, lê-se no documento da Pordata.

Portugal sobressai ainda pela negativa no que diz respeito à dificuldade económica de assegurar conforto térmico das casas.  “De facto, Portugal - a par da Espanha - reporta a mais elevada proporção de pessoas a viver em agregados sem capacidade para manter a casa adequadamente aquecida”, assinala a Pordata.

É referido que “são 20,8% das pessoas, ou seja, uma em cada cinco sem dinheiro para aquecer a casa”. “No extremo oposto do ranking europeu, só 2,1% dos luxemburgueses reportam esta dificuldade económica”, compara o documento.